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Pesquisador nega ligação estreita do país com nazistas
de Buenos Aires
Para Ignacio Klich, coordenador
da Ceana (Comissão de Esclarecimento das Atividades do Nazismo), a história desmente a percepção geral de que a Argentina teve
ligação estreita com o nazismo.
"Nos EUA, há versões de que
chegaram 60 mil criminosos de
guerra. A (revista) 'New Yorker'
publicou que Buenos Aires foi a
Berlim americana durante o período. Como, se nossas exportações iam para os aliados? Recebemos 45 mil refugiados judeus na
época", disse o historiador.
A Ceana, criada por decreto presidencial em 1997, reúne pesquisadores locais e estrangeiros que investigam em fontes e arquivos disponíveis as relações da Argentina
com os países do Eixo.
Já concluiu que a Argentina não
comercializou com a Alemanha
nazista e que submarinos do Eixo
não estiveram na costa sul-americana. Essas informações foram ratificadas por informe do Departamento de Estado dos EUA.
O FBI (polícia federal dos Estados Unidos) avaliou durante anos
a possibilidade de o líder nazista
Adolf Hitler ter fugido para a Argentina em submarino.
Folha - Por que existe a imagem
de que a Argentina foi próxima ao
regime nazista?
Ignacio Klich - A Argentina cortou relações com os países do Eixo
somente em janeiro de 1944. A demora para os EUA significou simpatia com o nazismo. Por outro lado, para os britânicos, a neutralidade foi boa, pois protegeu as exportações argentinas dos ataques
alemães.
Folha- Há outro fatos?
Klich - A Argentina tentou
manter as relações privilegiadas
com a Europa e ficar neutra, assim
como fez na Primeira Guerra
Mundial (1914-18). A demora em
cortar relações fez do país a base
no continente para agentes de propaganda e inteligência do Eixo.
Com isso, houve contrabando de
matéria-prima para a indústria bélica nazista. Depois da guerra, como fizeram outros países, a Argentina importou imigrantes de
alto nível profissional.
Junto com esses técnicos, vieram
criminosos de guerra e pessoas indesejáveis. A oposição alimentou a
imagem de vinculação com o nazismo ao usar isso na disputa política interna.
Folha - Mas o general Juan Domingo Perón não estudou na Itália
e foi um admirador do fascismo?
Klich - Sem dúvida, Perón simpatizou com métodos fascistas.
Desde o final do século passado, o
Exército argentino tinha instrutores alemães. Mas do ponto de vista
ideológico é difícil associar o peronismo com o fascismo. Perón carecia de clareza ideológica.
Folha - Por que se nota mais casos de criminosos de guerra na Argentina do que em outros países?
Klich - Por sermos o último país
a cortar relações com o Eixo, as
pessoas na Alemanha tinham uma
imagem simpática da Argentina.
Mas é difícil provar que fomos o
principal refúgio. Para isso, teríamos de saber o total de criminosos
que passaram por outros países.
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