|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Líbano anuncia governo de unidade após longo impasse
Das 30 pastas, 11 ficam com o Hizbollah e seus aliados, que ganham poder de veto
Anúncio segue semanas de negociações após protelada eleição do presidente; entre desafios, estão segurança e eleição legislativa em 2009
TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE
Após meses de impasse político, o premiê Fuad Siniora
anunciou ontem um novo governo de unidade nacional no
Líbano. Dos 30 ministros do
gabinete, 16 são da maioria parlamentar anti-Síria, 11 da oposição liderada pelo Hizbollah e
três ligados ao recém-eleito
presidente Michel Suleiman.
A novidade em relação a governos anteriores é o aumento
do poder do Hizbollah e seus
aliados, que passam a ter direito a veto em assuntos estratégicos, como Defesa. O poder de
veto era exigência do grupo xiita, que chegou a deixar o gabinete anterior, acirrando a crise
no país, para pressionar por ele.
O direito foi concedido após
negociações que culminaram,
em maio, na assinatura dos
Acordos de Doha. Após o tratado em Catar -que encerrou 18
meses de uma crise política
marcada por confrontos que
quase levaram o Líbano a uma
nova guerra civil -, Siniora e
Suleiman negociaram entre as
duas facções políticas por mais
sete semanas até chegarem a
um consenso sobre a distribuição dos Ministérios.
O governo foi divido de acordo com a representação dos sete maiores grupos sectários do
país. Assim, o novo gabinete terá 5 cristãos maronitas, 5 greco-ortodoxos, 2 católicos, 6
muçulmanos sunitas (incluindo Siniora), 6 muçulmanos xiitas, 3 drusos e 2 armênios. O Líbano tem 18 grupos religiosos
oficialmente reconhecidos.
Negociações
Após a eleição de Suleiman
pelo Parlamento, em maio, o
desafio foi conciliar os dois lados. A oposição, apoiada por Síria e Irã, exigia Ministérios importantes, enquanto a maioria
governista, pró-Ocidente, discordava dos nomes indicados
pelo Hizbollah e seu aliado, o
general cristão Michel Aoun.
O próprio Aoun insistia em
cinco Ministérios, o que provocou a ira de outros grupos cristãos ligados aos governistas.
Outro empecilho foi a indicação de Ali Qanso, ex-líder do
Partido Nacionalista Social Sírio, rejeitada pelos pró-Ocidente. Qanso, segundo os governistas, teria fortes ligações com
membros da inteligência síria.
Depois de quase 30 anos de
ocupação militar, a Síria se retirou do país em 2005.
Uma negociação envolvendo
líderes governistas e o presidente do Parlamento, o xiita
Nabih Berri, terminou com a
retirada da objeção a Qanso,
pavimentando o caminho para
a formação do governo.
Analistas projetam grandes
desafios para Siniora e seu gabinete. "Um dos mais importantes será as armas do Hizbollah e o status do partido xiita
dentro do novo contexto do
país", disse o analista político
Paul Salem, diretor do Centro
Carnegie para o Oriente Médio.
O grupo -misto de milícia,
partido político e rede assistencialista- já anunciou que não
aceita incluir seu armamento
em metas do governo e alega
que precisa do arsenal para defender o país contra eventuais
ações de Israel. A missão de Suleiman e do gabinete fica mais
difícil com o poder de veto conquistado pelo Hizbollah.
Outro desafio serão as eleições parlamentares de 2009,
que prometem ser muito acirradas. "Pelo Acordo de Doha,
uma lei eleitoral deve ser aprovada para as eleições do ano
que vem. E já se sente que haverá muita briga, pois ninguém
quer perder poder", diz Salem.
Por fim, há a segurança -milícias armadas e o crescimento
de grupos fundamentalistas
ameaçam a estabilidade interna- e a economia: o Líbano
tem dívida externa superior a
US$ 45 bilhões, alto desemprego e sofre com a inflação dos
alimentos e combustíveis.
"Tudo isso colocará à prova a
união do governo e sua capacidade de colocar o Líbano nos
trilhos", salienta o analista.
Texto Anterior: Zimbábue: Rússia e China vetam sanções da ONU ao país Próximo Texto: Foco: Com quatro mortes em 24 horas, esfaqueamentos disparam em Londres Índice
|