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foco
Com quatro mortes em 24 horas, esfaqueamentos disparam em Londres
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Ben Kinsella, 16, comemorava com os amigos o início
de suas férias escolares em
um bar em Londres quando
se envolveu em uma discussão com um grupo impedido
de entrar devido à lotação.
Algumas horas depois, o que
poderia ter acabado na típica
escaramuça de porta de boate terminou em sangue.
O grupo barrado esperou
Ben e os amigos na saída, e,
na briga, o adolescente foi
esfaqueado. Irmão de uma
atriz, morreu a poucas quadras da casa do prefeito Boris Johnson e entrou, no último dia 30, nas estatísticas
que nos últimos meses dominam as discussões no país.
Vinte adolescentes morreram esfaqueados neste ano
em Londres, mais do que em
todo o ano passado (16), numa onda de violência que parece longe do fim.
Só de quinta para ontem,
em menos de 24 horas quatro pessoas foram mortas em
incidentes distintos na capital, o que levou o comissário
da Polícia Metropolitana,
Ian Blair, a pedir que a população se "recompusesse" e
mantivesse a calma.
O premiê Gordon Brown
veio a público dizer que os
crimes eram "chocantes" e
prometeu que seu gabinete
anunciaria novas medidas de
segurança -sobre sentenças, prevenção e educação-
nesta segunda. A venda de
facas já é proibida para menos de 18 anos, mas uma das
medidas em estudo é aumentar a pena para quem furar a proibição total do porte.
Mobilização
Com os episódios de ontem, somam 20 os adolescentes mortos de forma violenta neste ano e 50 os mortos a facadas em geral -dados que incluem casos como
o assassinato de dois estudantes franceses, dentro de
casa, com mais de 240 golpes
na semana passada.
O problema não é novo e
parece pequeno se comparado aos dados de metrópoles
brasileiras, mas o número é
alto para uma cidade de cerca de 7 milhões de habitantes que se orgulha de ser segura e proíbe o porte de arma de fogo, tanto que a
maior parte de seus policiais
nem sequer tem pistolas.
O surto recente levou à
mobilização da mídia, do governo e da sociedade. Os crimes com facas ultrapassaram o terrorismo e estão no
topo da lista de prioridades
da polícia londrina, segundo
um alto funcionário da organização, Paul Stephenson.
Quem trabalha na linha de
frente com a população está
com medo -dezenas de milhares de coletes à prova de
facas têm sido encomendados por professores, médicos
e outros profissionais.
"A situação nunca esteve
tão ruim. Está totalmente fora de controle. As ruas de
Londres viraram terra sem
lei, nunca vi isso nos meus 29
anos de policial", disse à Folha Norman Brennan, que lidera uma campanha para diminuir os crimes com facas.
A maior parte dos assassinatos de jovens está relacionada a gangues que se enfrentam nas ruas da cidade.
Um levantamento feito pela
Scotland Yard no ano passado estimou que há mais de
170 desses grupos em Londres, alguns deles com centenas de integrantes.
Mas os crimes com faca se
espalharam para além das
gangues e têm tirado a vida
de inocentes de todas as idades. Um dos casos que mais
chocou os britânicos foi o assassinato de Martin Dinnegan, 14, esfaqueado em junho de 2007 porque, segundo sua mãe, Lorraine Dinnegan, "olhou atravessado" para membros de uma gangue.
"Há três razões para jovens carregarem facas: atividades criminosas; auto-defesa -que é um sintoma da
sensação de insegurança da
população-; e, em terceiro,
puramente porque virou
moda", disse Brennan.
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