São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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PALESTINA ÓRFÃ

HOMENAGENS

Dezenas de líderes e autoridades internacionais vão ao Egito para as cerimônias fúnebres de Iasser Arafat

Funeral acontece sob forte segurança

Thomas Coex/France Presse
Palestinos cavam a terra no interior da Muqata, preparando o local para o enterro de Arafat


FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS

As cerimônias fúnebres para Iasser Arafat acontecem hoje no Egito dentro de um rigoroso esquema de segurança.
O corpo do líder palestino, que chegou ontem no Cairo por volta das 23h (19h em Brasília), passaria a noite no hospital do clube militar Galaa -um complexo próximo ao aeroporto que inclui uma mesquita e um clube social.
Uma das razões que determinou a escolha do local foi o desejo de evitar a formação de grandes multidões nas ruas centrais da capital egípcia. Segundo autoridades, as forças de segurança estão em alerta máximo ao redor do aeroporto. Policiais e agentes à paisana foram espalhados pela cidade -principalmente no alto de edifícios e mesquitas e na estação central de trem.

Especulações
O fim da agonia de Arafat, após 13 dias de internação em um hospital militar francês, não dissipou o mistério em torno das causas de sua morte. O porta-voz militar Christian Estripeau afirmou não ter "nenhuma declaração a fazer" sobre as causas do falecimento de Arafat. "Não cabe ao serviço de saúde do Exército revelar fatos que são reservados à família", justificou. Diante do silêncio familiar e da ausência de informações por parte da equipe médica, rumores e especulações sobre câncer e morte por envenenamento continuavam a ser evocados.
Além da confidência médica, outras razões podem ter levado a família e as autoridades palestinas a ocultar o diagnóstico e as causas da morte de Arafat, disse Rory Miller, especialista em estudos árabes do King's College, da Universidade de Londres. "Pode ter sido uma doença crônica, já sabida e escondida há anos, e que poderia levantar questões, agora, sobre o por que de nada ter sido feito antes", especulou.
"Os médicos devem ter um diagnóstico, senão como poderiam saber como tratá-lo?", questionou o gerontologista americano Tharakan Ravishankar.
O presidente francês, Jacques Chirac, foi ao hospital e saudou o "homem de coragem e de convicção que encarnou, por 40 anos, o combate dos palestinos pelo reconhecimento de seus direitos nacionais".
Às 16h30 (13h30 em Brasília), o helicóptero transportando o corpo de Arafat decolou do hospital de Clamart rumo à base aérea de Villacoublay, a cerca de cinco quilômetros de distância.
Ao lado das autoridades presentes na pista -entre elas o primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin, e o ministro palestino das Relações Exteriores, Nabil Shaath-, a mulher de Arafat, Suha, chorava ao som da "Marcha Fúnebre" de Chopin. Antes de o caixão ser depositado no interior do Airbus que o levaria ao Egito, foram executados os hinos da Palestina e da França.
Às 17h34, o avião decolou no céu já quase escuro do outono francês, aplaudido por centenas de simpatizantes palestinos.
As cerimônias fúnebres de hoje começarão às 11h. Em seguida, haverá uma curta procissão de quatro quilômetros até o aeroporto. O corpo será conduzido em uma carruagem, com honras militares. Haverá uma cerimônia pública na mesquita Al Azhar, no centro da capital.
Do aeroporto do Cairo, o corpo de Arafat seguirá de avião e helicóptero das Forças Armadas egípcias para Ramallah, na Cisjordânia, onde será o enterro.
Entre os líderes mundiais que devem estar no Cairo incluem-se os presidentes Thabo Mbeki (África do Sul), Emile Lahoud (Líbano), Zine al Abdine Ben Ali (Tunísia) e Susilo Bambang Yudhoyonoo (Indonésia), os premiês Goran Persson (Suécia), Tayyip Erdogan (Turquia) e Shaukat Aziz (Paquistão) e o rei Abdullah (Jordânia). Também anunciaram presença os chanceleres de França, Alemanha, Reino Unido, Irã, Dinamarca e Espanha.
Os EUA mandarão o subsecretário de Estado William Burns. O ministro da Justiça de Israel, Yosef Lapid, reagiu com ironia a uma pergunta da CNN sobre se o país mandaria uma delegação. "Essa é uma esplêndida idéia. Ninguém havia sugerido isso a mim. Não, eu geralmente não acho que devemos mandar representante ao funeral de alguém que matou milhares de nosso povo."

Com agências internacionais


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