São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Líbano anuncia governo de unidade após longo impasse

Das 30 pastas, 11 ficam com o Hizbollah e seus aliados, que ganham poder de veto

Anúncio segue semanas de negociações após protelada eleição do presidente; entre desafios, estão segurança e eleição legislativa em 2009


TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE

Após meses de impasse político, o premiê Fuad Siniora anunciou ontem um novo governo de unidade nacional no Líbano. Dos 30 ministros do gabinete, 16 são da maioria parlamentar anti-Síria, 11 da oposição liderada pelo Hizbollah e três ligados ao recém-eleito presidente Michel Suleiman.
A novidade em relação a governos anteriores é o aumento do poder do Hizbollah e seus aliados, que passam a ter direito a veto em assuntos estratégicos, como Defesa. O poder de veto era exigência do grupo xiita, que chegou a deixar o gabinete anterior, acirrando a crise no país, para pressionar por ele.
O direito foi concedido após negociações que culminaram, em maio, na assinatura dos Acordos de Doha. Após o tratado em Catar -que encerrou 18 meses de uma crise política marcada por confrontos que quase levaram o Líbano a uma nova guerra civil -, Siniora e Suleiman negociaram entre as duas facções políticas por mais sete semanas até chegarem a um consenso sobre a distribuição dos Ministérios.
O governo foi divido de acordo com a representação dos sete maiores grupos sectários do país. Assim, o novo gabinete terá 5 cristãos maronitas, 5 greco-ortodoxos, 2 católicos, 6 muçulmanos sunitas (incluindo Siniora), 6 muçulmanos xiitas, 3 drusos e 2 armênios. O Líbano tem 18 grupos religiosos oficialmente reconhecidos.

Negociações
Após a eleição de Suleiman pelo Parlamento, em maio, o desafio foi conciliar os dois lados. A oposição, apoiada por Síria e Irã, exigia Ministérios importantes, enquanto a maioria governista, pró-Ocidente, discordava dos nomes indicados pelo Hizbollah e seu aliado, o general cristão Michel Aoun.
O próprio Aoun insistia em cinco Ministérios, o que provocou a ira de outros grupos cristãos ligados aos governistas.
Outro empecilho foi a indicação de Ali Qanso, ex-líder do Partido Nacionalista Social Sírio, rejeitada pelos pró-Ocidente. Qanso, segundo os governistas, teria fortes ligações com membros da inteligência síria. Depois de quase 30 anos de ocupação militar, a Síria se retirou do país em 2005.
Uma negociação envolvendo líderes governistas e o presidente do Parlamento, o xiita Nabih Berri, terminou com a retirada da objeção a Qanso, pavimentando o caminho para a formação do governo.
Analistas projetam grandes desafios para Siniora e seu gabinete. "Um dos mais importantes será as armas do Hizbollah e o status do partido xiita dentro do novo contexto do país", disse o analista político Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio.
O grupo -misto de milícia, partido político e rede assistencialista- já anunciou que não aceita incluir seu armamento em metas do governo e alega que precisa do arsenal para defender o país contra eventuais ações de Israel. A missão de Suleiman e do gabinete fica mais difícil com o poder de veto conquistado pelo Hizbollah.
Outro desafio serão as eleições parlamentares de 2009, que prometem ser muito acirradas. "Pelo Acordo de Doha, uma lei eleitoral deve ser aprovada para as eleições do ano que vem. E já se sente que haverá muita briga, pois ninguém quer perder poder", diz Salem.
Por fim, há a segurança -milícias armadas e o crescimento de grupos fundamentalistas ameaçam a estabilidade interna- e a economia: o Líbano tem dívida externa superior a US$ 45 bilhões, alto desemprego e sofre com a inflação dos alimentos e combustíveis.
"Tudo isso colocará à prova a união do governo e sua capacidade de colocar o Líbano nos trilhos", salienta o analista.


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