DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou ontem que os juízes do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) devem ter cuidado com a decisão que devem tomar sobre os militares acusados pelo golpe que o tirou por dois dias do poder, em abril, e acusou alguns juízes de estarem sendo manipulados. "Os juízes do STJ devem ter muito cuidado quando forem tomar as decisões", disse Chávez em seu programa semanal de rádio. "Todo mundo sabe que aqui houve um golpe."
O STJ rechaçou dois pedidos para indiciamento de quatro altos oficiais por rebelião militar e espera discutir na próxima semana um terceiro. "Vocês podem acreditar que o povo não vai se calar", disse Chávez.
Os simpatizantes de Chávez vêm protestando diariamente em frente à corte, com frequentes confrontos com a polícia e com opositores, incluindo uma troca de tiros que deixou 24 feridos há duas semanas.
Chávez diz ter "possíveis provas" de que alguns juízes são manipulados por "gente que tem muito dinheiro" e que os pressionam. "Se tiver que dizer os nomes, vou dizer", disse.
A oposição e os militares acusados de rebelião negam ter praticado um golpe, alegando ter atuado por conta de um "vazio de poder" produzido pela suposta renúncia de Chávez e a demissão de seu vice. Ele nega ter renunciado.
Chávez reiterou que houve um golpe e disse que negar isso, em caso de uma nova negativa do STJ de julgar os militares, teria graves consequências. "Eu estive preso. Como não houve golpe? Eliminaram o Supremo Tribunal e a Assembléia. Como não houve golpe?", questionou.
Segundo ele, houve uma ordem para matá-lo do palácio presidencial de Miraflores no dia 12 de abril, quando o líder empresarial Pedro Carmona, atualmente asilado na Colômbia, ocupava seu lugar. "A ordem que saiu era que Hugo Chávez não deveria amanhecer vivo no dia 13", disse. Segundo ele, a ordem só não foi cumprida por causa da negativa de soldados e oficiais leais a ele.
Porém Chávez eximiu de culpa os militares pelo golpe, dizendo que eles foram manipulados pelos "verdadeiros golpistas". "Estão querendo culpar alguns militares, mas a culpa não é deles. Eles foram utilizados. Os autores intelectuais estão por aí protegidos, e alguns saíram do país."