São Paulo, quarta, 12 de agosto de 1998

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BASTIDORES
Caso esfria relação com igreja

MARCELO STAROBINAS
free-lance para a Folha

A tentativa do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, de intervir em uma decisão papal estremeceu as relações entre Israel e o Vaticano. É o que afirma Menachem Gantz, correspondente no Vaticano do jornal israelense "Maariv", o primeiro a publicar a história sobre a nomeação do bispo palestino Pierre Mouallem.
Na semana passada, Netanyahu expressou publicamente seu desgosto com a decisão do Vaticano. Disse que Mouallem "pertence a um ambiente contrário à paz" e ameaçou impedir sua entrada no país. Afirmou que o nomeado pelo Vaticano é perigoso e citou o exemplo de um bispo grego, preso em 1974 contrabandeando armas para militantes palestinos.
Naquele dia, Gantz conversou com o secretário de imprensa do Vaticano. "Ele me disse que apenas ditaduras como a China e o Vietnã tentaram alguma vez fazer ingerências numa decisão papal".
Na sexta-feira, a insatisfação da igreja ficou evidente. Em comunicado, o Vaticano disse que as declarações de Netanyahu desrespeitam um artigo do acordo de reconhecimento mútuo firmado com Israel em 1993. No documento, fica acertado que cabe ao Vaticano nomear o arcebispo da Galiléia.
No mesmo dia, a delegação do Vaticano na ONU distribuiu nota condenando a política de construção de moradias judaicas em Jerusalém.
Na opinião do jornalista, a atitude de Netanyahu pode ter desperdiçado anos de trabalho de reaproximação entre o país e o Vaticano. Diplomatas israelenses em Roma expressaram descontentamento.
Netanyahu queria que o cargo fosse conferido a Emil Shufani, religioso ligado ao partido governista Likud. Segundo Gantz, dois motivos levaram o premiê a se opor a Mouallem: primeiro, por ele ser palestino. A outra razão seria puramente política: os cristãos são cidadãos israelenses e votam nas eleições. Um arcebispo próximo garantiria ao premiê maior penetração nessa comunidade.



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