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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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REINO UNIDO

Com apoio popular em queda, premiê britânico diz que divisão em seu partido favorece oposição conservadora

Sob ataque, Blair pede união a trabalhistas

MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, fez um discurso ontem com o que espera ser o manifesto do seu Partido Trabalhista para vencer as próximas eleições previstas para daqui a dois anos e conquistar um inédito terceiro mandato para os trabalhistas.
Na sessão de abertura da reunião da recém-batizada "política progressista" -que agora substitui a desgastada expressão Terceira Via-, Blair alertou para os riscos da disputa, mencionando não apenas a sua oposição tradicional, o Partido Conservador, mas também as divisões internas dos trabalhistas e seus opositores na esquerda do seu partido. Foi o gesto mais recente do premiê para conter a crescente rebelião interna contra sua liderança.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participará da reunião de cúpula da "governança progressista", no Reino Unido no próximo domingo.
"O dilema da política progressista bem-sucedida é que sempre se está lutando em dois frontes: conservadorismo da direita e conservadorismo de setores da esquerda", disse o premiê.
Ele reconheceu que há o risco "de se esquecer de um ao se concentrar temporariamente no outro". Mas insistiu na defesa de seu caminho mais ao centro, dizendo que seu trabalho é "persuadir e encorajar, mostrando que a reforma progressista é a salvação, e não o inimigo das causas em que acreditamos".
A oposição a Blair dentro do partido tem várias razões e passa pela rejeição à Guerra do Iraque, que agora recebeu novo impulso com as suspeitas de que o governo "tenha esquentado" o dossiê sobre a ameaça que Saddam Hussein representava para o mundo e a falta de resultados na busca pelas armas de destruição em massa em solo iraquiano.

Rebelião trabalhista
Na área doméstica, a oposição ao premiê se concentra em duas reformas cruciais que o governo tenta fazer. Uma delas traz mudanças no sistema nacional de saúde. Blair quer instituir os chamados hospitais de fundação, que teriam financiamento privado e poderiam cobrar de seus pacientes, dentro de um sistema de fiscalização e de cumprimento de metas estabelecidas pelo governo.
Os opositores a essa proposta alegam que o governo vai criar clínicas de elite e que os mais pobres do país acabarão sendo atendidos em hospitais de pior qualidade. O governo defende a reforma em razão da ausência de recursos para manter o atual sistema e diz que as metas vão assegurar atendimento justo para todos.
Mas, apesar dos argumentos, os setores de seu partido que se opõem às mudanças mostrou sua força no início da semana. Apresentou uma proposta de rejeição ao projeto, que foi derrotada, por apenas 35 votos, quando a suposta maioria do governo é de 164 cadeiras no Parlamento.
Esse resultado obrigou o primeiro-ministro a se reunir com a bancada no dia seguinte, quando fez um apelo pela unidade, advertindo que as divisões poderiam favorecer os conservadores.
Outra reforma pretendida por Blair autoriza as universidades a cobrarem taxas extras de até 3 mil libras (R$ 15 mil) por ano de seus alunos. O projeto deve ser votado a partir de setembro, e os rebeldes trabalhistas prometem uma revolta ainda maior.
A adoção do euro em substituição à libra é outro tema que divide o governo e seu partido. Existe a percepção geral de que Blair é a favor da adesão do Reino Unido à moeda única. Mas o ministro do Tesouro, Gordon Brown, é considerado um "eurocético". Brown tem força dentro do partido e do governo. Pesquisa do jornal "Financial Times" mostra que 80% dos britânicos consideram que o Partido Trabalhista esteja rachado em relação ao euro.
O conflito no Iraque -com as mortes de soldados britânicos já depois do fim oficial da guerra e o caos que ainda impera no país, além das desconfianças sobre os motivos que levaram o país a apoiar os EUA- também está abalando a liderança de Blair.

Queda nas pesquisas
O apoio ao premiê e ao partido está em queda livre nas pesquisas de opinião. Para analistas políticos, parte dessas dificuldades vem do desgaste natural de quem está quase na metade de um segundo mandato. Mas ninguém tem dúvidas de que a questão iraquiana e a oposição interna estão reforçando esse desgaste.


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