São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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PALESTINA ÓRFÃ

OS ISRAELENSES

"Quero chegar a um acordo", afirma o premiê, que orientou seu gabinete a reagir com otimismo cauteloso

Sharon diz esperar mudança "histórica"

MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, disse ontem que a morte de Iasser Arafat pode representar uma virada de rumo na história no Oriente Médio.
"Os recentes eventos podem ser um ponto de virada histórico para o Oriente Médio", disse Sharon, sem citar diretamente o anúncio da morte de Arafat. "Israel é um país que procura a paz e vai continuar seus esforços para alcançar um acordo de paz com os palestinos sem demora."
Mais tarde, Sharon foi mais enfático. "Quero chegar a um acordo. E vamos fazer o que for possível para chegar a esse acordo."
Sharon disse esperar que a nova liderança palestina trabalhe para "acabar com o terrorismo", o que ele considera a principal condição para o início das negociações.
O premiê orientou seu gabinete a manifestar otimismo cauteloso em relação a uma nova autoridade palestina, e também a dizer que Israel não quer interferir no processo de escolha da nova liderança e que Arafat era o obstáculo para a paz.
Na prática, a primeira medida de Israel após o anúncio da morte de Arafat foi colocar o Exército em alerta. As fronteiras com a faixa de Gaza e a Cisjordânia foram fechadas e mais 1.600 soldados foram mandados aos territórios.
O Exército montou postos de controle ao redor de cidades palestinas na Cisjordânia. Os soldados foram orientados a evitar manifestar alegria pela morte de Arafat e conflitos violentos com manifestantes palestinos.
A polícia de Israel também está em estado de alerta porque teme manifestações em Jerusalém hoje, última sexta-feira do mês sagrado muçulmano do Ramadã. A previsão é que entre 150 mil e 200 mil palestinos participem das cerimônias religiosas.
As críticas mais duras a Arafat por parte do governo de Israel ficaram a cargo do ministro da Justiça, Yossef Lapid. Ele disse que Arafat foi responsável pela disseminação do terrorismo global.
"Uma das tragédias do mundo é que ele não entendeu que o terrorismo que começou aqui se espalharia para o mundo inteiro. Bin Laden é herança de Arafat", disse.
"Eu não o odiava pela pessoa que foi. Eu o odiava pelas mortes de milhares de israelenses. Eu o odiava por impedir os acordos de paz entre nós e os palestinos", afirmou Lapid.
Ehud Barak, último primeiro-ministro de Israel a negociar com Arafat antes do começo da Intifada, descreveu o presidente palestino como um líder corrupto. Para Barak, que na semana passada anunciou que voltará a disputar a liderança do Partido Trabalhista, o pior pecado de Arafat foi ter "envenenado as almas dos jovens palestinos com ódio por Israel".
Para o chanceler israelense, Silvan Shalom, a região ficará melhor sem Arafat. "Durante anos ele liderou a ideologia de que é possível alcançar pela força das armas e pelo caminho do terror o que poderia ser alcançado pela negociação", disse Shalom. Ele também negou as acusações do grupo terrorista Hamas de que Israel envenenou Arafat.
Shimon Peres, líder do Partido Trabalhista que compartilhou o Nobel da Paz de 1994 com Arafat pelos acordos de Oslo de 1993, procurou ser mais moderado.
Peres disse que Arafat morreu, mas "o povo palestino vive". "O maior erro de Arafat foi ter recorrido ao terrorismo e depois não ter combatido o terrorismo", disse Peres. "Suas maiores conquistas aconteceram quando ele tentou construir a paz."


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