São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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Para analista, Hizbollah terá influência maior

FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

O vácuo de liderança com a morte de Iasser Arafat pode abrir espaço para o grupo xiita Hizbollah, que tem base no sul do Líbano, aumentar sua influência nos territórios palestinos, de acordo com a opinião de Meir Litvak, 46, analista sênior do Centro Moshe Dayan para Estudos do Oriente Médio e da África, da Universidade de Tel Aviv.
"O Hizbollah já está ativo nos territórios palestinos fornecendo armas, treinamento e financiamento. Agora deverá ampliar sua influência, principalmente junto ao Fatah [facção política de Arafat] e a outros grupos armados ligados ao líder palestino na Cisjordânia e na faixa de Gaza", disse Litvak em entrevista à Folha.
Litvak, especialista em política palestina e fundamentalismo islâmico, acha que outros grupos terroristas também podem aumentar a violência contra Israel depois da morte de Arafat.
"O Hamas e o grupo Jihad Islâmico continuam contrários a acordos com Israel e vão tentar sabotar qualquer avanço nas negociações de paz."

Saída de Gaza
Na análise de Litvak, um possível cenário político depois da morte de Arafat inclui a implementação negociada do plano do primeiro-ministro Ariel Sharon de retirada da faixa de Gaza.
"Sharon vai tentar manter o plano unilateral, mas, se a liderança palestina mostrar-se moderada, será muito difícil evitar negociações, porque os Estados Unidos e países da Europa querem aproveitar o momento para retomar o processo político."
Litvak, eleitor do Partido Trabalhista (oposição, de centro-esquerda), concorda com a posição do governo de Sharon de que Arafat não era um parceiro de negociações.
"Arafat era um obstáculo. Ele sempre se recusou a agir contra grupos terroristas e controlava o financiamento dessas organizações. Ele sempre se preocupou mais com a imagem que deixaria na história do que com um acordo de paz", disse Litvak.

Erros da imprensa
Litvak disse que o tratamento de chefe de Estado que Arafat recebeu nos últimos anos foi errado e atribui parte disso à imprensa.
"A mídia, principalmente da Europa, assumiu uma posição segundo a qual a ocupação dá aos palestinos o direito de fazer o que quiserem", disse.
"Os jornalistas nunca se preocuparam em saber o que Arafat dizia em árabe depois das declarações de paz em inglês. E geralmente as palavras em árabe incitavam a violência e pregavam exatamente o contrário do que ele dizia para a imprensa internacional", afirmou.
O especialista acha que as perspectivas de negociações entre israelenses e palestinos podem ficar mais otimistas a médio prazo, caso os dirigentes palestinos Abu Mazen e Ahmed Korei consigam impor sua liderança sobre os grupos terroristas e adotem uma linha política de concessões.
"Eles têm condições de assumir uma posição mais pragmática em relação a Israel e fazer concessões, principalmente na questão dos refugiados palestinos", disse, em referência a um dos pontos de entrave nas negociações surgido antes do início da Intifada, no ano 2000.
Litvak não arriscou fazer uma previsão a curto prazo. "Tudo depende agora de como os palestinos vão se organizar e se vão conseguir evitar conflitos internos", afirmou. (MG)


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