São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Farc dizem que não houve resgate, mas "traição"

DA REDAÇÃO

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) afirmaram ontem que a operação que libertou a refém mais célebre da guerrilha, Ingrid Betancourt, e outros 14 seqüestrados não foi um resgate, mas "uma fuga", conseqüência direta da "traição" dos guerrilheiros-carcereiros.
Segundo a guerrilha, Gerardo Aguilar, o César, e Alexander Farfán, o Gafas, responsáveis pelos reféns e hoje presos em Bogotá, "traíram seu compromisso revolucionário". Segundo o governo, os carcereiros foram enganados e não receberam "um centavo".
Vários analistas e reportagens questionam aspectos da versão oficial da Operação Xeque. Reportagem da Rádio Suíça Romanda sustentou, na semana passada, que César recebeu US$ 20 milhões pelos reféns. Bogotá nega.
As declarações das Farc estão em um comunicado com data de 5 de julho, publicado ontem no site da Agência Bolivariana de Imprensa. Classificando a libertação de Ingrid como um episódio "inerente a toda confrontação [...]", o grupo insiste em negociar um acordo com o governo para a troca dos 25 reféns políticos ainda na selva por guerrilheiros presos.
Lança uma ameaça: "Se persistir no resgate como única via, o governo deve assumir todas as conseqüências de sua temerária e aventureira decisão".

Pouco realista
O governo Uribe dispensou a mediação européia (França, Suíça e Espanha) e declarou que buscará contato direto com as Farc para negociar os termos da desmobilização, descartando conversas prévias de intercâmbio humanitário. A intenção é enquadrar os guerrilheiros na Lei de Justiça e Paz, usada no controverso processo de desmobilização dos paramilitares, a partir de 2005.
No comunicado -que segundo analistas colombianos tem a marca acadêmica do novo líder máximo da guerrilha, Alfonso Cano-, as Farc insistem num acordo de paz e aludem a uma negociação programática: "A paz que a Colômbia requer deve ser resultado de acordos que beneficiem as maiorias".
Mas, pela primeira vez, não mencionam a desmilitarização de dois municípios como condição para negociar. "Aí há um certo realismo. Sabem que não tem mais como insistir nisso", avalia Alejo Velázquez, que era um dos mediadores autorizados pelo governo para negociar com o ELN (Exército de Libertação Nacional), a segunda maior guerrilha.
Para Velázquez, o realismo desaparece quando falam de negociação programática: "Eles propõem um acordo que não tem mais nenhuma possibilidade. Falam de defesa da maioria, mas nenhum setor social vai dizer que se sente identificados com eles", disse à Folha. Segundo pesquisas de opinião, 98% da população colombiana rejeita as Farc.
(FLÁVIA MARREIRO)



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