São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

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VENEZUELA

Altos oficias pedem renúncia do presidente; comandante do Exército pede desculpas por mortes e nega levante

Situação é incerta, com rumores de golpe

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

A situação política da Venezuela era incerta até a noite de ontem, em meio a informações desencontradas sobre golpes e as dúvidas sobre o paradeiro do presidente Hugo Chávez após seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV no meio da tarde.
"Parece claro que está em desenvolvimento um golpe militar", disse à Folha Teodoro Petkoff, diretor do jornal de oposição "Tal Cual", de Caracas. "O problema é que parece um golpe bastante singular, no qual a cada tanto um grupo de oficiais aparece publicamente para pedir a renúncia do presidente", disse.
A situação parecia cada vez mais desfavorável ao presidente, após o comandante-geral do Exército, Efraín Vásquez, por volta das 20h30 (22h30 em Brasília), ter se declarado em rebelião contra o presidente.
Vásquez pediu perdão pela repressão às manifestações em frente ao palácio presidencial, em Caracas e ordenou a todos os comandantes militares que permanecessem em suas unidades. "Isto não é um golpe de Estado, é a posição de solidariedade com todo o povo venezuelano", afirmou. "Os mortos de hoje não se pode tolerar."
Anteriormente, dez militares de alta patente, entre eles o almirante Héctor Ramírez Pérez, chefe da Marinha, já haviam se rebelado. O vice-ministro da Segurança, general Luis Camacho Kairuz, da Guarda Nacional, também renunciou ao cargo e pediu a renúncia de Chávez.
"Não podemos aceitar um tirano na Presidência. Sua permanência no cargo ameaça o país com a desintegração", disse Ramírez Pérez, à frente dos outros nove oficiais. "Nos dirigimos a todo o pessoal militar para que unamos esforços e façamos realidade uma nova Venezuela", afirmou.
As declarações de rechaço a Chávez monopolizavam o espaço nas TVs públicas, que voltaram a transmitir normalmente no final da tarde, após terem sido retiradas do ar por ordem do presidente. Não se sabia se a transmissão voltou com a ajuda operacional de militares anti-Chávez ou se as emissoras haviam montado esquemas de emergência para transmitir a partir de antenas alternativas. A TV estatal transmitia documentários pré-gravados ontem à noite.
A autoridade de Chávez já vinha sendo questionada por oficiais militares desde meados de fevereiro, quando o coronel Pedro Soto pediu publicamente sua renúncia. O coronel da reserva Chávez vinha menosprezando essas manifestações e garantia ter o apoio total dos 120 mil membros das Forças Armadas.
Para os analistas, os pronunciamentos públicos dos militares fariam parte de um plano de distanciamento do presidente. Muitos deles estavam descontentes com a proteção dada por Chávez aos oficiais mais identificados com sua política "bolivariana" e aos seus antigos companheiros golpistas. Muitos adversários políticos foram passados compulsoriamente à reserva nos últimos meses.
"Isso significa que há um alto grau de descontentamento nas Forças Armadas. E isso tem um efeito terrível nas tropas", afirmou o general da reserva Fernando Ochoa Antich, ministro da Defesa em 1992, quando Chávez liderou o golpe contra o presidente Carlos Andrés Pérez.


Com agências internacionais

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