São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ofensiva destruiu infra-estrutura palestina
SERGE SCHMEMANN DO "THE NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM Há 14 dias, o premiê Ariel Sharon enviou forças israelenses à Cisjordânia para "erradicar a infra-estrutura do terror". Desde então, a erradicação inflingida por seus tanques, escavadeiras e helicópteros criou uma paisagem de devastação de Belém a Jenin. Não há como avaliar a extensão integral dos últimos danos às cidades e vilarejos -Ramallah, Belém, Tulkarem, Qalqilya, Nablus e Jenin- enquanto elas permanecem sob um cerco fechado, com patrulheiros e francos-atiradores disparando tiros nas ruas. Mas é seguro dizer que a infra-estrutura do cotidiano e de qualquer Estado palestino futuro -estradas, escolas, fios de eletricidade, canos de água, linhas telefônicas- foi devastada. Mesmo em áreas onde não há combates, habitantes se escondem atrás de cortinas fechadas. Muitos ficam longos períodos sem água, eletricidade e telefone. Organizações internacionais de assistência humanitária só conseguem fazer incursões ocasionais nas cidades. Anteontem, um comboio da ONU levando mantimentos de emergência a campos de refugiados em Ramallah esperou uma hora no posto de controle de Qalandria e teve de voltar. As imagens e relatos de destruição vêm de jornalistas que fazem incursões arriscadas nas cidades ou de moradores que relatam o que vêem quando o toque de recolher é brevemente suspenso para que comprem mantimentos. O que relatam é a destruição visível. Danos invisíveis foram inflingidos ao trabalho da Autoridade Nacional Palestina, que, para Sharon, tolera e promove o terror. Funcionários do Banco Mundial que visitaram o Ministério da Educação e o Departamento Central de Estatísticas da ANP disseram ter visto computadores sem discos rígidos, arquivos saqueados, cofres abertos por explosões. Funcionários da ONU, do Banco Mundial e de países doadores se reuniram na terça-feira para planejar suas ações depois que Israel se retirar. Segundo eles, tudo o que podem fazer é montar equipes para cada cidade e esperar. Sua tarefa é enorme. Muito antes de Sharon mobilizar forças israelenses, ele já enviava regularmente jatos e helicópteros para destruir delegacias de polícia, cadeias e prédios usados por Arafat, em reação a atentados suicidas palestinos contra alvos de Israel. Alguns edifícios, como a sede da polícia em Belém, foram bombardeados várias vezes, no que palestinos e países doadores tomaram como um ataque a símbolos da soberania palestina. "Começamos em 1994 controlando os danos depois da ocupação. Em 1995, passamos para a reabilitação. Em 1999, estávamos construindo a infra-estrutura", disse Muhammad Shtayyeh, diretor do Conselho Econômico Palestino para o Desenvolvimento e a Reconstrução. "Então, Sharon foi à mesquita, que Deus o abençoe, e estamos de volta ao controle dos danos." É motivo de disputa entre israelenses e palestinos se a visita de Sharon, então deputado da oposição, à sagrada mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, em 28 de setembro de 2000, foi a razão para a violência que irrompeu naquele dia e continua desde então ou não. O que é impossível de ser disputado é o recuo calamitoso no que havia sido um desenvolvimento constante dos territórios palestinos. Em 1999, havia 20 milhões de metros quadrados de construções em andamento, US$ 8 bilhões de dólares em investimentos privados, 143 mil palestinos trabalhando em Israel -e cada um deles trazia para casa US$ 30 por dia-, um índice de crescimento de 6%. O Orçamento palestino tinha um superávit. O aeroporto de Gaza estava funcionando, o setor privado havia criado 3.500 novos empregos, as zonas industriais atraíam grandes companhias. "A administração palestina era altamente eficiente", afirmou Nigel Roberts, representante do Banco Mundial para Cisjordânia e Gaza. "Nos últimos 18 meses, conseguiu prestar serviços básicos, como saúde e educação, apesar de todos os problemas." Tudo foi destruído. Hoje, segundo relatório do Banco Mundial anterior à ofensiva israelense atual, a renda é inferior ao que era no fim dos anos 80, a proporção de pobres (que vivem com menos de US$ 2 por dia) duplicou, chegando a quase metade da população de Cisjordânia e Gaza. Sem o apoio de doadores internacionais, como a Liga Árabe e a União Européia, "toda a semelhança com uma economia moderna já teria desaparecido", diz o texto. Texto Anterior: Tensão no Oriente Médio: Moderados pedem a mudança dos líderes Próximo Texto: Após ver tanque perto de casa, gaúcho tenta retornar ao Brasil Índice |
|