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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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ÁFRICA

"Se Deus quiser, voltarei", diz ex-presidente; população comemora, mas é impedida de cruzar pontes por milícias governistas

Taylor deixa a Libéria; vice assume o poder

Georges Gobet/France Presse
No aeroporto de Monróvia, o ex-presidente Taylor acena ao entrar no avião que o levou à Nigéria


DA REDAÇÃO

Charles Taylor, 54, não é mais o presidente da Libéria. Após forte pressão dos EUA e de países do oeste africano e uma extenuante guerra civil, ele deixou Monróvia ontem com sua família rumo ao asilo na Nigéria, aonde chegou horas mais tarde. Pouco antes de sua partida, três navios de guerra americanos se aproximaram da costa liberiana, de onde podiam ser vistos a olho nu.
Antes de embarcar, Taylor transmitiu o poder a seu vice, Moses Blah, em cerimônia no palácio presidencial assistida pelos presidentes John Kufuor (Gana), Joaquim Chissano (Moçambique) e Thabo Mbeki (África do Sul).
"A história será gentil comigo. Completei o meu dever", disse Taylor, na cerimônia. "Se Deus quiser, voltarei."
De acordo com Kufuor, presidente em exercício da Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano (Ecowas), Blah fará um governo de transição até o dia 14 de outubro, quando deverão ser realizadas eleições nacionais.
Blah, 56, tem sido um aliado próximo de Taylor desde que os dois foram treinados juntos na Líbia, nos anos 80. Os líderes rebeldes inicialmente recusaram a possibilidade de ele assumir, mas depois concordaram que realizasse um governo de transição. Não ficou claro quais poderes Blah terá como presidente.
Em entrevista à rede CNN, Blah afirmou que estava oferecendo o cargo de vice-presidente para os rebeldes. "Eu estou convidando [os rebeldes] para que venham a Monróvia, estou dando a eles o posto de vice-presidente, para que se unam a um governo que traga a paz para a Libéria."
No aeroporto de Monróvia, amigos, parentes e até mesmo alguns soldados choraram na despedida de Taylor e de sua família, que embarcaram em um avião do governo nigeriano.
Dois meses de combates intermitentes na região de Monróvia deixaram cerca de 2.000 pessoas mortas na cidade, que tem 1,3 milhão de habitantes. Nos últimos dias, Taylor controlava apenas a região central da cidade.

Celebração
Logo após a partida de Taylor, combatentes dos dois lados, indistinguíveis em suas roupas rasgadas, se encontraram numa das diversas pontes da capital -palco de conflitos sangrentos- e começaram a conversar e a dançar ao som de reggae e hip-hop.
Aos poucos, milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar, mas elas não chegaram a cruzar as pontes. Algumas milícias do governo permaneceram a postos de forma ameaçadora, armas e granadas-foguetes à mão.
As tropas de paz da Ecowas, que só chegaram na semana passada, já estão conseguindo assegurar uma calma relativa no país.

Rastro
Em 1989, como líder rebelde, Taylor lançou o país em um grande conflito, quase sem interrupções durante os últimos 14 anos. Segundo agências de ajuda humanitária internacionais, praticamente toda a população da Libéria, estimada em 3 milhões de habitantes, teve de sair de suas casas em algum momento.
Ele foi eleito presidente em 1997, mas grupos rebeldes voltaram a combatê-lo dois anos mais tarde.
Em junho, ele foi indiciado por uma corte em Serra Leoa, com o apoio da ONU. Os promotores o acusam de trocar armas por diamantes com rebeldes do país vizinho, conhecidos pela brutalidade.

Com o "Le Monde" e agências internacionais

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