São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2001

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DIPLOMACIA

Ações do presidente irritam aliados; pena de morte é foco de dissensão

Bush inicia difícil visita à Europa

DO "THE NEW YORK TIMES"

Na Europa, há pouco carinho pelo presidente George W. Bush e uma forte crença de que os EUA, sob sua administração, estejam preocupados apenas com si próprios -poluindo o ar, rompendo tratados e demonstrando que podem dar início a uma nova corrida armamentista.
O diário alemão "Süddeutsche Zeitung" o apelidou de "Bush Valentão". Já o programa humorístico francês "Les Guignols de l'Info" disse que Bush não sabe quem é o presidente Jacques Chirac.
Assim, quando chegar à Espanha hoje para dar início à sua visita a cinco países europeus -que durará cinco dias-, Bush terá um longo caminho a percorrer e, sem dúvida, encontrará mais ceticismo por parte dos aliados europeus dos EUA.
"Sem dúvida, estamos num período em que há uma crescente desavença dentro da Otan (aliança militar ocidental)", disse Charles Grant, analista político do Centro para a Reforma Européia, de Londres. "A Europa e os EUA estão mudando e não conseguem se entender", acrescentou.
Alguns analistas políticos salientam que poucos novos presidentes dos EUA foram rapidamente aceitos pela Europa, que, tradicionalmente, não gosta de mudanças na Casa Branca. Além disso, Bush não é responsável por tudo que desagrada aos europeus atualmente.
O ativista francês José Bové já atacava lojas da rede McDonald's para protestar contra a "hegemonia americana" bem antes de Bush ser candidato à Presidência dos EUA.
Mas, em apenas alguns meses, Bush conseguiu indispor-se profundamente com os aliados europeus, defendendo posições e tomando decisões que causaram nervosismo dentro da Europa.
Cada vez mais, segundo especialistas, a Europa e os EUA parecem distanciar-se no que se refere a questões sociais, o que faz com que seja mais difícil que ambas as partes se entendam. Para os analistas, trata-se de um distanciamento crescente no que concerne aos valores.
Diferentemente do que ocorre nos EUA atualmente, a Europa é dominada por líderes de centro-esquerda, que crêem que um Estado piedoso seja necessário para reduzir as desigualdades provocadas pelo capitalismo.
Enquanto os EUA criticam os elevados impostos que os europeus pagam e o custo do Estado do Bem-Estar Social, a Europa acredita que a sociedade americana seja brutal e tenha pessoas excluídas (ou pobres) demais.
Os europeus se chocam sobretudo com a pena de morte, e Bush deve enfrentar protestos contra sua aplicação, pois ele chega à Espanha um dia depois da execução de Timothy McVeigh. Os europeus sabem que Bush foi governador do Texas, o Estado dos EUA que mais aplica essa pena.
Até mesmo o fato de as filhas de Bush terem tido problemas com a Justiça por causa do consumo de álcool deixa os europeus perplexos. Muitos europeus não entendem por que jovens de 19 anos de idade não têm o direito de consumir álcool, mas podem votar ou comprar propriedades.
Os europeus também ficaram surpresos com o anúncio de Bush de que os EUA não assinariam o Protocolo de Kyoto (que estabelece metas para o combate do efeito estufa). Eles também não concordam com o plano americano de construir um escudo antimísseis, pondo em risco a existência do Tratado Antimísseis Balísticos, firmado com a URSS em 1972.
Muitos ressaltam ainda a pouca familiaridade de Bush com assuntos internacionais. Em entrevista à TV espanhola, chamou o premiê José Maria Aznar de "Anzar".




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