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BASTIDORES
Caso esfria relação com igreja
MARCELO STAROBINAS
free-lance para a Folha
A tentativa do premiê israelense, Binyamin Netanyahu,
de intervir em uma decisão papal estremeceu as relações entre Israel e o Vaticano. É o que
afirma Menachem Gantz, correspondente no Vaticano do
jornal israelense "Maariv", o
primeiro a publicar a história
sobre a nomeação do bispo palestino Pierre Mouallem.
Na semana passada, Netanyahu expressou publicamente
seu desgosto com a decisão do
Vaticano. Disse que Mouallem
"pertence a um ambiente contrário à paz" e ameaçou impedir sua entrada no país. Afirmou que o nomeado pelo Vaticano é perigoso e citou o exemplo de um bispo grego, preso
em 1974 contrabandeando armas para militantes palestinos.
Naquele dia, Gantz conversou com o secretário de imprensa do Vaticano. "Ele me
disse que apenas ditaduras como a China e o Vietnã tentaram alguma vez fazer ingerências numa decisão papal".
Na sexta-feira, a insatisfação
da igreja ficou evidente. Em
comunicado, o Vaticano disse
que as declarações de Netanyahu desrespeitam um artigo do
acordo de reconhecimento
mútuo firmado com Israel em
1993. No documento, fica acertado que cabe ao Vaticano nomear o arcebispo da Galiléia.
No mesmo dia, a delegação
do Vaticano na ONU distribuiu nota condenando a política de construção de moradias
judaicas em Jerusalém.
Na opinião do jornalista, a
atitude de Netanyahu pode ter
desperdiçado anos de trabalho
de reaproximação entre o país
e o Vaticano. Diplomatas israelenses em Roma expressaram descontentamento.
Netanyahu queria que o cargo fosse conferido a Emil Shufani, religioso ligado ao partido governista Likud. Segundo
Gantz, dois motivos levaram o
premiê a se opor a Mouallem:
primeiro, por ele ser palestino.
A outra razão seria puramente
política: os cristãos são cidadãos israelenses e votam nas
eleições. Um arcebispo próximo garantiria ao premiê maior
penetração nessa comunidade.
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