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"Fim" traz versão do colapso americano
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor norte-americano
George A. Matiasz, 49, explorou
em seu livro "Fim - Notas sobre os
Últimos Dias do Império Americano" (Conrad) o impacto de
uma guerra civil na sociedade dos
EUA de 2007.
Ele não imaginaria, no entanto,
que a intenção da qual se alimentam seus personagens -a de instaurar o caos na nação mais poderosa do mundo- poderia ser
convertida em realidade nas mãos
de terroristas anônimos munidos,
não de bombas, mas de aviões sequestrados ainda em 2001.
"Fim" foi originalmente lançado por uma editora independente
em 94, e chegou ao Brasil em meados deste ano, pela Conrad.
Seu autor, nascido na Alemanha, foi hippie até topar com o
movimento punk, do qual se tornou ativista fervoroso e panfletário. Matiasz é formado em história e, nas horas vagas, assume o
pseudônimo "Lefty" Hooligan,
que assina textos políticos corrosivos contra o establishment no
site www.huahuacoyotl.com e na
revista punk "Maximum
Rock'n'Roll".
No livro, o governo dos EUA
entra em guerra com zapatistas
do México, utilizando um arsenal
tecnológico digno de ficção científica futurista. Com isso, gera reações da sociedade em todo o país,
que ganham o contorno de uma
violenta batalha entre civis e forças policiais.
As descrições dos conflitos de
"Fim" mantêm um pé na literatura e outro na política e remetem
aos confrontos das manifestações
dos movimentos antiglobalização
em Seattle, Praga e Gênova. Tudo
escrito muito antes de eles virarem notícias nos jornais.
"Meu livro trata do colapso da
ordem social internacional e do
crescimento potencial do terrorismo doméstico nos EUA. Eu
não tenho fatos detalhados, mas
atingi o espirito de nosso tempo
na mosca", admite Matiasz, em
entrevista à Folha por e-mail, enquanto assistia, de camarote, ao
pânico que tomou conta dos norte-americanos ontem.
Para ele, um atentado como este
é fruto da própria política de seu
país. "Os Estados Unidos tornaram-se uma nação repudiada internacionalmente, alvo de atentados terroristas ao redor do mundo. Pergunte a pessoas comuns da
Colômbia à Cuba, do Iraque à Palestina, do Sudão ao Afeganistão:
quem são os verdadeiros terroristas? Aposto que o nome de Osama
bin Laden nem sequer será citado.
Aqui se faz, aqui se paga."
Matiasz não gosta de tratar seu
livro como algum tipo de predição da atualidade. Mesmo assim,
arrisca uma análise fatalista da série orquestrada de atentados de
ontem: "Ironicamente, a trajetória da globalização capitalista e o
papel dos Estados Unidos nesse
percurso não está apenas inspirando os inimigos do país a atacar, mas está facilitando esses esforços. O crescente conforto em
viagens internacionais, a expansão do tratado de armas e mais
uma dúzia de outros aspectos do
capitalismo globalizado tornam o
ataque de ontem não só possível
como inevitável."
Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online
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