São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


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ORIENTE MÉDIO
Pacifistas e nacionalistas lançam campanhas com vistas a possível referendo sobre devolução do Golã
Paz com a Síria divide os israelenses

MARCELO STAROBINAS
da Redação

O anúncio da retomada de negociações entre Israel e Síria, esta semana, em Washington, começa a polarizar novamente a sociedade israelense -que terá, em última instância, de ratificar em referendo o eventual tratado de paz.
De um lado, a esquerda pacifista vê o momento com otimismo. De outro, a direita nacionalista e moradores das colinas do Golã -território sírio ocupado na guerra de 1967- enxergam com temor e desconfiança a possibilidade de devolução da região ao regime autoritário de Damasco.
"Somos civis, vivemos em paz aqui. O presidente Assad (da Síria) é um ditador. Ele nos atacou quatro vezes e acabou perdendo a região em guerra", disse à Folha Sami Barlev, prefeito de Katzrin, maior assentamento israelense no Golã, com 7.000 habitantes. "Por que temos de devolvê-la?"
Porque, argumenta Didi Remez, porta-voz do grupo Paz Agora, "entregar o Golã é algo relativamente pequeno se comparado à revolução que a paz pode trazer ao Oriente Médio". Ele argumenta que países como Líbano e Arábia Saudita seguiriam o exemplo sírio no caso de um acordo.
A devolução do Golã, conjunto de montanhas visto por muitos como região estratégica para a defesa militar e abastecimento de água de Israel, é uma precondição da Síria em troca da paz.
O premiê israelense, Ehud Barak, está disposto a negociar as colinas, mas não determinou a dimensão nem em que condições se daria a retirada.
Pesquisas mostram a divisão que o tema traz à população. Uma delas, do jornal "Maariv", diz que 46% dos israelenses são contra a retirada total do Golã, contra 46% a favor e 8% de indecisos. O "não" à entrega das colinas vence por 54% a 45% em pesquisa do diário "Yediot Aharonot".
A batalha pelo Golã começa esta semana, com manifestações de grupos rivais nas ruas.
Tanto o Paz Agora quanto o Comitê dos Moradores do Golã planejam acompanhar amanhã o premiê Ehud Barak em seu trajeto rumo ao aeroporto, de onde embarca para negociar em Washington com o chanceler da Síria. "Vá em paz e volte com a paz", dirá o slogan pacifista.
Ao contrário dos problemas na Cisjordânia -região cuja devolução aos palestinos sofre oposição por motivos históricos e religiosos- a disputa pela manutenção do Golã é menos violenta.
"Devemos lutar com todas nossas forças contra essa situação. Mas faremos isso de forma democrática, sem violência", diz o prefeito de Katzrin.
Apesar de garantias como essa, as negociações com a Síria são um novo foco de tensão numa sociedade cuja divisão interna culminou com o assassinato do premiê Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995.
O conselho de Katzrin marcou para hoje a inauguração de um novo "bairro" no assentamento, uma medida que tem a intenção de mostrar que os colonos não pretendem congelar as construções no Golã durante as negociações com a Síria.
A decisão é vista como provocação pelos pacifistas. O Paz Agora promete contra-atacar levando seus 10 mil militantes às ruas e distribuindo adesivos com a mais nova palavra de ordem: "A voz da paz será ouvida nas alturas" (em hebraico, a frase tem duplo sentido, e quer dizer também "A voz da paz será ouvida no Golã").



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