São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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foco

Com quatro mortes em 24 horas, esfaqueamentos disparam em Londres

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

Ben Kinsella, 16, comemorava com os amigos o início de suas férias escolares em um bar em Londres quando se envolveu em uma discussão com um grupo impedido de entrar devido à lotação. Algumas horas depois, o que poderia ter acabado na típica escaramuça de porta de boate terminou em sangue.
O grupo barrado esperou Ben e os amigos na saída, e, na briga, o adolescente foi esfaqueado. Irmão de uma atriz, morreu a poucas quadras da casa do prefeito Boris Johnson e entrou, no último dia 30, nas estatísticas que nos últimos meses dominam as discussões no país.
Vinte adolescentes morreram esfaqueados neste ano em Londres, mais do que em todo o ano passado (16), numa onda de violência que parece longe do fim.
Só de quinta para ontem, em menos de 24 horas quatro pessoas foram mortas em incidentes distintos na capital, o que levou o comissário da Polícia Metropolitana, Ian Blair, a pedir que a população se "recompusesse" e mantivesse a calma.
O premiê Gordon Brown veio a público dizer que os crimes eram "chocantes" e prometeu que seu gabinete anunciaria novas medidas de segurança -sobre sentenças, prevenção e educação- nesta segunda. A venda de facas já é proibida para menos de 18 anos, mas uma das medidas em estudo é aumentar a pena para quem furar a proibição total do porte.

Mobilização
Com os episódios de ontem, somam 20 os adolescentes mortos de forma violenta neste ano e 50 os mortos a facadas em geral -dados que incluem casos como o assassinato de dois estudantes franceses, dentro de casa, com mais de 240 golpes na semana passada.
O problema não é novo e parece pequeno se comparado aos dados de metrópoles brasileiras, mas o número é alto para uma cidade de cerca de 7 milhões de habitantes que se orgulha de ser segura e proíbe o porte de arma de fogo, tanto que a maior parte de seus policiais nem sequer tem pistolas.
O surto recente levou à mobilização da mídia, do governo e da sociedade. Os crimes com facas ultrapassaram o terrorismo e estão no topo da lista de prioridades da polícia londrina, segundo um alto funcionário da organização, Paul Stephenson.
Quem trabalha na linha de frente com a população está com medo -dezenas de milhares de coletes à prova de facas têm sido encomendados por professores, médicos e outros profissionais.
"A situação nunca esteve tão ruim. Está totalmente fora de controle. As ruas de Londres viraram terra sem lei, nunca vi isso nos meus 29 anos de policial", disse à Folha Norman Brennan, que lidera uma campanha para diminuir os crimes com facas.
A maior parte dos assassinatos de jovens está relacionada a gangues que se enfrentam nas ruas da cidade. Um levantamento feito pela Scotland Yard no ano passado estimou que há mais de 170 desses grupos em Londres, alguns deles com centenas de integrantes.
Mas os crimes com faca se espalharam para além das gangues e têm tirado a vida de inocentes de todas as idades. Um dos casos que mais chocou os britânicos foi o assassinato de Martin Dinnegan, 14, esfaqueado em junho de 2007 porque, segundo sua mãe, Lorraine Dinnegan, "olhou atravessado" para membros de uma gangue.
"Há três razões para jovens carregarem facas: atividades criminosas; auto-defesa -que é um sintoma da sensação de insegurança da população-; e, em terceiro, puramente porque virou moda", disse Brennan.


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