São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


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País faz hoje 3ª eleição presidencial pós-Pinochet e pode ter primeiro presidente de esquerda desde Allende
Socialista Lagos busca vitória já no primeiro turno no Chile

France Presse
Ricardo Lagos, 61, da coalização de centro-esquerda Concertación (atualmente no poder)


JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial a Santiago

Seis candidatos disputam hoje a preferência de 8.084.476 eleitores chilenos no primeiro turno das eleições presidenciais.
Apesar de resultados contraditórios ou apertados nas pesquisas, o socialista Ricardo Lagos, 64, pode obter desde já a maioria absoluta dos votos, vencendo sem a necessidade de segundo turno.
Seu principal adversário, o direitista Joaquín Lavín Infante, 46, trabalha com a hipótese de chegar em segundo lugar e inverter a tendência no segundo turno, em tese marcado para 16 de janeiro.
A eventual vitória de Lagos levaria à Presidência do Chile o primeiro socialista depois de Salvador Allende (1908-1973), embora as diferenças de momento histórico, de alianças internas e de temperatura ideológica, hoje mais baixa, não permitam maiores comparações.
Um dos coordenadores de campanha de Lagos -aliado ao atual presidente democrata-cristão Eduardo Frei- disse à Folha que pesquisas internas dão hoje ao candidato entre 50,5% e 52% dos votos válidos.
São cifras que não foram divulgadas no final da campanha. Para serem confirmadas, Lagos precisa captar uma parcela dos votos do Partido Comunista, esvaziando a candidata Gladys Marín.
Esta, há três semanas, teria somado 9% entre intenções de voto fechadas ou ainda em aberto. Cresceu por conta da recessão e do desemprego, que atinge cerca de 11% da população economicamente ativa. Mas deve decrescer caso o temor da direita seja mais forte, entre seus eleitores, que a vontade de protestar contra a política econômica do governo Frei, no qual Lagos foi ministro de Obras Públicas.
Uma das provas de ocorrência do voto útil estaria na presença numerosa de militantes comunistas no comício de encerramento da campanha de Lagos, quinta à noite, em Santiago.
A coligação do candidato -democratas-cristãos, socialistas e radicais- acredita que ao ato compareceram 157 mil pessoas, bem menos que os 240 mil anunciados pelo jornal governista "La Nación", mas, mesmo assim, uma grande demonstração de força.
O direitista Lavín fez a campanha de melhor qualidade e sem oscilar em seu direcionamento. Abordou de forma pouco politizada os problemas do cotidiano do cidadão. Atraiu uma parcela dos descontentes e procurou se dissociar da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), da qual foi assessor econômico.
É, de qualquer modo, o nome a ser votado pelos saudosos do pinochetismo. E, sem o estigma do general, espera não ter o mesmo destino dos candidatos apoiados por Pinochet, que foram derrotados nas duas eleições presidenciais pós-regime militar.
Além de Lagos, Lavín e Gladys Marín, concorrem três outros figurantes: a ambientalista Sara Larrain, o candidato do Partido Humanista, Tomás Hirsch, e Arturo Frei Bolivar, de uma dissidência de direita do Partido Democrata Cristão.
O voto no Chile é obrigatório. Os que faltarem estão sujeitos a uma multa equivalente a R$ 45,00. As seções eleitorais abrem às 8h e fecham às 17h (9h e 18h em Brasília). A tendência oficial dos resultados será conhecida por volta das 22h, horário local.


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