São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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TERROR EM LONDRES

Governo pretende deportar todos os detidos, que são acusados de conspirar contra a "segurança nacional"

Londres prende 10 estrangeiros por "ameaça"

DA REDAÇÃO

A polícia do Reino Unido deteve ontem, com o auxílio de agentes da Imigração, dez estrangeiros sob a alegação de que são "uma ameaça à segurança nacional", e o governo britânico informou que os pretende deportar.
Entre os detidos está o clérigo palestino Omar Mahmood Abu Omar, conhecido como Abu Qatada e suspeito de ter ligações com a Al Qaeda. Qatada, que tem passaporte jordaniano, havia obtido asilo do Reino Unido em 1993.
O anúncio provocou reações negativas de grupos de defesa dos direitos humanos, principalmente quanto à intenção de deportar os detidos. A advogada Gareth Peirce, que defende sete dos dez estrangeiros, entre eles Qatada -e que também representa a família do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia britânica em 22 de julho-, afirmou que as dez pessoas "foram arrastadas para a prisão, e o acesso a elas nos foi negado". "Agora, tudo bem se deportarem pessoas que por anos o governo afirmou que não seria seguro deportar. Fantástico!", adicionou Peirce, comentando com ironia a intenção de deportação.
O comentário da advogada vem a propósito de o governo britânico ser signatário da Convenção Européia sobre Direitos Humanos, a qual estabelece que não se pode deportar nenhuma pessoa a países em que elas corram risco de sofrer maus-tratos e tortura.
A fim de contornar esse impedimento, o Reino Unido tenta assinar acordos bilaterais com dez países, que assumiriam a responsabilidade de garantir os direitos dos deportados. Entre esses países estão Argélia, Líbano, Egito e Tunísia. Com a Jordânia um acordo já foi assinado, anteontem. Daí o receio de Peirce de que Qatada seja deportado logo.
O ativista de direitos humanos e enviado especial da ONU para assuntos relativos a tortura Manfred Nowak disse à agência de notícias Associated Press que esses pequenos acordos que os britânicos pretendem firmar não têm significância em face das leis internacionais e não são suficientes para proteger os deportados.
Já Mike Blakemore, um dos porta-vozes da Anistia Internacional, foi mais direto, dizendo que "as garantias dadas por notórios torturadores não valem o papel em que são escritas".
Sobre as detenções e eventuais deportações, o ministro do Interior, Charles Clarke, afirmou que a situação mudou desde os atentados a Londres de 7 de julho e que é necessário agir contra as ameaças ao país. Segundo Clarke, as prisões têm respaldo na Lei de Imigração do Reino Unido.
Hazel Blears, secretário do ministério comandado por Clarke, observou que, no acordo entre os governos britânico e jordaniano, existe um "mecanismo independente" para monitorar o tratamento dos deportados.

21 de julho
A polícia britânica informou ontem que, no último domingo, prendeu seis pessoas sob suspeita de conexão com as tentativas de atentado de 21 de julho. As autoridades não deram mais detalhes sobre as detenções.
Na Itália, foi iniciado o processo de extradição de um suspeito de participar das tentativas de 21 de julho. O etíope naturalizado britânico Osman Hussein deve ser extraditado a pedido de Londres.
Na capital britânica, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, que em 1989 foi sentenciado à morte pelo aiatolá Khomeini, publicou ontem artigo no jornal "Times" defendendo que haja uma reforma no islã, a fim de que sejam modernizados os conceitos fundamentais da religião e que ela interesse mais aos jovens.


Com agências internacionais

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