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REINO UNIDO
Com apoio popular em queda, premiê britânico diz que divisão em seu partido favorece oposição conservadora
Sob ataque, Blair pede união a trabalhistas
MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
O primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, fez um discurso ontem com o que espera ser o manifesto do seu Partido Trabalhista
para vencer as próximas eleições
previstas para daqui a dois anos e
conquistar um inédito terceiro
mandato para os trabalhistas.
Na sessão de abertura da reunião da recém-batizada "política
progressista" -que agora substitui a desgastada expressão Terceira Via-, Blair alertou para os riscos da disputa, mencionando não
apenas a sua oposição tradicional,
o Partido Conservador, mas também as divisões internas dos trabalhistas e seus opositores na esquerda do seu partido. Foi o gesto
mais recente do premiê para conter a crescente rebelião interna
contra sua liderança.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participará da
reunião de cúpula da "governança progressista", no Reino Unido
no próximo domingo.
"O dilema da política progressista bem-sucedida é que sempre
se está lutando em dois frontes:
conservadorismo da direita e
conservadorismo de setores da
esquerda", disse o premiê.
Ele reconheceu que há o risco
"de se esquecer de um ao se concentrar temporariamente no outro". Mas insistiu na defesa de seu
caminho mais ao centro, dizendo
que seu trabalho é "persuadir e
encorajar, mostrando que a reforma progressista é a salvação, e não
o inimigo das causas em que acreditamos".
A oposição a Blair dentro do
partido tem várias razões e passa
pela rejeição à Guerra do Iraque,
que agora recebeu novo impulso
com as suspeitas de que o governo
"tenha esquentado" o dossiê sobre a ameaça que Saddam Hussein representava para o mundo e
a falta de resultados na busca pelas armas de destruição em massa
em solo iraquiano.
Rebelião trabalhista
Na área doméstica, a oposição
ao premiê se concentra em duas
reformas cruciais que o governo
tenta fazer. Uma delas traz mudanças no sistema nacional de
saúde. Blair quer instituir os chamados hospitais de fundação, que
teriam financiamento privado e
poderiam cobrar de seus pacientes, dentro de um sistema de fiscalização e de cumprimento de metas estabelecidas pelo governo.
Os opositores a essa proposta
alegam que o governo vai criar clínicas de elite e que os mais pobres
do país acabarão sendo atendidos
em hospitais de pior qualidade. O
governo defende a reforma em razão da ausência de recursos para
manter o atual sistema e diz que
as metas vão assegurar atendimento justo para todos.
Mas, apesar dos argumentos, os
setores de seu partido que se
opõem às mudanças mostrou sua
força no início da semana. Apresentou uma proposta de rejeição
ao projeto, que foi derrotada, por
apenas 35 votos, quando a suposta maioria do governo é de 164 cadeiras no Parlamento.
Esse resultado obrigou o primeiro-ministro a se reunir com a
bancada no dia seguinte, quando
fez um apelo pela unidade, advertindo que as divisões poderiam
favorecer os conservadores.
Outra reforma pretendida por
Blair autoriza as universidades a
cobrarem taxas extras de até 3 mil
libras (R$ 15 mil) por ano de seus
alunos. O projeto deve ser votado
a partir de setembro, e os rebeldes
trabalhistas prometem uma revolta ainda maior.
A adoção do euro em substituição à libra é outro tema que divide
o governo e seu partido. Existe a
percepção geral de que Blair é a
favor da adesão do Reino Unido à
moeda única. Mas o ministro do
Tesouro, Gordon Brown, é considerado um "eurocético". Brown
tem força dentro do partido e do
governo. Pesquisa do jornal "Financial Times" mostra que 80%
dos britânicos consideram que o
Partido Trabalhista esteja rachado em relação ao euro.
O conflito no Iraque -com as
mortes de soldados britânicos já
depois do fim oficial da guerra e o
caos que ainda impera no país,
além das desconfianças sobre os
motivos que levaram o país a
apoiar os EUA- também está
abalando a liderança de Blair.
Queda nas pesquisas
O apoio ao premiê e ao partido
está em queda livre nas pesquisas
de opinião. Para analistas políticos, parte dessas dificuldades vem
do desgaste natural de quem está
quase na metade de um segundo
mandato. Mas ninguém tem dúvidas de que a questão iraquiana e
a oposição interna estão reforçando esse desgaste.
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