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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Decisão objetiva colocar mais pressão sobre palestinos; EUA se opõem, e Arafat promete resistir até a morte

Israel decide "remover" Arafat, mas adia ação

Jamal Aruri/France Presse
Iasser Arafat (alto da foto, à direita) discursa para milhares de apoiadores em seu QG, em Ramallah, após Israel decidir removê-lo


DA REDAÇÃO

O gabinete de Israel aprovou ontem a "remoção" do obstáculo que Iasser Arafat, presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), representaria ao processo de paz, mas adiou uma ação imediata contra o líder histórico dos palestinos para não desagradar os EUA e dar ao premiê palestino indicado, Ahmed Korei, uma chance de agir contra o terror.
"Os acontecimentos dos últimos dias provam que Iasser Arafat é um obstáculo total a qualquer processo de reconciliação", disse nota divulgada ao final de reunião do gabinete israelense.
"Israel agirá para remover esse obstáculo no momento e de formas que serão decididos separadamente", disse o comunicado.
Após o anúncio, Korei ameaçou interromper as negociações para a formação de um novo governo. "Se o governo de Israel não revisar sua posição, se continuar a utilizar os princípios da força e da violência contra o povo palestino e seu líder, qualquer formação de um governo palestino se tornará um assunto sem fundamento." Antes do anúncio, porém, Korei já enfrentava dificuldades para formar seu gabinete, atribuídas por analistas ao próprio Arafat.
A decisão israelense significa que o premiê Ariel Sharon poderá ordenar a "remoção" de Arafat sem uma nova reunião do gabinete. Segundo fontes israelenses, os termos da nota são propositadamente vagos. Alguns analistas viram na medida um balão de ensaio para avaliar as reações.
Arafat, confinado por soldados israelenses em seu QG em Ramallah nos últimos 21 meses, prometeu resistir. Disse que morreria, mas não deixaria a "Terra Santa". "Ninguém pode me tirar daqui."
Após quase três anos de Intifada (revolta palestina contra a ocupação) e seus sucessivos ataques suicidas, Sharon está sob crescente pressão dentro de seu governo e em Israel para adotar medidas ainda mais duras contra o terror palestino. Na terça-feira, 15 pessoas morreram em dois atentados palestinos. Uma das sugestões é a expulsão de Arafat. Seus defensores sustentam que o líder palestino sabotou os esforços de paz e impediu que a ANP reprimisse os terroristas. Arafat nega.
As vozes contrárias dizem que o exílio inflaria a popularidade de Arafat, enfraqueceria os líderes palestinos moderados e traria mais violência. "Achamos que não será útil expulsá-lo porque apenas lhe daria uma nova plataforma para atuar", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher, após ressaltar que Arafat é um obstáculo à paz. A União Européia e o Egito também se manifestaram contra a expulsão.
Durante a reunião do gabinete, outras opções foram consideradas, entre elas um isolamento ainda maior de Arafat, que seria proibido de receber visitas e teria seus telefones cortados, o que já foi feito antes. Até mesmo a morte de Arafat pode ser uma opção, defendida em editorial anteontem do jornal "Jerusalem Post".
Ontem de manhã, soldados israelenses se posicionaram em dois edifícios altos diante do QG em Ramallah e jatos israelenses sobrevoaram o edifício. Segundo fontes israelenses. o Exército já teria iniciado os preparativos para uma eventual expulsão. Arafat seria detido, colocado num helicóptero e levado para o exterior.
Israel também anunciou que dará seguimento a sua guerra total contra os grupos terroristas palestinos, principalmente o Hamas, enquanto a ANP não decidir destruí-los. Nas últimas três semanas -após um atentado a bomba em Jerusalém que matou 22 pessoas-, o Exército israelense matou 13 líderes do Hamas.
O governo israelense disse que não negociará qualquer trégua com o premiê palestino indicado, sem que, antes, ele ataque os grupos terroristas. E sugeriu que a falta de ação poderá conduzir à expulsão de Arafat.

Com agências internacionais

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