São Paulo, domingo, 12 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pesquisador nega ligação estreita do país com nazistas

de Buenos Aires

Para Ignacio Klich, coordenador da Ceana (Comissão de Esclarecimento das Atividades do Nazismo), a história desmente a percepção geral de que a Argentina teve ligação estreita com o nazismo.
"Nos EUA, há versões de que chegaram 60 mil criminosos de guerra. A (revista) 'New Yorker' publicou que Buenos Aires foi a Berlim americana durante o período. Como, se nossas exportações iam para os aliados? Recebemos 45 mil refugiados judeus na época", disse o historiador.
A Ceana, criada por decreto presidencial em 1997, reúne pesquisadores locais e estrangeiros que investigam em fontes e arquivos disponíveis as relações da Argentina com os países do Eixo.
Já concluiu que a Argentina não comercializou com a Alemanha nazista e que submarinos do Eixo não estiveram na costa sul-americana. Essas informações foram ratificadas por informe do Departamento de Estado dos EUA.
O FBI (polícia federal dos Estados Unidos) avaliou durante anos a possibilidade de o líder nazista Adolf Hitler ter fugido para a Argentina em submarino.

Folha - Por que existe a imagem de que a Argentina foi próxima ao regime nazista?
Ignacio Klich -
A Argentina cortou relações com os países do Eixo somente em janeiro de 1944. A demora para os EUA significou simpatia com o nazismo. Por outro lado, para os britânicos, a neutralidade foi boa, pois protegeu as exportações argentinas dos ataques alemães.
Folha- Há outro fatos?
Klich -
A Argentina tentou manter as relações privilegiadas com a Europa e ficar neutra, assim como fez na Primeira Guerra Mundial (1914-18). A demora em cortar relações fez do país a base no continente para agentes de propaganda e inteligência do Eixo. Com isso, houve contrabando de matéria-prima para a indústria bélica nazista. Depois da guerra, como fizeram outros países, a Argentina importou imigrantes de alto nível profissional.
Junto com esses técnicos, vieram criminosos de guerra e pessoas indesejáveis. A oposição alimentou a imagem de vinculação com o nazismo ao usar isso na disputa política interna.
Folha - Mas o general Juan Domingo Perón não estudou na Itália e foi um admirador do fascismo?
Klich -
Sem dúvida, Perón simpatizou com métodos fascistas. Desde o final do século passado, o Exército argentino tinha instrutores alemães. Mas do ponto de vista ideológico é difícil associar o peronismo com o fascismo. Perón carecia de clareza ideológica.
Folha - Por que se nota mais casos de criminosos de guerra na Argentina do que em outros países?
Klich -
Por sermos o último país a cortar relações com o Eixo, as pessoas na Alemanha tinham uma imagem simpática da Argentina. Mas é difícil provar que fomos o principal refúgio. Para isso, teríamos de saber o total de criminosos que passaram por outros países.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.