|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Farc dizem que não houve resgate, mas "traição"
DA REDAÇÃO
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
afirmaram ontem que a operação que libertou a refém mais
célebre da guerrilha, Ingrid Betancourt, e outros 14 seqüestrados não foi um resgate, mas
"uma fuga", conseqüência direta da "traição" dos guerrilheiros-carcereiros.
Segundo a guerrilha, Gerardo
Aguilar, o César, e Alexander
Farfán, o Gafas, responsáveis
pelos reféns e hoje presos em
Bogotá, "traíram seu compromisso revolucionário". Segundo o governo, os carcereiros foram enganados e não receberam "um centavo".
Vários analistas e reportagens questionam aspectos da
versão oficial da Operação Xeque. Reportagem da Rádio Suíça Romanda sustentou, na semana passada, que César recebeu US$ 20 milhões pelos reféns. Bogotá nega.
As declarações das Farc estão
em um comunicado com data
de 5 de julho, publicado ontem
no site da Agência Bolivariana
de Imprensa. Classificando a libertação de Ingrid como um
episódio "inerente a toda confrontação [...]", o grupo insiste
em negociar um acordo com o
governo para a troca dos 25 reféns políticos ainda na selva por
guerrilheiros presos.
Lança uma ameaça: "Se persistir no resgate como única
via, o governo deve assumir todas as conseqüências de sua temerária e aventureira decisão".
Pouco realista
O governo Uribe dispensou a
mediação européia (França,
Suíça e Espanha) e declarou
que buscará contato direto com
as Farc para negociar os termos
da desmobilização, descartando conversas prévias de intercâmbio humanitário. A intenção é enquadrar os guerrilheiros na Lei de Justiça e Paz, usada no controverso processo de
desmobilização dos paramilitares, a partir de 2005.
No comunicado -que segundo analistas colombianos tem a
marca acadêmica do novo líder
máximo da guerrilha, Alfonso
Cano-, as Farc insistem num
acordo de paz e aludem a uma
negociação programática: "A
paz que a Colômbia requer deve ser resultado de acordos que
beneficiem as maiorias".
Mas, pela primeira vez, não
mencionam a desmilitarização
de dois municípios como condição para negociar. "Aí há um
certo realismo. Sabem que não
tem mais como insistir nisso",
avalia Alejo Velázquez, que era
um dos mediadores autorizados pelo governo para negociar
com o ELN (Exército de Libertação Nacional), a segunda
maior guerrilha.
Para Velázquez, o realismo
desaparece quando falam de
negociação programática:
"Eles propõem um acordo que
não tem mais nenhuma possibilidade. Falam de defesa da
maioria, mas nenhum setor social vai dizer que se sente identificados com eles", disse à Folha. Segundo pesquisas de opinião, 98% da população colombiana rejeita as Farc.
(FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Memória: Com eleição à vista, Chávez soma recuos Próximo Texto: Crise global afeta reforma cubana Índice
|