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Ação põe em dúvida doutrina republicana
JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os impressionantes ataques de
ontem, contra ícones e pontos nevrálgicos do império norte-americano, demonstraram a vulnerabilidade da única superpotência
do planeta e representaram um
golpe abaixo da cintura nos cálculos de segurança nacional do governo de George W. Bush.
Nessa área, a administração republicana destacou como prioridade a implantação do sofisticado
e polêmico plano de um escudo
antimísseis, destinado a proteger
o país de projéteis disparados a
longa distância, a partir de paragens inimigas. Mas os terroristas
do século 21 usaram aviões comerciais, sem o glamour dos mísseis intercontinentais tão temidos
pela Casa Branca.
Bush não vai abrir mão do sistema projetado para interceptar e
destruir mísseis inimigos durante
o vôo, ainda na atmosfera. Vai até
mesmo, apoiado na tragédia de
ontem, agitar o fantasma do terrorismo como uma das grandes
ameaças à hegemonia americana.
Mas a Casa Branca terá de abrir
mão de sua "obsessão teológica"
de colocar o escudo antimísseis
como ponto central de sua política de defesa, para admitir uma
abordagem mais flexível, que preveja esforços e recursos para aprimorar, por exemplo, o serviço de
contra-inteligência do país.
A expressão "obsessão teológica" foi usada por democratas em
críticas à ênfase usada pelos republicanos para defender o escudo,
que corresponde a um filhote do
reaganiano "Guerra nas Estrelas",
proposto ainda nos tempos da rivalidade com a finada URSS.
A leitura republicana deste início de século destaca a necessidade de preparar os EUA para ataques de mísseis de longo alcance
disparados por "Estados irresponsáveis", como a Coréia do
Norte ou o Irã, ou por terroristas.
O escudo, apesar de custos avaliados em até US$ 60 bilhões e de dúvidas sobre a sua eficácia, se transformou na maior bandeira do governo na área de defesa, apesar de
críticas feitas até por aliados.
A resistência ao projeto americano é liderada pela China, que
enxerga na iniciativa um passo
decisivo para o aumento e a consolidação da vantagem estratégica
dos EUA. Pequim, ao lado de
Moscou, diz que a implantação
do escudo vai deslanchar uma nova corrida armamentista.
Os fatos de ontem mostram que
a Casa Branca não pode canalizar
praticamente toda a sua energia
na área de defesa a preocupações
como mísseis intercontinentais.
O perigo de destruição em massa
pode estar em ferramentas bem
menos sofisticadas, como aviões
comerciais.
Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online
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