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ORIENTE MÉDIO
Pacifistas e nacionalistas lançam campanhas com vistas a possível referendo sobre devolução do Golã
Paz com a Síria divide os israelenses
MARCELO STAROBINAS
da Redação
O anúncio da retomada de negociações entre Israel e Síria, esta
semana, em Washington, começa
a polarizar novamente a sociedade israelense -que terá, em última instância, de ratificar em referendo o eventual tratado de paz.
De um lado, a esquerda pacifista
vê o momento com otimismo. De
outro, a direita nacionalista e moradores das colinas do Golã -território sírio ocupado na guerra de
1967- enxergam com temor e
desconfiança a possibilidade de
devolução da região ao regime
autoritário de Damasco.
"Somos civis, vivemos em paz
aqui. O presidente Assad (da Síria) é um ditador. Ele nos atacou
quatro vezes e acabou perdendo a
região em guerra", disse à Folha
Sami Barlev, prefeito de Katzrin,
maior assentamento israelense
no Golã, com 7.000 habitantes.
"Por que temos de devolvê-la?"
Porque, argumenta Didi Remez, porta-voz do grupo Paz
Agora, "entregar o Golã é algo relativamente pequeno se comparado à revolução que a paz pode trazer ao Oriente Médio". Ele argumenta que países como Líbano e
Arábia Saudita seguiriam o exemplo sírio no caso de um acordo.
A devolução do Golã, conjunto
de montanhas visto por muitos
como região estratégica para a defesa militar e abastecimento de
água de Israel, é uma precondição
da Síria em troca da paz.
O premiê israelense, Ehud Barak, está disposto a negociar as
colinas, mas não determinou a dimensão nem em que condições se
daria a retirada.
Pesquisas mostram a divisão
que o tema traz à população. Uma
delas, do jornal "Maariv", diz que
46% dos israelenses são contra a
retirada total do Golã, contra 46%
a favor e 8% de indecisos. O "não"
à entrega das colinas vence por
54% a 45% em pesquisa do diário
"Yediot Aharonot".
A batalha pelo Golã começa esta
semana, com manifestações de
grupos rivais nas ruas.
Tanto o Paz Agora quanto o Comitê dos Moradores do Golã planejam acompanhar amanhã o
premiê Ehud Barak em seu trajeto
rumo ao aeroporto, de onde embarca para negociar em Washington com o chanceler da Síria. "Vá
em paz e volte com a paz", dirá o
slogan pacifista.
Ao contrário dos problemas na
Cisjordânia -região cuja devolução aos palestinos sofre oposição
por motivos históricos e religiosos- a disputa pela manutenção
do Golã é menos violenta.
"Devemos lutar com todas nossas forças contra essa situação.
Mas faremos isso de forma democrática, sem violência", diz o prefeito de Katzrin.
Apesar de garantias como essa,
as negociações com a Síria são um
novo foco de tensão numa sociedade cuja divisão interna culminou com o assassinato do premiê
Yitzhak Rabin por um extremista
judeu, em 1995.
O conselho de Katzrin marcou
para hoje a inauguração de um
novo "bairro" no assentamento,
uma medida que tem a intenção
de mostrar que os colonos não
pretendem congelar as construções no Golã durante as negociações com a Síria.
A decisão é vista como provocação pelos pacifistas. O Paz Agora
promete contra-atacar levando
seus 10 mil militantes às ruas e
distribuindo adesivos com a mais
nova palavra de ordem: "A voz da
paz será ouvida nas alturas" (em
hebraico, a frase tem duplo sentido, e quer dizer também "A voz
da paz será ouvida no Golã").
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