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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Diretor diz que deveria ter barrado dossiê sobre urânio, apesar de funcionários afirmarem que alertaram Bush

CIA assume erro sobre informação falsa

Akram Saleh/Reuters
Soldados americanos patrulham Ramadi, palco de ataques e vizinha a Fallujah, onde protesto de policiais levou à redução de tropas


DA REDAÇÃO

O diretor da CIA (serviço secreto americano), George Tenet, afirmou ontem que sua agência errou ao permitir que o presidente dos EUA, George W. Bush, usasse em discurso em janeiro a informação de que o ex-ditador Saddam Hussein estava tentando comprar material nuclear na África.
"Essas 16 palavras nunca deveriam ter sido incluídas no texto escrito para o presidente", disse nota de Tenet, sobre trecho do tradicional discurso sobre o Estado da União, proferido no Congresso americano. "Foi um erro."
À época, Bush disse: "O governo britânico ficou sabendo que Saddam Hussein recentemente buscou obter quantidades significativas de urânio da África".
"Deixe-me ser claro sobre diversas coisas de uma vez", disse Tenet. "Em primeiro lugar, a CIA aprovou o discurso sobre o Estado da União antes que ele fosse proferido. Em segundo lugar, eu sou o responsável pelo processo de aprovação na minha agência. Em terceiro lugar, o presidente tinha todos os motivos para acreditar que o texto apresentado a ele estava correto", afirmou o diretor da CIA.
Tenet disse que agentes da CIA revisaram trechos do discurso e levantaram algumas preocupações com assessores de segurança nacional da Casa Branca, que fez mudanças na forma com que as alegações sobre a acusação contra o Iraque foi feita. Tenet, no entanto, disse que a CIA falhou ao não impedir que o trecho fosse incluído apesar das dúvidas sobre a sua veracidade.

Polêmica
As declarações de Tenet foram feitas depois que Bush e a assessora de Segurança Nacional do presidente dos EUA, Condoleezza Rice, responsabilizaram a CIA sobre o uso da falsa informação.
Horas antes, três redes de TV americanas veicularam reportagens segundo as quais Bush, antes de seu discurso de janeiro, teria sido alertado para a pouca confiabilidade de um dossiê da inteligência britânica segundo o qual o Iraque estava tentando comprar o urânio do Níger.
A informação foi dada por agentes da CIA a três redes de TV americanas, que veicularam reportagens sobre o assunto. Segundo esses agentes, que falaram sob a condição de anonimato, as dúvidas sobre as informações foram enviadas aos colegas britânicos e a diversas instâncias do governo antes do discurso de Bush.
Segundo as TVs CBS, ABC e CNN, agentes da CIA que viram o rascunho do discurso de Bush chegaram a questionar se a acusação era muito forte devido à pouca confiabilidade do dossiê britânico, mas o trecho acabou sendo mantido porque havia referência à origem da informação.

Reação
As reportagens tiveram resposta imediata da Casa Branca, que ontem responsabilizou a CIA pela falsa acusação de que o Iraque tentou comprar urânio no Níger. Nesta semana, o governo americano havia reconhecido que a informação não era verdadeira.
Bush disse ontem que a informação sobre a compra de urânio foi aprovada pelos seus "serviços de inteligência" e voltou a defender a invasão do Iraque.
"Fiz um discurso à nação que havia sido aprovado pelos serviços de inteligência", disse o presidente americano durante visita oficial à Uganda.
O presidente do comitê de inteligência do Senado, o republicano Pat Roberts, no entanto, culpou o diretor da CIA, originalmente indicado para o cargo pelo antecessor de Bush, o democrata Bill Clinton.
"Se a CIA havia mudado de posição, era incumbência do diretor corrigir a informação e trazê-la imediatamente ao presidente. Aparentemente, não foi o que ele fez", disse Roberts. Para ele, a CIA foi "negligente" sobre o assunto.

Com agências internacionais


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