São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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NOVA YORK

Oito meses após o atentado à cidade, resgate de corpos e remoção de escombros estão virtualmente encerrados

Trabalho de limpeza no WTC chega ao fim

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A cidade ainda discute quando e como fazer o comunicado oficial, mas o fato é que oito meses depois do ataque de 11 de setembro, completados ontem, os trabalhos de resgate, limpeza e remoção nos escombros do World Trade Center, em Nova York, estão virtualmente encerrados.
Na semana passada, o único guincho que ainda funcionava retirou o último grande pedaço de construção, que foi levado de caminhão para o ex-depósito de lixo de Fresh Kills, em Staten Island, no sul da cidade. Foi a última de 105 mil viagens parecidas, que carregaram cerca de 1,6 milhão de toneladas de entulho.
Os números do maior ataque terrorista da história dos Estados Unidos são eloquentes: em oito meses, foram encontrados 19.435 pedaços de corpos, os derradeiros 110 no mês passado; esses restos serviram para identificar 1.008 das 2.823 vítimas oficiais.
Uma passada pelo que um dia pareceu o cenário de uma guerra e meses depois se assemelhava aos preparativos de uma grande construção civil revela a queda no ritmo dos trabalhos. Das 3.500 pessoas que davam expediente por dia no auge dos resgates, restam menos de 700, e o número tende a cair a cada dia.
"Nós conseguimos o que muitos achavam impossível na tarde de 11 de setembro", disse Kenneth Holden, chefe do Departamento de Construção e Design de Nova York. "Que era, até o Memorial Day, limpar todos os escombros do "Ponto Zero"." O feriado em homenagem aos mortos norte-americanos nas guerras acontece nesta sexta-feira.

Dois problemas
Com isso, apareceram pelo menos dois problemas. O primeiro vem de longe e é o que fazer com a área de 64 mil m2.
Apenas duas decisões são consenso: o espaço será dividido em várias funções e não terá mais arranha-céus.
A Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, que é dona do terreno atualmente cedido por cem anos para Larry A. Silverstein, tem em mãos propostas de 13 grupos de planejadores, arquitetos e especialistas em transportes que foram selecionados entre milhares de projetos oferecidos.
O vencedor será anunciado em duas semanas e, então, o órgão desenvolverá um plano de ação até julho. O cronograma está sendo considerado muito apertado e vem sofrendo críticas, principalmente de ONGs urbanistas.
O segundo problema é de ordem diplomática: a prefeitura da cidade e o governo do Estado passaram semanas decidindo qual a melhor maneira de comunicar às famílias que os trabalhos de busca seriam encerrados, mesmo com 1.735 vítimas ainda consideradas desaparecidas.
Na semana passada, Michael Bloomberg e George Pataki chegaram a um acordo. Nas cartas, assinadas pelos dois e já enviadas, explicam que os esforços para identificar os mortos continuarão, no departamento médico e em Fresh Kills, mas avisam que, "nas próximas semanas, o esforço oficial de recuperação no local do desastre será concluído".

Vida quase normal
Por todos os lados, há cada vez mais sinais de que a vida voltou ao normal -ou o que pode ser considerado normal depois de 11 de setembro. Os 12.187 táxis da cidade, por exemplo, começam a receber neste mês o novo mapa oficial de Manhattan, já sem o World Trade Center. No lugar onde antes apareciam as Torres Gêmeas, está um laço vermelho, branco e azul (as cores dos EUA).
Já no complexo de Battery Park, vizinho à área do sul de Manhattan onde ficavam as torres e que abriga residências e escritórios, parecem distantes os dias em que os prédios estavam interditados e a poeira cobria os apartamentos.
Um desses andares serviu de sala neste fim de semana para o novo Festival de Cinema de Tribeca, idealizado e organizado pelo ator Robert De Niro como maneira de promover a recuperação e estimular o comércio da região.
Na quinta-feira à noite, enquanto esperavam uma das sessões, dezenas de pessoas conversavam na fila do corredor envidraçado do prédio que dá vista para o "Ponto Zero". Poucos se davam ao trabalho de parar para observar a movimentação ali.
Até mesmo um novo prédio já está sendo construído. Vai ficar no quarteirão que abrigava a torre 7 do complexo, a última a desabar, já no começo da noite do dia 11 de setembro. Larry A. Silverstein, o locatário de todo o World Trade Center, deu o sinal verde na última semana. Na sexta-feira, operários erguiam as primeiras vigas.



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