São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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"Fim" traz versão do colapso americano

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor norte-americano George A. Matiasz, 49, explorou em seu livro "Fim - Notas sobre os Últimos Dias do Império Americano" (Conrad) o impacto de uma guerra civil na sociedade dos EUA de 2007.
Ele não imaginaria, no entanto, que a intenção da qual se alimentam seus personagens -a de instaurar o caos na nação mais poderosa do mundo- poderia ser convertida em realidade nas mãos de terroristas anônimos munidos, não de bombas, mas de aviões sequestrados ainda em 2001.
"Fim" foi originalmente lançado por uma editora independente em 94, e chegou ao Brasil em meados deste ano, pela Conrad.
Seu autor, nascido na Alemanha, foi hippie até topar com o movimento punk, do qual se tornou ativista fervoroso e panfletário. Matiasz é formado em história e, nas horas vagas, assume o pseudônimo "Lefty" Hooligan, que assina textos políticos corrosivos contra o establishment no site www.huahuacoyotl.com e na revista punk "Maximum Rock'n'Roll".
No livro, o governo dos EUA entra em guerra com zapatistas do México, utilizando um arsenal tecnológico digno de ficção científica futurista. Com isso, gera reações da sociedade em todo o país, que ganham o contorno de uma violenta batalha entre civis e forças policiais.
As descrições dos conflitos de "Fim" mantêm um pé na literatura e outro na política e remetem aos confrontos das manifestações dos movimentos antiglobalização em Seattle, Praga e Gênova. Tudo escrito muito antes de eles virarem notícias nos jornais.
"Meu livro trata do colapso da ordem social internacional e do crescimento potencial do terrorismo doméstico nos EUA. Eu não tenho fatos detalhados, mas atingi o espirito de nosso tempo na mosca", admite Matiasz, em entrevista à Folha por e-mail, enquanto assistia, de camarote, ao pânico que tomou conta dos norte-americanos ontem.
Para ele, um atentado como este é fruto da própria política de seu país. "Os Estados Unidos tornaram-se uma nação repudiada internacionalmente, alvo de atentados terroristas ao redor do mundo. Pergunte a pessoas comuns da Colômbia à Cuba, do Iraque à Palestina, do Sudão ao Afeganistão: quem são os verdadeiros terroristas? Aposto que o nome de Osama bin Laden nem sequer será citado. Aqui se faz, aqui se paga."
Matiasz não gosta de tratar seu livro como algum tipo de predição da atualidade. Mesmo assim, arrisca uma análise fatalista da série orquestrada de atentados de ontem: "Ironicamente, a trajetória da globalização capitalista e o papel dos Estados Unidos nesse percurso não está apenas inspirando os inimigos do país a atacar, mas está facilitando esses esforços. O crescente conforto em viagens internacionais, a expansão do tratado de armas e mais uma dúzia de outros aspectos do capitalismo globalizado tornam o ataque de ontem não só possível como inevitável."

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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