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Caso Lewinsky fez a Internet 'parar'
MARIA ERCILIA
Editora de Internet
O relatório de Kenneth Starr
conseguiu o impossível: unir a colcha de retalhos da Internet em torno de um só assunto e de uma meia
dúzia de sites que reproduzem a
íntegra de um dos documentos legais mais picantes da história -e o
único em que o mundo inteiro pôde pôr as mãos na íntegra, antes
mesmo de o réu ser julgado.
Os sites oficiais onde o relatório
do caso foi colocado sofreram um
engarrafamento sem precedentes.
A partir das 13h foi quase impossível entrar na página do relatório.
Mas, poucos minutos após da divulgação do relatório, os principais jornais, TVs e revistas do
mundo o reproduziram em seu site. Apesar do congestionamento,
quem quis conseguiu ler o texto na
tarde de ontem.
O caso Clinton-Lewinsky, que
vai ficar como um dos maiores escândalos deste século, também é a
primeira grande cobertura cujas
revelações mais dramáticas aconteceram via Internet. Veio a público através de uma nota publicada
na rede, em janeiro, pelo colunista
de fofocas Matt Drudge, o mesmo
que pouco tempo atrás publicou
em primeira mão a infame história
do charuto.
O relatório de Starr não teria despertado tanto interesse se não tivesse páginas e páginas de pornô
soft, que farão as delícias de leitores do mundo inteiro neste fim-de-semana.
Ironicamente, a iniciativa de colocar o documento de Starr na Internet vem travestida de "livre
acesso à informação", mas terá um
efeito bem diferente na prática.
Afinal, trata-se de uma manobra
de marketing dos acusadores de
Clinton, que vai garantir que a figura do presidente se cubra de ridículo em questão de horas. As
pessoas que colocaram as mãos no
relatório já na tarde de ontem trocavam e-mails com os trechos
mais picantes e copiavam a íntegra
para milhares de sites. Os trâmites
legais do julgamento vão acabar
obscurecidos pelas piadas sujas e
pelos detalhes escabrosos.
Ironia dupla: a nova proposta de
lei sobre indecência na Internet
que tramita hoje na Câmara tornaria ilegal um texto como o de Starr.
Mas muito deputado deve ter votado a favor dos dois...
Mudança
A mídia nunca mais será a mesma depois do caso Lewinsky. As
surrados bordões "globalização" e
"livre acesso à informação" adquiriram um novo sentido. Quem ficou algumas horas conectado à Internet ontem, checando os sites de
notícias e trocando e-mails sobre o
caso, pode ver a aceleração violenta a que está submetido o ciclo de
produção e consumo de notícias.
Não há mais lugar para inocentes
consumidores neste processo: os
melhores aliados dos republicanos
em sua tentativa de desacreditar
Clinton são os leitores do mundo
inteiro, empenhados desde a tarde
de ontem em desmontar e digerir o
relatório de Starr, transformando-o numa banal -e perigosa- novela pornô.
Serviço: As íntegras da réplica de Clinton e do
relatório de Starr estão disponíveis para assinantes do UOL no site www.uol.com.br/fsp
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