São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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PALESTINA ÓRFÃ

Iasser Arafat - 1929-2004

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

Iasser Arafat, a principal e controversa face pública da causa palestina há quatro décadas, morreu ontem aos 75 anos em um hospital militar próximo de Paris. O enterro do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), após um funeral no Cairo, está marcado para hoje à tarde na Muqata, o quartel-general em Ramallah, Cisjordânia, onde viveu confinado por ordem de Israel desde 2002. A causa de sua falência múltipla de órgãos não foi divulgada.
Seu sucessor legal interino é o presidente do Conselho Legislativo Palestino, Rawhi Fattouh, 55, figura secundária na política palestina. Sua função é garantir a estabilidade institucional até a realização de eleições presidenciais, que, por lei, devem ocorrer em 60 dias. Poucos crêem que o prazo seja realista.
No momento, o poder de fato está com Mahmoud Abbas, o Abu Mazen, que assumiu o comando da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), presidida por Arafat desde 1969. Mas a disputa será acirrada.
O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, se referiu ao acontecimento como uma possibilidade de mudança "histórica" para o Oriente Médio. O presidente dos EUA, George W. Bush, seguiu a mesma linha.
"Aquele que é terrorista para um é guerreiro da liberdade para outro", diz o "Dicionário Oxford de Política". A sentença de certa forma define a vida de Mohammad Abdel Rauf Arafat al Qudwa al Husseini, nascido em 1929 provavelmente no Cairo -embora ele sempre tenha dito que havia nascido em Jerusalém.
Fundador, em 1958, da principal facção palestina, o Fatah, Arafat rapidamente se tornou popular entre a população expulsa por Israel após as guerras que seguiram a fundação do Estado judeu, em 1948. Na década de 1970, optou pela via do terrorismo. Em 1994, ganhou o Nobel pelas negociações de paz com Israel. Morreu sem ter visto a criação do Estado palestino, causa pela qual lutou com as armas do terror e, mais tarde, com as da diplomacia.
Há dúvidas sobre como Israel irá proceder agora que aquele que acusava de ser obstáculo à paz morreu. A reação dos EUA também é insondável. É um capítulo aberto de uma história na qual Arafat se inscreve, para o bem e para o mal, como figura central de um trecho, o século 20, que acabou. Se vai se eternizar como um Che Guevara, líder mitificado de utopia falida, se será lembrado como pai de uma nação ou como líder que abusou de violência e personalismo é algo incerto no momento.


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