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Reino Unido amplia
poderes de detenção
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
O governo britânico planeja
anunciar hoje a adoção de um estado de emergência para enfrentar ameaças terroristas. Na prática, a intenção das autoridades do
Reino Unido é ampliar seu poder
de deter, sem processo judicial
adequado e por tempo indeterminado, estrangeiros suspeitos de
atividades ligadas ao terrorismo.
David Blunkett, ministro do Interior, apresenta hoje ao Parlamento o decreto, que afirma que
"a vida do país está ameaçada" e
abre caminho para ignorar temporariamente o artigo 5º da Convenção Européia de Direitos Humanos. Os governos signatários
só podem revogar o artigo, que
prevê o direito à liberdade e proíbe a prisão sem processo judicial
adequado, em caso de guerra ou
"emergência pública".
Segundo a imprensa britânica, a
iniciativa visa principalmente estrangeiros acusados de crimes em
outros países que costumam encontrar refúgio no Reino Unido.
O Ministério do Interior informou que a medida será sucedida
de uma série de novos instrumentos legais para lidar com a ameaça
terrorista, que o governo espera
ver aprovada até o fim do ano.
A nova legislação deve passar
com facilidade. Além do apoio
dos deputados do próprio Partido
Trabalhista (do governo), o Partido Conservador (de oposição)
apóia a adoção de medidas mais
rigorosas de segurança.
Mas defensores das liberdades
civis já protestam. A organização
não-governamental Liberty diz
que entrará com ação na Corte
Européia de Direitos Humanos.
Para o grupo, o premiê Tony Blair
tenta restaurar a "internação" de
prisioneiros, usada contra iraquianos na Guerra do Golfo e no
combate ao grupo terrorista católico da Irlanda do Norte, o IRA.
"Não há um nível de atividades
terroristas de estrangeiros no Reino Unido que justifique um estado de emergência", disse à Folha
o porta-voz da Liberty, Roger Bingham. "Eles vão declarar isso apenas porque é a única maneira de
justificarem o desrespeito ao artigo 5º da Convenção Européia de
Direitos Humanos."
Segundo ele, as autoridades estão buscando um meio de encarcerar suspeitos sem ter de se preocupar em encontrar provas rapidamente. De acordo com as leis
atuais sobre terrorismo no Reino
Unido, o governo pode deter uma
pessoa sem acusação por até sete
dias. Se ao final deste prazo não tiver uma denúncia consistente, é
obrigado a soltar o suspeito.
O governo diz, porém, que os
presos não ficarão desprovidos de
todos os direitos: haverá a possibilidade de apelação judicial.
A lei britânica impede a prisão
de estrangeiros suspeitos de atividade criminal no exterior, a menos que sejam prontamente mandados de volta ao país de origem.
Os acusados costumam recorrer
na Justiça para evitar a deportação e ficam em liberdade durante
os trâmites para a expulsão -podem levar anos. É isso que o governo busca evitar agora, criando
meios legais para manter na cadeia pessoas que, a seu ver, poderiam constituir uma ameaça.
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