São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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Americana rastreia origem

DA REDAÇÃO

A jornalista e escritora nova-iorquina Pearl Duncan usou linguística, história e genética para descobrir o lugar exato na África de onde seus antepassados partiram como escravos. Sua busca deve ser transformada em um livro, a ser publicado em 2003.
Duncan, 52, autora do livro de contos "Water Dancing", falou à Folha, por e-mail, de sua casa em Manhattan. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista. (MB)

Folha - Por que a sra. decidiu buscar a origem de seus ancestrais?
Pearl Duncan -
Quando eu era criança, ouvia histórias sobre nossos ancestrais, que tinham, como meus pais, apelidos muito engraçados. Além disso, minha mãe costumava dizer: "Por favor, não chaka-chaka meu sofá". Chaka-chaka significa bagunçar. As expressões não soavam anglo-saxônicas, e comecei a anotá-las.
Um dia, falei com Peter Pipim, um antropólogo e linguista africano do Smithsonian Institution, em Washington. Ele riu ao ouvir as palavras e disse que eram da língua twi, do povo akan, de Gana. Ele disse que os apelidos vinham de um grupo akan, os akuanem, que vivem nas colinas ao redor da capital ganense, Acra.

Folha - Por que você decidiu usar o DNA em sua busca?
Duncan -
Pipim havia me contado que o apelido de meu pai, Pari, vinha do sobrenome africano Opare e que os Opares são akuapems que vivem nos vilarejos rurais de Akropong, Mampong, Larteh, Mamfe e Aburi.
Fiquei maravilhada e comecei a telefonar e mandar e-mails até encontrar akuapems e descendentes de africanos com o sobrenome Opare. Em 1999, quando li que geneticistas haviam rastreado os ancestrais judeus do povo lemba, do sul da África, pensei: "Ótimo, talvez o DNA possa ser usado para confirmar que os Opares eram meus ancestrais". Michael Hammer, do Projeto Genoma, concordou em incluir meu grupo na pesquisa. Eu fui a igrejas e clubes ganenses em Nova York e pedia que os descendentes me deixassem analisar seu DNA.

Folha - O que a sra. descobriu?
Duncan -
Que meu pai não tem nenhum ancestral europeu, só africanos, e que seu DNA correspondia ao de membros da família Opare de Gana e de ao menos 40 akuapems.

Folha - De que forma as suas descobertas a ajudaram?
Duncan -
Sinto-me muito mais conectada à família humana, pois entendo onde minha família e meus ancestrais se encaixam.



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