São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Após retirada de tropas israelenses, cidade palestina avalia estragos; ofensiva em Gaza será rediscutida

Belém limpa igreja; ação em Gaza é suspensa

Associated Press
Religiosos da Igreja Ortodoxa Grega limpam o chão da igreja da Natividade, em Belém, após o fim do cerco israelense e a saída de militantes palestinos


DA REDAÇÃO

Belém começou ontem o trabalho de limpeza após a retirada das tropas de Israel da cidade palestina, na sexta-feira, depois de 38 dias. Moradores saíram sem restrições pela primeira vez desde o início da ofensiva de Israel na cidade, e religiosos fizeram uma faxina na igreja da Natividade, onde até 200 pessoas ficaram sob cerco de tropas de Israel, que queria capturar palestinos acusados de terrorismo refugiados no local.
O cerco terminou anteontem com a deportação de 13 dos palestinos mais procurados para Chipre, de onde serão enviados a outros países da Europa e ao Canadá. A União Européia disse ontem que os deportados são "homens livres", e Israel afirmou que pode pedir sua extradição aos países para onde forem enviados. Reunião da União Européia amanhã deve decidir o destino final dos palestinos.
Outros 26 palestinos procurados por terrorismo foram enviados à faixa de Gaza, e o restante das dezenas de pessoas que ainda estavam na igreja -construída no local onde, segundo a tradição cristã, nasceu Jesus- foram liberadas.
O Vaticano enviou um representante à cidade para realizar uma cerimônia de reconciliação espiritual. Religiosos acusam palestinos e israelenses de dessacralizarem a igreja. Os primeiros, ao entrarem no local com armas, fugindo das forças de Israel que reocuparam a cidade em busca de terroristas. Os segundos, por dispararem contra áreas dentro do complexo da igreja.
O patriarca latino de Jerusalém e máximo dignitário da Igreja Católica na Terra Santa, Michel Sabbah, esteve ontem em Belém com outros 12 líderes cristãos e pediu que o mundo enviasse ajuda financeira para a reconstrução das áreas danificadas da cidade. "Belém foi destruída, e esperamos que a comunidade internacional ajude os palestinos a reconstruí-la", disse ele.

Gaza
A antecipada ofensiva israelense na faixa de Gaza, aprovada pelo governo após atentado suicida perto de Tel Aviv que matou 15 pessoas, na terça-feira, foi novamente adiada. Segundo o Ministério da Defesa de Israel, a divulgação na mídia de informações sobre a ofensiva deu tempo aos "terroristas" procurados pelo país de fugir.
Tanques e tropas mobilizados para a operação seguiam posicionados para uma possível ofensiva na fronteira de Israel com a faixa de Gaza. Segundo fontes do governo israelense, a operação foi cancelada "por agora", mas o assunto voltaria a ser discutido "nos próximos dias".
Militantes palestinos ergueram barreiras e tomaram posições na densamente povoada faixa de Gaza esperando uma invasão israelense nos moldes da operação "contra a infra-estrutura terrorista" na Cisjordânia ocupada, iniciada em 29 de março após uma série de atentados suicidas contra Israel e encerrada com o fim do cerco em Belém.
Israel afirma que uma ação em Gaza não seria tão abrangente quanto a da Cisjordânia, em que o país reocupou as principais cidades da região, mas visaria apenas bolsões específicos de "atividades terroristas", principalmente em campos de refugiados onde grupos extremistas como Hamas e Jihad Islâmico têm grande apoio.
Ao menos 1.346 palestinos e 473 israelenses já morreram desde o início da Intifada, a revolta palestina contra a ocupação israelense, em setembro de 2000, após o colapso das negociações de paz.
O fim do cerco a Belém e a suspensão da operação em Gaza realimentaram as esperanças de avanço por via diplomática. O chanceler saudita, príncipe Saud al Faisal, disse que enxergava "um raio de esperança" para a retomada das negociações, mesma posição dos EUA.

Com agências internacionais



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