|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Saiba quem foi Edith Stein
HENRI TINCQ
do "Le Monde"
"A canonização de Edith Stein
chama atenção para a afirmação
de que um bom judeu é um judeu
convertido, esteja ele morto ou vivo. Isso era e continua sendo inaceitável." Por trás de sua brutalidade, o editorial de David Susskind
na revista "Regards", publicada
pela comunidade judaica belga,
diz muito sobre as dúvidas suscitadas pela canonização.
Nascida de família judia ortodoxa, em 12 de outubro de 1891, em
Breslau, na Silésia (hoje
Wroclaw, na
Polônia), em
1911 a jovem filósofa Edith
Stein tornou-se assistente de
Edmund Husserl, pai da fenomenologia.
Tendo abandonado a fé judaica havia
muito tempo,
converteu-se
ao catolicismo
em 1922, depois de ler a
"Autobiografia" de Teresa d'Ávila.
Pouco após a chegada de Hitler
ao poder, teve de deixar seu cargo
de professora de um colégio em
Spire e, em 1934, vestiu o hábito
das irmãs carmelitas de Colônia.
Quatro anos depois foi obrigada a
fugir da Alemanha e refugiou-se
no convento de Echt, na Holanda.
Em 1942, após a publicação de
uma carta do episcopado holandês
opondo-se às deportações, a Gestapo prendeu os padres e as religiosas de origem judaica. Edith e
sua irmã Rosa Stein, também carmelita, foram detidas durante uma
prisão em massa em Echt, no dia 2
de agosto. Deportadas para Auschwitz no dia 9, foram mortas nas câmaras de gás logo a seguir.
João Paulo 2º sempre foi fascinado pelo extraordinário percurso
intelectual e místico de Edith Stein.
Muitos pensam que, deixando de
lado qualquer consideração sobre
sua origem, ela merecia ser canonizada em função do grau em que
sua obra é reconhecida pela igreja.
Mas, para desativar a polêmica
criada com a comunidade judaica,
o papa sempre evitou retratá-la como uma "mártir cristã", como pretendiam os defensores de sua
causa.
Em sua homilia de 1º de
maio de 1987,
em Colônia,
quando ela foi
beatificada,
João Paulo 2º
qualificou
Stein de "filha
de Israel de
nosso século".
Impossível expressar melhor
a solidariedade
que ela sempre
manifestou
com sua comunidade de origem.
Já em 1933, pressentindo a iminência da tragédia, ela escreveu ao
papa Pio 11 para lhe pedir que interviesse em favor dos judeus. Os
biógrafos relatam que, no dia de
sua prisão, disse a sua irmã: "Venha, vamos por nosso povo". Ato
de expiação ou de solidariedade
com um povo ao qual queria permanecer ligada até a morte? As interpretações divergem, mas Edith
Stein nunca foi infiel a sua comunidade judaica de origem.
Tradução de
Clara Allain
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|