São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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CRISE
Apesar de choques em La Paz, violência diminui no país; trabalhadores fazem greve hoje contra estado de sítio
Acordo acalma protestos na Bolívia

das agências internacionais

O governo da Bolívia chegou a um acordo com manifestantes que pode levar ao fim dos choques que deixaram ao menos 9 mortos e 40 feridos no país desde o fim-de-semana.
"O acordo evitou um grande banho de sangue em Cochabamba, porque as decisões já estavam tomadas", afirmou ontem o vice-ministro do Interior, José Orías.
Apesar de ele não ter revelado o teor das decisões do presidente Hugo Banzer, as aparências indicam que ele estava disposto a utilizar a força do Exército para controlar a revolta popular.
No sábado, Banzer decretou estado de sítio, previsto para durar 90 dias. O estopim das manifestações foi um projeto para a construção de um reservatório de água que custaria US$ 200 milhões e provocaria reajustes de 35% nas tarifas. A privatização do sistema de abastecimento de água prejudicaria principalmente a população camponesa, que atualmente não paga pelo fornecimento.
O acordo firmado na noite de segunda-feira prevê a rescisão do contrato com o consórcio internacional Águas de Tunari, que construiria o reservatório. Os manifestantes se comprometeram a relaxar os bloqueios feitos em estradas do país a medida que forem aprovadas modificações na Lei das Águas- o Senado trabalhava nesse projeto de lei ontem- e na legislação sobre propriedades agrícolas.
O governo também prometeu libertar cerca de 20 pessoas detidas durante os protestos no país.
Até a tarde de ontem, porém, camponeses continuavam a dificultar o tráfego jogando pedras nas estradas. Cidades como a capital La Paz, Oruro e Cochabamba continuavam isoladas pelos bloqueios rodoviários, e parte do país já sofria desabastecimento.
O acordo trouxe um clima de relativa normalidade ontem a Cochabamba, um dos epicentros da crise -sem enfrentamentos, mas com milhares de camponeses reunidos à espera da votação da Lei das Águas.
A manutenção do estado de emergência -que dá a Banzer poderes especiais para utilizar a polícia e soldados na repressão dos atos públicos- continuava a alimentar ontem a revolta dos opositores do governo.
Partidos de oposição, estudantes e camponeses pediram a volta à normalidade. A maior central sindical do país, a Central Operária Boliviana, convocou uma greve geral para hoje "contra o estado de sítio e pelo fim da violência e do massacre contra os camponeses".
Banzer, porém, parecia disposto a seguir coibindo os protestos com firmeza. O presidente substituiu um civil por um militar de alta patente no cargo de governador do Departamento de La Paz.
Em sua posse, o general Walter Céspedes prometeu "pacificar Cochabamba e ajudar no cumprimento das leis vigentes".

Conflito na capital
Embora as negociações tenham trazido uma perspectiva de pacificação, protestos estudantis contra o estado de sítio imposto pelo presidente terminaram em cenas de violência ontem em La Paz.
A polícia reprimiu com gás lacrimogêneo e disparos com balas recobertas de borracha centenas de universitários que, além de criticar o estado de exceção, exigiam um aumento no orçamento destinado à educação. Pelo menos 15 manifestantes ficaram feridos e cerca de 50 foram presos.


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