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Filme decepciona, apesar de
conciliar Wenders e Hollywood
AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes
Com "The End of Violence" (O
Fim da Violência) exibido ontem
na competição, Wim Wenders
volta a Hollywood 13 anos depois
de "Paris, Texas" (Palma de Ouro
de 1984).
É seu primeiro filme rodado em
inglês desde então, numa produção ironicamente bancada sobretudo pela produtora francesa Ciby
2000, a atual bicampeã de Cannes
("Underground" e "Segredos e
Mentiras"). Nada mais improvável que o tri.
"Foi um alívio filmar em Hollywood desta vez", afirmou um relaxado Wenders ontem em Cannes.
"Hoje há muito mais espaço para
o cinema independente."
"The End of Violence" é um
projeto-relâmpago, escrito em seis
semanas e rodado em 28 dias.
O trio responsável é formado por
Wenders, Bono Vox e Nicholas
Klein. "Quisemos fazer um filme
sobre a violência, mas não um filme violento", precisou o diretor
alemão.
Cumpriram os objetivos -mas
o resultado final não ressuscita a
carreira do diretor de "Asas do
Desejo".
"The End of The Violence" parece se desenrolar a partir de uma
equação mal desenvolvida, e não
de um roteiro. São gritantes a implausibilidade da trama e a superficialidade dos personagens. Wenders assume que o rodou "sem
pensar duas vezes". Percebe-se
com facilidade.
Bill Pullman (de "Independence
Day") faz Mike Max, um bem sucedido produtor de filmes violentos. O fim de seu casamento com a
fútil Paige (Andie MacDowell,
mal-aproveitada como nunca)
coincide com um estranho episódio. Depois de receber por e-mail
um relatório secreto sobre o FBI,
Max é atacado por dois assassinos
de aluguel. Corte.
O gênio dos computadores, Ray
Bering (Gabriel Byrne), acompanha tudo pelo sistema de vigilância
eletrônica. Mas uma parada no sistema o faz perder o essencial: em
segundos, Max desaparece e os
dois pistoleiros surgem mortos.
Pullman se esconde entre "latinos" para saber o que houve. Bering não demora a descobrir que
também é observado. Um policial
novato (Loren Dean) desenvolve
ainda outra investigação.
A solução do mistério confirma-se como um segredo de polichinelo, mas o tosco labirinto da
trama revisita as questões obsessivas do Wenders recente: a sedução
da violência e o preço por ela cobrado; a proliferação de câmeras e
computadores formando um perigoso sistema panóptico, como
uma espécie de Grande Irmão
high-tech; o comprometimento
das relações humanas pela avalanche tecnológica no setor de comunicações (celulares, laptops, câmeras de bolso).
Ao menos "O Fim da Violência" apresenta uma fluência narrativa há muito ausente nos filmes
de Wenders. Aplauda-se o velho
colaborador Peter Przygoda na
montagem, mas louve-se principalmente a excepcional trilha assinada por Ry Cooder.
Cooder volta a trabalhar com
Wenders pela primeira vez desde
"Paris, Texas".
Alterna composições próprias e
participações especiais que vão de
Tom Waits a Los Lobos e de Roy
Orbison a The Eels. E fecha com
uma bela balada de Bono, "I'm
Not Your Baby", interpretada em
duo com Sinéad O'Connor.
A trilha tem a eficiência dramática que falta a todo o resto. Se há
alguém a ser premiado por "The
End of Violence", é Ry Cooder.
Filme: The End of Violence (O Fim da
Violência) Direção: Wim Wenders
Roteiro: Wenders e Nicholas Klein
Com: Bill Pullman, Gabriel Byrne, Andie
McDowell, Samuel Fuller
O crítico Amir Labaki está em Cannes a convite
da organização do festival.
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