São Paulo, domingo, 12 de julho de 1998

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Vaticano pediu por criminosos

de Buenos Aires

O presidente da Argentina em 1946, general Juan Domingo Perón, recebeu pressões do Vaticano para receber no país colaboradores do regime nazista, de acordo com documentos encontrados pela Ceana.
Em julho daquele ano, o então embaixador argentino no Vaticano, Luís Castiñera, enviou carta ao ministro das Relações Exteriores de Perón, Juan Bramuglia, pedindo para a Argentina receber homens abrigados na Itália que não podiam voltar aos seus respectivos países de origem.
O governo italiano do pós-guerra abrigava cúmplices do nazi-fascismo, que não podiam voltar ao país natal pois eram procurados pela Justiça e temiam algum outro tipo de vingança. Boa parte desses homens eram sérvios ou croatas.
O diplomata Castiñera mencionou o interesse do então papa, Pio 12, no "plano de ação" para permitir a imigração dos colaboradores do regime nazi-fascista.
Franceses
Outro documento rastreado pela Ceana confirma a atenção da Igreja Católica, na época, com esses colaboradores.
Em maio de 46, o cardeal Eugenio Tisserand, responsável pelas missões do Vaticano na Europa do Leste, solicitou a Luís Castiñera vistos argentinos para duas famílias francesas de colaboradores.
Segundo o cardeal, as famílias tiveram "atitudes políticas durante a recente guerra que as deixariam expostas a medidas de rigor e vingança caso regressem à França".
Na carta, Tisserand afirma que conversou com o monsenhor argentino Antonio Caggiano antes de pedir o visto para as famílias dos colaboradores nazi-fascistas. Caggiano teria dito ao cardeal que a Argentina estaria disposta a receber os franceses.
Em 1960, em artigo publicado pelo jornal argentino "La Razón", Caggiano afirmou que a "obrigação dos cristãos" era perdoar o que os integrantes do regime fascista fizeram.
Eichmann
Naquele ano, Adolf Eichmann, mentor da "solução final", plano de ação responsável pela morte de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra, foi sequestrado na Argentina por israelenses. Numa operação ilegal, foi levado a Israel, julgado e condenado à morte.
Segundo Caggiano, ele havia chegado à Argentina em busca de perdão.



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