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Arquiteto do novo WTC sofre pressões
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
De um lado, empresários interessados em reconstruir o maior
número possível de metros quadrados de escritórios; de outro, famílias que querem ver um memorial tão grande quanto possível.
No meio deles, um arquiteto de
57 anos que nasceu na Polônia,
estudou música em Israel, cresceu
em Nova York e acabou por montar seu escritório em Berlim.
Daniel Libeskind venceu o concurso para escolher o projeto dos
prédios que irão substituir o
World Trade Center. Mas não se
sabe bem que plano é esse, já que
o resultado, que saiu em fevereiro,
está longe de ser o final.
Libeskind diz que sua função é
acomodar as vontades dos demais participantes. Seu papel "envolve negociar com dois aspectos
irreconciliáveis". "Um é o reconhecimento dos heróis daquele
dia. Outro é construir Nova York
como uma cidade do futuro, com
otimismo e vitalidade. Juntar essas duas coisas é a tarefa."
O conceito de projeto de Libeskind deverá orientar a reconstrução. Mas ele não está à frente da
equipe que vai decidir o formato
final dos prédios, o lugar onde serão erguidos nem o tamanho do
memorial a ser construído.
No caso do memorial, há uma
segunda competição em andamento, que deverá terminar ainda neste ano. Já o desenho dos
prédios e sua localização ficarão a
cargo de uma equipe comandada
pelo arquiteto David Childs, o
preferido do empresário Larry
Silverstein, líder do grupo que arrendara o lugar antes do ataque.
Libeskind contemporiza. "Tudo é negociável numa sociedade
democrática." E lembra que é integrante da equipe que vai fazer os
desenhos, comprometida com as
linhas gerais do seu projeto.
Por linhas gerais, entenda-se erguer uma torre de 541 metros
(1.776 pés, número que é o mesmo do ano da independência
americana). Chamada de "Torre
da Liberdade", ela se tornará a
mais alta construção do mundo.
Também é preciso evitar sombras entre o horário do início do
ataque (8h46) e a queda do segundo prédio (10h28).
A partir daí, há outras questões
que devem ser consideradas, como explicou anteontem Silverstein, o empresário, numa entrevista ao canal de televisão NY1.
"Libeskind é um ótimo arquiteto que passou sua vida desenhando belos prédios pelo mundo. A
visão de Dan será preservada",
diz. Mas decisões mais específicas
sobre o lugar serão por sua conta:
"Quando é hora de desenhar prédios de escritórios, a disciplina é
diferente. As considerações dos
prédios refletem as necessidades
dos locatários".
Silverstein reconhece que "há
muitas agendas diferentes, e algo
tem de ser feito para tudo ser colocado junto". Mas diz que "tem
responsabilidades e oportunidades que vêm delas". Assim, concorda que sua posição é distinta,
por exemplo, daquela que têm as
famílias das vítimas.
"Eu vejo isso de uma perspectiva muito diferente", diz, lembrando que o aluguel do terreno controlado pela Autoridade Portuária lhe custará US$ 120 milhões
por ano até 2100.
O problema central entre a vontade de Silverstein e o projeto de
Libeskind reside no potencial de
exploração imobiliária que terá a
construção final. Um dos pontos
era a área de escritórios, e nesse
item o empresário tem levado a
melhor. Outro era a posição da
torre maior, que ele tentou mudar
de lugar, mas que, dizem agora o
empresário e o arquiteto, deverá
ficar mesmo na posição inicial.
As discussões são feitas em reuniões gigantes, que têm de 60 a
500 pessoas, de todos os lados envolvidos. Quem já as viu diz que
Silverstein domina a cena. Libeskind se recusa a entrar em detalhes de como se trava o debate.
"Você tem poder de veto?", perguntou-se ao arquiteto na semana
passada. "Nós não trabalhamos
como a ONU", respondeu.
Pelas contas do empresário, o
projeto envolverá investimentos
de US$ 15 bilhões. Na melhor hipótese, a fundação da torre principal será lançada em meados do
ano que vem. A idéia é terminá-la
até 2009. A reconstrução, porém,
só acabaria em 2012 ou 2013.
Hoje, muito do lugar parece
igual a um ano atrás: um imenso
buraco. Mas os operários que lá
trabalham erguem um prédio de
porte médio na área, o WTC 7.
"Estamos no rumo", diz Libeskind, sem saber dizer que rumo é
esse. Mas ele acha que a torcida
para encontrá-lo é grande. "Todo
nova-iorquino, toda pessoa na
América e toda pessoa no mundo
que se importa com isso aqui quer
que se tenha sucesso."
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