São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saiba quem foi Edith Stein

HENRI TINCQ
do "Le Monde"

"A canonização de Edith Stein chama atenção para a afirmação de que um bom judeu é um judeu convertido, esteja ele morto ou vivo. Isso era e continua sendo inaceitável." Por trás de sua brutalidade, o editorial de David Susskind na revista "Regards", publicada pela comunidade judaica belga, diz muito sobre as dúvidas suscitadas pela canonização.
Nascida de família judia ortodoxa, em 12 de outubro de 1891, em Breslau, na Silésia (hoje Wroclaw, na Polônia), em 1911 a jovem filósofa Edith Stein tornou-se assistente de Edmund Husserl, pai da fenomenologia. Tendo abandonado a fé judaica havia muito tempo, converteu-se ao catolicismo em 1922, depois de ler a "Autobiografia" de Teresa d'Ávila.
Pouco após a chegada de Hitler ao poder, teve de deixar seu cargo de professora de um colégio em Spire e, em 1934, vestiu o hábito das irmãs carmelitas de Colônia. Quatro anos depois foi obrigada a fugir da Alemanha e refugiou-se no convento de Echt, na Holanda.
Em 1942, após a publicação de uma carta do episcopado holandês opondo-se às deportações, a Gestapo prendeu os padres e as religiosas de origem judaica. Edith e sua irmã Rosa Stein, também carmelita, foram detidas durante uma prisão em massa em Echt, no dia 2 de agosto. Deportadas para Auschwitz no dia 9, foram mortas nas câmaras de gás logo a seguir.
João Paulo 2º sempre foi fascinado pelo extraordinário percurso intelectual e místico de Edith Stein. Muitos pensam que, deixando de lado qualquer consideração sobre sua origem, ela merecia ser canonizada em função do grau em que sua obra é reconhecida pela igreja.
Mas, para desativar a polêmica criada com a comunidade judaica, o papa sempre evitou retratá-la como uma "mártir cristã", como pretendiam os defensores de sua causa.
Em sua homilia de 1º de maio de 1987, em Colônia, quando ela foi beatificada, João Paulo 2º qualificou Stein de "filha de Israel de nosso século". Impossível expressar melhor a solidariedade que ela sempre manifestou com sua comunidade de origem.
Já em 1933, pressentindo a iminência da tragédia, ela escreveu ao papa Pio 11 para lhe pedir que interviesse em favor dos judeus. Os biógrafos relatam que, no dia de sua prisão, disse a sua irmã: "Venha, vamos por nosso povo". Ato de expiação ou de solidariedade com um povo ao qual queria permanecer ligada até a morte? As interpretações divergem, mas Edith Stein nunca foi infiel a sua comunidade judaica de origem.


Tradução de Clara Allain



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.