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RUMO À TERRA SANTA
Mouallen, nomeado arcebispo da Galiléia (Israel), mora no Brasil desde 90; indicação desagradou a 'Bibi'
Não sou uma ameaça, diz arcebispo
PAULO DANIEL FARAH
da Redação
"Sempre fui um elemento de
pacificação, minha vida toda",
afirma o recém-nomeado arcebispo da Galiléia (norte de Israel), o
palestino Pierre Mouallem, que vive no Brasil desde 1990.
Na semana passada, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin
Netanyahu, deixou claro a líderes
da Igreja Greco-Melquita e do Vaticano que não queria que Mouallem fosse nomeado arcebispo da
Galiléia. A interferência desagradou ao Vaticano, que disse ao governo de Israel que um acordo entre os dos países garante "a autonomia da igreja e do Estado, cada
um em seu próprio domínio".
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Mouallem
concedeu à Folha na Igreja Greco-Melquita Católica do Brasil
Nossa Senhora do Paraíso, localizada no bairro do Paraíso, zona
sudoeste de São Paulo.
Folha - O senhor acha que as relações entre o Vaticano e Israel
possam ser prejudicadas?
Pierre Mouallem - Acho que as
coisas vão se arrumar. Estranhei o
que aconteceu; não pude acreditar.
Deve haver algo errado. Nunca tive
problemas com ninguém.
Folha - Isso pode atrapalhar a
sua missão de alguma maneira?
Mouallem - Acho que não. Não
estou ameaçando ninguém. Sempre fui um elemento de pacificação, toda a minha vida. Acho que
quando as coisas ficarem mais claras, eles verão a realidade.
Folha - O senhor lembra um pouco da sua infância na Galiléia?
Mouallem - Naquela época, minha aldeia era pequena. Vivíamos
com muita calma, com boa convivência. Meu avô era padre, meu
pai era padre. Eu me lembro bem
de que meu avô era pároco na aldeia, mas tinha grande influência
na região toda. Não só os cristãos,
mas os muçulmanos, os drusos o
respeitavam. Quando havia um litígio, mesmo o governo do mandato britânico de então deixava
que ele fizesse a conciliação fora
dos tribunais. Ele fazia a reconciliação das tribos.
Folha - Como funciona o processo de eleição de bispos?
Mouallem - Na Igreja Melquita
temos um estatuto especial. Nas
outras igrejas católicas orientais,
cada eleição deve ser aprovada por
Roma. No caso dos melquitas, é
um pouco diferente. Os sínodos
(do grego "synodus", que significa reunião, concílio) podem apresentar candidatos ao bispado.
Constituem-se assim listas de episcopáveis. Esses nomes são enviados a Roma. Se não houver uma
razão especial, geralmente são
aprovados. Se houver uma razão,
chama-se a atenção do sínodo. Podemos ter 15, 20 nomes disponíveis. Quando há a necessidade de
eleger um bispo para uma diocese,
existe uma lista. Se o eleito já figura
nela, não precisa mais de uma
aprovação. Caso contrário, o nome é enviado a Roma para ser
aprovado. Nos países da imigração, o procedimento é um pouco
diferente. Eu, por exemplo, faço
parte do sínodo no Oriente e da
CNNB. O sínodo elege três nomes,
que manda para Roma. Roma faz o
inquérito necessário, e o Santo Padre (o papa) escolhe um desses três
nomes. Assim foi meu caso.
Folha - No caso de arcebispos...
Mouallem - O procedimento é o
mesmo para arcebispo e bispo.
Folha - Qual foi sua trajetória até
a nomeação?
Mouallem - Fui um dos primeiros a convidar xeques muçulmanos ao meu convento para dar palestras aos seminaristas. No Líbano, havia mesas redondas na televisão. Duas, três horas com os xeques. Eu dirigia o diálogo. Acho
que foi por isso que o papa Paulo
6º me deu a honra de ser o único
oriental na Comissão Católica do
Diálogo Teológico Católico Ortodoxo. Participei de um congresso
em Nova Déli, (em 93) sobre várias
religiões: cristianismo, islamismo,
judaísmo, budismo etc. Um instituto judeu e um cristão me convidaram para um congresso em Israel. Tenho muita amizade com
xeques, rabinos.
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