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Washington "sequestrou" o 11 de Setembro, diz professor
Para o semiólogo Marshall Blonsky, resposta aos atentados ignorou o caráter global de NY
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A linha dura da administração
George W. Bush "sequestrou" o 11
de Setembro para colocar em prática uma política nacionalista e
belicista que não é uma resposta
apropriada ao sofrimento de Nova York e dos nova-iorquinos, os
maiores afetados pelos atentados
terroristas de dois anos atrás.
É o que diz o semiólogo americano -e nova-iorquino- Marshall Blonsky, 65, professor da
New School University, em Nova
York, e autor do livro "American
Mythologies" (mitologias americanas), publicado em 1992.
"O desastre real não aconteceu
no Pentágono [também alvejado
em 11 de setembro de 2001], mas
nas torres gêmeas do World Trade Center e para os nova-iorquinos e seu estilo de vida", diz
Blonsky. "Mas nosso sofrimento
foi sequestrado por Washington e
a ideologia ruinosa de Dick Cheney-Donald Rumsfeld-Condoleezza Rice-Paul Wolfowitz."
Cheney é vice-presidente dos
EUA. Rumsfeld, secretário da Defesa, e Wolfowitz, subsecretário.
Condoleezza Rice é conselheira
de Bush para questões de segurança nacional. Os quatro são
considerados o núcleo do governo defensor da política externa
ofensiva e impositiva praticada
nos últimos dois anos.
Segundo o semiólogo, o caráter
global de Nova York -uma metrópole habitada por pessoas de
todas as nacionalidades e que tem
como vocação o diálogo permanente com o mundo- não foi levado em consideração na resposta ao 11 de Setembro.
"Nova York é a nova Roma, é a
capital do mundo. Aos nova-iorquinos não está sendo permitido
que sejam globais, eles estão sendo forçados a serem provincianos. Minha vida, como nova-iorquino, não é absolutamente levada em consideração pelos oligarcas de Washington. O que conta é
a Doutrina Bush", diz.
"O presidente Bush, que, na verdade, significa Rumsfeld, Wolfowitz, Cheney e Condoleezza Rice,
não tanto Colin Powell [secretário
de Estado dos EUA], está sequestrando Nova York em prol de
uma Presidência belicista e de
uma coisa chamada guerra contra
o terrorismo, que é uma guerra de
uma máfia gigantesca contra outras máfias menores", afirmou
Blonsky. "Essa guerra permanente, que durará até o fim de nossas
vidas, arruinará o país."
Blonsky não vê, no entanto, eco
de sua revolta nos nova-iorquinos. "Poucos têm a capacidade de
perceber o que foi feito com eles
como cidadãos globais. As pessoas não pensam: "Onde estamos
nós?" Isso acontece devido à gigantesca guerra de propaganda
que Washington, em colaboração
com a mídia, realiza", diz.
Para Blonsky, os atentados contra o World Trade Center foram
tão brutais que se pode determinar a história e a vida em Nova
York -e nos EUA- como "a.11
de Setembro" e "d.11 de Setembro"-em referência a a.C e d.C.
Essa referência extremamente
forte estaria sendo manipulada
pelo governo e por parte da mídia
para manter as sensações de medo e de insegurança em carne viva
e impedir uma visão mais crítica.
"Quando as pessoas estão com
medo, elas não estão totalmente
conscientes e não são capazes de
pensar de forma mais total. As
pessoas estão paralisadas", diz.
"O 11 de Setembro está sempre
lá, como um tipo de catalisador
de energia, para ser usado em
prol dessa política revoltante",
diz. "Nunca antes os americanos
foram tão aterrorizados e manipulados. Não é apenas uma guerra contra o terrorismo, mas uma
guerra do terrorismo. E contra os
próprios cidadãos americanos."
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