São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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Atletas buscam mercado negro para ter bacon

DA REPORTAGEM LOCAL

Os dirigentes ajudam a atenuar o choque cultural, os salários são atraentes, a acolhida dos companheiros de equipe é calorosa.
Parece um cenário perfeito, mas os jogadores dos EUA que rumaram para o Irã também têm motivos para queixas. E elas brotam logo no café da manhã.
Fãs de bacon, alimento ilegal no Irã, alguns norte-americanos precisaram apelar para o contrabando para saciar o apetite.
"Simplesmente não vivo sem bacon. Antes de vir para cá, não lembro de ter ficado um dia sem comer umas 20 fatias pela manhã. Conversando com amigos, descobri que poderia encontrá-lo no mercado negro. Mas o preço é de doer", afirma Garth Joseph, que teve curta passagem pela NBA, a milionária liga profissional dos EUA, na qual defendeu com pouquíssimo brilho o Toronto Raptors e o Denver Nuggets.
Cada 250 gramas, segundo informa o jogador, custam US$ 20. Certa vez, foi à periferia de Teerã para se certificar de que não estava sendo enganado. "Só que não deu muito certo. Imagine um negão de dois metros de altura no meio de um mercadinho ilegal cheio de mulheres vestidas com burca."
O valor da carne de porco, proibida no país porque o animal é considerado "impuro" pelos muçulmanos, também gera protestos do colega Andre Pitts. "É tão caro que eu tentei me adaptar aos pratos locais. Mesmo assim, ainda preciso comprar muitos pedaços por meios não convencionais", explica.
Como compensação, Pitts pode se gabar de também ter dado um pouco de dor de cabeça para os dirigentes locais. Os dois brincos de diamantes que carrega nas orelhas e as nove tatuagens espalhadas pelo corpo o transformaram em um problema para dirigentes. Tudo porque alguns colegas de time decidiram imitar seu estilo. "Vários já fizeram tatuagens. Eles precisam ocultá-las, porque é proibido por aqui."
O atleta conta que torcedores, especialmente os mais jovens, costumam ir aos treinos e o bombardeiam com perguntas sobre como marcar a pele com desenhos.
"Não posso dar conselhos desse tipo. Sempre que um garoto me faz perguntas desse tipo eu peço para conversar com seus pais."
O frisson descrito por Pitts pode soar exagerado. Mas, coincidência ou não, a Federação Iraniana de Basquete emitiu um comunicado no final do ano passado condenando o uso de tatuagens e exortando os atletas locais a não copiarem os forasteiros. (GR)


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