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CRISE
Apesar de choques em La Paz, violência diminui no país; trabalhadores fazem greve hoje contra estado de sítio
Acordo acalma protestos na Bolívia
das agências internacionais
O governo da Bolívia chegou a
um acordo com manifestantes
que pode levar ao fim dos choques que deixaram ao menos 9
mortos e 40 feridos no país desde
o fim-de-semana.
"O acordo evitou um grande
banho de sangue em Cochabamba, porque as decisões já estavam
tomadas", afirmou ontem o vice-ministro do Interior, José Orías.
Apesar de ele não ter revelado o
teor das decisões do presidente
Hugo Banzer, as aparências indicam que ele estava disposto a utilizar a força do Exército para controlar a revolta popular.
No sábado, Banzer decretou estado de sítio, previsto para durar
90 dias. O estopim das manifestações foi um projeto para a construção de um reservatório de água
que custaria US$ 200 milhões e
provocaria reajustes de 35% nas
tarifas. A privatização do sistema
de abastecimento de água prejudicaria principalmente a população camponesa, que atualmente
não paga pelo fornecimento.
O acordo firmado na noite de
segunda-feira prevê a rescisão do
contrato com o consórcio internacional Águas de Tunari, que
construiria o reservatório. Os manifestantes se comprometeram a
relaxar os bloqueios feitos em estradas do país a medida que forem aprovadas modificações na
Lei das Águas- o Senado trabalhava nesse projeto de lei ontem- e na legislação sobre propriedades agrícolas.
O governo também prometeu
libertar cerca de 20 pessoas detidas durante os protestos no país.
Até a tarde de ontem, porém,
camponeses continuavam a dificultar o tráfego jogando pedras
nas estradas. Cidades como a capital La Paz, Oruro e Cochabamba continuavam isoladas pelos
bloqueios rodoviários, e parte do
país já sofria desabastecimento.
O acordo trouxe um clima de
relativa normalidade ontem a Cochabamba, um dos epicentros da
crise -sem enfrentamentos, mas
com milhares de camponeses
reunidos à espera da votação da
Lei das Águas.
A manutenção do estado de
emergência -que dá a Banzer
poderes especiais para utilizar a
polícia e soldados na repressão
dos atos públicos- continuava a
alimentar ontem a revolta dos
opositores do governo.
Partidos de oposição, estudantes e camponeses pediram a volta
à normalidade. A maior central
sindical do país, a Central Operária Boliviana, convocou uma greve geral para hoje "contra o estado de sítio e pelo fim da violência
e do massacre contra os camponeses".
Banzer, porém, parecia disposto a seguir coibindo os protestos
com firmeza. O presidente substituiu um civil por um militar de alta patente no cargo de governador do Departamento de La Paz.
Em sua posse, o general Walter
Céspedes prometeu "pacificar
Cochabamba e ajudar no cumprimento das leis vigentes".
Conflito na capital
Embora as negociações tenham
trazido uma perspectiva de pacificação, protestos estudantis contra
o estado de sítio imposto pelo
presidente terminaram em cenas
de violência ontem em La Paz.
A polícia reprimiu com gás lacrimogêneo e disparos com balas
recobertas de borracha centenas
de universitários que, além de criticar o estado de exceção, exigiam
um aumento no orçamento destinado à educação. Pelo menos 15
manifestantes ficaram feridos e
cerca de 50 foram presos.
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