São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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"EIXO DO MAL"

Resolução da AIEA fala em "grande preocupação" com atividade nuclear iraniana; para Teerã, decisão é inaceitável

ONU dá a Irã prazo para fim de programa

DA REDAÇÃO

A AIEA (agência de energia atômica da ONU) aprovou ontem uma resolução em que fixa prazo até 3 de setembro para que o Irã interrompa o programa nuclear que retomou nesta semana. Teerã considerou a decisão inaceitável.
Caso o programa não seja interrompido, a AIEA poderá enviar relatório ao Conselho de Segurança da ONU, que tem faculdades de impor sanções ao país.
Adotada por consenso pelos 35 países do conselho diretor da agência, a decisão vem após o Irã ter recusado a oferta feita por Reino Unido, França e Alemanha para que suas atividades nucleares fossem suspensas em troca de incentivos políticos e econômicos.
Anteontem, o Irã rompeu os lacres da AIEA na usina nuclear de Isfahan, tornando-a operacional para produção de urânio enriquecido. Os EUA temem que Teerã produza armas atômicas, mas o país alega que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
Preparada pelas três potências européias, a resolução expressa "grande preocupação" pelas atividades nucleares iranianas. "Questões importantes relativas ao programa nuclear do Irã ainda têm de ser resolvidas, e a agência não está numa posição de concluir se há materiais ou atividades nucleares não declaradas no Irã", diz.
A resolução também "insta o Irã a restabelecer a suspensão total de todas as atividades relativas ao enriquecimento [de urânio] e que permita ao diretor-geral [da AIEA, Mohamed El Baradei] recolocar os lacres que foram removidos".
Pelo documento, caberá a El Baradei apresentar um relatório ao fim do prazo fixado sobre o cumprimento do Irã ao acordo de salvaguardas e à resolução.
Teerã reagiu com indignação à decisão. "O Irã não pode aceitar essa resolução", disse Mohammad Saeedi, vice-diretor da Organização de Energia Atômica do Irã à agência de notícias ISNA.
"É evidente que o motivo é fazer pressão. Felizmente, o Irã não irá se curvar", disse Sirus Nasseri, chefe da delegação iraniana na AIEA.
Segundo Nasseri, o documento é inaceitável porque impede atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio que o país está autorizado a realizar de acordo com o Tratado de Não-Proliferação (TNP). "Tudo o que o Irã quer é gozar de um direito sob o TNP, um direito que lhe tem sido negado durante mais de duas décadas", disse.
"Vamos observar nossas obrigações no nosso programa de produção de combustível nuclear", afirmou Nasseri. "O Irã será um produtor e fornecedor de combustível nuclear dentro de uma década."

"Passo positivo"
Em seu rancho no Texas, o presidente dos EUA, George W. Bush, qualificou a resolução de "um primeiro passo positivo" da AIEA em relação ao Irã. "O mundo está convergindo para a noção de que os iranianos não devem ter os meios e os recursos para desenvolver uma arma nuclear", afirmou.
A Chancelaria britânica divulgou nota segundo a qual o país diz que é uma "forte e consensual resolução da AIEA como no passado". "Isso leva uma mensagem clara ao Irã sobre o que deve fazer. Ainda acreditamos que haja uma maneira não confrontativa de avançar se o Irã quiser adotá-la."
Os enviados da União Européia também divulgaram nota em que afirmam que "a questão nuclear iraniana é uma questão de paz e de segurança globais e não uma briga privada entre a UE e o Irã".
A resolução deixa aberta a "possibilidade de novas discussões" entre o Irã e as três potências européias para resolver o impasse.
El Baradei se disse otimista. "Estou encorajado pelas declarações tanto do Irã como dos três europeus de que estão prontos para continuar as negociações", disse.


Com agências internacionais

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