São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Lula será recebido por líder supremo do Irã em visita

Encontro com aiatolá é honraria reservada só a aliados próximos do regime islâmico

"O presidente Lula é um grande amigo do Irã, é normal que seja recebido pelo nosso líder supremo", diz diretor de agência estatal


SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será recebido durante sua visita ao Irã, nos próximos dias 16 e 17, pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, uma honra reservada aos aliados mais próximos do regime, como o venezuelano Hugo Chávez e o chefe do grupo palestino Hamas, Khaled Meshal.
"O presidente Lula é um grande amigo do Irã, é normal que seja recebido pelo nosso líder supremo", disse à Folha por telefone Ali Akbar Javanfekr, ex-chefe de comunicação do presidente Mahmoud Ahmadinejad e atual diretor da principal agência de notícias estatal do país, a Irna.
O líder supremo, máxima autoridade política e religiosa do Irã, detém a palavra final sobre todos os assuntos iranianos, em especial as questões estratégicas como o programa nuclear, que Teerã diz ter intenções pacíficas. Khamenei, 70, aparece raramente em público e só o mais alto escalão do governo tem acesso a ele.
O Brasil espera aproveitar o encontro com o líder supremo para reforçar uma proposta em debate na ONU para que o urânio do Irã seja enriquecido em outro país antes de ser devolvido a Teerã. A fórmula evitaria que os iranianos mantivessem estoques suficientes para fabricar uma bomba atômica.
A oferta tem apoio da Turquia, que ocupa, ao lado do Brasil, cadeira rotativa do Conselho de Segurança da ONU, e se ofereceu para ser depositária do urânio iraniano. Lula cogita fazer breve escala em Istambul após a visita ao Irã para reportar aos aliados turcos o teor das conversas em Teerã.
Ontem, um porta-voz da Chancelaria iraniana disse que as recentes conversas com Brasil e Turquia produziram "uma nova fórmula que poderia pavimentar o caminho para o entendimento". Desde que a proposta da AIEA foi apresentada em meados do ano passado, porém, o Irã tem alternado uma retórica em que abre caminho a um acordo com a sistemática recusa a pontos considerados fundamentais pelas potências ocidentais -que a troca aconteça fora do Irã e que não se dê de maneira simultânea.
Com a dificuldade para um acordo, EUA, Reino Unido e França fazem pressão para que o Conselho de Segurança imponha uma quarta rodada de sanções econômicas e financeiras ao Irã, que até a China e a Rússia, tradicionais aliadas de Teerã, já aceitaram discutir.

Aliado fiel
Independentemente do resultado da mediação brasileira, o espaço aberto na reclusa agenda de Khamenei é uma demonstração de apreço a Lula, visto em Teerã como um aliado fiel que resiste a todas as pressões do Ocidente para punir e encurralar o Irã por causa de seu programa nuclear.
O governo iraniano avalia que Lula é um líder independente e corajoso por defender que todos os países signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear, incluindo o Irã, desfrutem de seu direito de enriquecer urânio para fins médicos ou produção de energia. A posição brasileira está resumida em uma frase repetida à exaustão por Lula: "Defendo para o Irã o mesmo que para o Brasil".
Críticos dizem que o presidente brasileiro é ingênuo ao acreditar nas intenções pacíficas do programa nuclear iraniano e que é incabível o apoio a um regime acusado de violações de direitos humanos -a Folha revelou na segunda que Lula não pretende se reunir com dissidentes iranianos.

O jornalista SAMY ADGHIRNI viajou a convite do governo turco



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