São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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GUERRA NA AMÉRICA

Terror abala centro do poder nos EUA

Aviões sequestrados destroem símbolo de Nova York e derrubam parte do Pentágono; paralisado, país ainda tenta contar seus mortos e promete encontrar os responsáveis

Reuters
Vista das torres do World Trade Center em chamas a partir da ponte Brooklin, que liga região homônima a Manhattan


Os EUA sofreram o maior ataque terrorista da história, no qual foram atingidos símbolos de sua hegemonia econômica e militar. Aviões sequestrados destruíram ontem pela manhã as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Nos arredores de Washington, foi atacado o Pentágono, sede do Departamento de Defesa. Ainda não há estimativa oficial de mortos. O prefeito de Nova York prevê um "número horrendo".
Perto de 50 mil pessoas trabalham nos escritórios e lojas do World Trade Center. No Pentágono, cerca de 20 mil.
No que se acredita ser uma previsão modesta, policiais ouvidos pela Folha falam em 10 mil mortos só em Nova York. Em toda a Guerra do Vietnã, morreram cerca de 60 mil americanos.
Já se sabe que 266 pessoas estavam nos quatro aviões sequestrados -dois da American Airlines e dois da United. Além dos três que atingiram alvos, um caiu no Estado da Pensilvânia.
O presidente dos EUA, George W. Bush, estava na Flórida no momento dos ataques. Afirmou que os responsáveis serão caçados e punidos. "Não faremos distinção entre os terroristas que cometeram esses atos e aqueles que os abrigam", declarou ele à noite, já na Casa Branca.
As ações começaram às 8h45 (9h45 em Brasília), quando a primeira aeronave abriu uma enorme cratera no alto da torre norte do World Trade Center. Cerca de 15 minutos depois, já diante das câmeras de TV, foi atingida a torre sul. No incêndio, vítimas se jogaram do prédio.
Às 9h45 ocorreu o ataque ao Pentágono, que teve uma de suas alas destruída pelo fogo. Uma comentarista da rede de TV CNN estava no avião que se chocou contra o edifício. Antes de morrer, contou por telefone ao marido que os sequestradores portavam facas e estiletes.
A tragédia maior se deu em Nova York. Às 10h veio abaixo a primeira das duas torres de 110 andares. Meia hora depois, o quinto maior edifício do mundo estava no chão, envolvendo em espessa fumaça o sul da ilha de Manhattan. No final da tarde, ruiu também um prédio de 47 andares que fazia parte do complexo.
Houve pânico nas ruas e falta de sangue nos hospitais. "Centenas de pessoas estão queimadas da cabeça aos pés", relatou um médico de pronto-socorro no vizinho Greenwich Village.
Pontes e túneis que ligam Manhattan ao continente foram fechados. De jogos de beisebol a shows de música, eventos foram cancelados em todo o país. Os parques da Disney, fechados.
Ao redor do mundo, embaixadas e empresas americanas foram interditadas, e as bases militares, colocadas em alerta máximo.
Pela primeira vez na história, o espaço aéreo do país foi inteiramente fechado para aviões comerciais, situação que será mantida pelo menos até o meio-dia de hoje. Vôos do Brasil para os EUA estão suspensos indefinidamente.
Ninguém reivindicou a autoria dos atentados. O Taleban, grupo extremista islâmico que controla o país, negou envolvimento e procurou inocentar Osama bin Laden, a quem são atribuídos os ataques de 1998 às embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia.
No início da noite, bombas explodiram no Afeganistão. A oposição assumiu a responsabilidade.
Em Nova York, a polícia prendeu três pessoas supostamente relacionadas com as ações terroristas de ontem.
Dos membros da União Européia à adversária Cuba, quase todos os países manifestaram repúdio ao ataque. Iasser Arafat, presidente da Autoridade Palestina, também condenou a ação. Mas, na Cisjordânia e no Líbano, palestinos comemoraram nas ruas.
Em carta a Bush, o presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou: "O Brasil condena todas as formas de terrorismo".
A Bolsa de Nova York e a Nasdaq suspenderam as operações e anunciaram que não abrirão hoje. No Brasil, o dólar atingiu o recorde do Real: chegou a ser negociado a R$ 2,677. Em todo o mundo, houve uma corrida para o ouro.
Foi o primeiro ataque ao território dos EUA desde o bombardeio à base naval de Pearl Harbor, em 1941, que deixou 2.395 mortos e determinou a entrada do país na Segunda Guerra.

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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