São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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Caso Lewinsky fez a Internet 'parar'

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

O relatório de Kenneth Starr conseguiu o impossível: unir a colcha de retalhos da Internet em torno de um só assunto e de uma meia dúzia de sites que reproduzem a íntegra de um dos documentos legais mais picantes da história -e o único em que o mundo inteiro pôde pôr as mãos na íntegra, antes mesmo de o réu ser julgado.
Os sites oficiais onde o relatório do caso foi colocado sofreram um engarrafamento sem precedentes. A partir das 13h foi quase impossível entrar na página do relatório. Mas, poucos minutos após da divulgação do relatório, os principais jornais, TVs e revistas do mundo o reproduziram em seu site. Apesar do congestionamento, quem quis conseguiu ler o texto na tarde de ontem.
O caso Clinton-Lewinsky, que vai ficar como um dos maiores escândalos deste século, também é a primeira grande cobertura cujas revelações mais dramáticas aconteceram via Internet. Veio a público através de uma nota publicada na rede, em janeiro, pelo colunista de fofocas Matt Drudge, o mesmo que pouco tempo atrás publicou em primeira mão a infame história do charuto.
O relatório de Starr não teria despertado tanto interesse se não tivesse páginas e páginas de pornô soft, que farão as delícias de leitores do mundo inteiro neste fim-de-semana.
Ironicamente, a iniciativa de colocar o documento de Starr na Internet vem travestida de "livre acesso à informação", mas terá um efeito bem diferente na prática. Afinal, trata-se de uma manobra de marketing dos acusadores de Clinton, que vai garantir que a figura do presidente se cubra de ridículo em questão de horas. As pessoas que colocaram as mãos no relatório já na tarde de ontem trocavam e-mails com os trechos mais picantes e copiavam a íntegra para milhares de sites. Os trâmites legais do julgamento vão acabar obscurecidos pelas piadas sujas e pelos detalhes escabrosos.
Ironia dupla: a nova proposta de lei sobre indecência na Internet que tramita hoje na Câmara tornaria ilegal um texto como o de Starr. Mas muito deputado deve ter votado a favor dos dois...

Mudança
A mídia nunca mais será a mesma depois do caso Lewinsky. As surrados bordões "globalização" e "livre acesso à informação" adquiriram um novo sentido. Quem ficou algumas horas conectado à Internet ontem, checando os sites de notícias e trocando e-mails sobre o caso, pode ver a aceleração violenta a que está submetido o ciclo de produção e consumo de notícias. Não há mais lugar para inocentes consumidores neste processo: os melhores aliados dos republicanos em sua tentativa de desacreditar Clinton são os leitores do mundo inteiro, empenhados desde a tarde de ontem em desmontar e digerir o relatório de Starr, transformando-o numa banal -e perigosa- novela pornô.


Serviço: As íntegras da réplica de Clinton e do relatório de Starr estão disponíveis para assinantes do UOL no site www.uol.com.br/fsp



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