São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Crise global afeta reforma cubana

Na primeira sessão do novo Parlamento, Raúl Castro diz que prioridade é escapar da alta dos alimentos

"Gostaríamos de ir mais rápido, mas é necessário agir realisticamente", afirma dirigente sobre a reforma do sistema salarial


DA REDAÇÃO

O dirigente máximo de Cuba, Raúl Castro, encerrou ontem a primeira sessão do novo Parlamento da ilha dizendo que a crise econômica mundial -com alta de preços de alimentos e combustíveis- imporá ajustes e pode atrasar uma de suas principais reformas, a mudança do sistema salarial.
"[A resolução] do problema salarial vai depender da situação econômica do país, inevitavelmente ligada à crise no mundo hoje, que pode piorar", disse Raúl, 77, formalmente no poder desde fevereiro, após a renúncia do irmão, o convalescente Fidel Castro.
"Não seria ético criar falsas expectativas. [...]Gostaríamos de ir mais rápido, mas é necessário agir realisticamente." Desde que assumiu, Raúl elevou as expectativas na ilha comunista sobre reformas econômicas. Uma delas, já anunciada, foi a eliminação do teto dos pagamentos e a ampliação de prêmios por produtividade.
Ontem, o dirigente justificou a diferenciação salarial abandonando a ortodoxia comunista a abraçando diretriz social-democrata: "Socialismo significa justiça social e igualdade, mas igualdade de direitos, de oportunidades, não de renda".
Queixa unânime em Cuba, o sistema de baixíssimas remunerações, aliado à circulação de duas moedas (o peso conversível, que vale pouco mais que o dólar e compra a maioria dos bens, e o peso cubano, da maioria dos salários) derrubou índices de produtividade e agrava distorções sociais na ilha.

Agricultura e inflação
A inflação dos alimentos também está por trás da ênfase de Raúl no aumento da produção agrícola. Ontem, ele anunciou que "em breve" terras ociosas estarão disponíveis para o plantio, em especial aos mais produtivos pequenos agricultores privados.
O Castro mais novo lembrou que a área cultivada na ilha recuou 33% em 9 anos: "Não pode sobrar nenhum hectare sem semear". Além da cessão de terras, ele já havia descentralizado a gestão agrícola e permitido venda direta de insumos.
A corrosão da inflação mundial nas contas cubanas é conhecida: em 2007, Cuba gastou US$ 470 milhões para importar 3,4 milhões de toneladas de alimentos. Para a mesma comida, gastará US$ 2,5 bilhões agora.
O gasto com combustível subiu 32%, disse em discurso recente o vice-presidente, Carlos Lage.
A alta já é sentida na ponta. No começo de junho, em Havana, os cubanos se queixavam dos aumentos em produtos comprados com moeda forte, como óleo e cerveja.

EUA e Previdência
O general Raúl abriu a sessão vestido de guayabera branca, ao lado da simbólica cadeira vazia de Fidel, que também foi reeleito ao Parlamento em janeiro.
A sessão de ontem, precedida de pouco usuais reuniões preparatórias, vai se repetir em dezembro -são dois encontros dos 600 deputados por ano. O objetivo do Parlamento era avaliar as reformas sob Raúl, que já incluíram a liberação da venda de eletrônicos, e, nesta semana, de licenças privadas de transporte.
Ontem, ele aproveitou para defender as ações das críticas da Casa Branca, que as chama de "cosméticas". "Embora ninguém tenha lhes pedido opinião, reitero que jamais adotaremos uma decisão por pressão ou chantagem."
Também defendeu projeto de reforma da Previdência, que propõe aumentar a idade mínima de aposentadoria a partir de 2009, para atacar o problema do envelhecimento da população -o Parlamento decidiu que as mudanças serão debatidas pelos sindicatos, controlados pelo Partido Comunista, único.
O projeto prevê o aumento da idade de aposentadoria dos homens de 60 para 65 anos e das mulheres de 55 para 60 anos. A reforma também permitirá que aposentados voltem ao mercado, mantendo o benefício. Raúl exortou professores aposentados a voltar às escolas, para aplacar a crise no ensino.


FLÁVIA MARREIRO , com agências internacionais<


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