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EUROPA
Divergências a respeito de mais de cem pontos da Carta comprometem sucesso da cúpula que começa hoje em Bruxelas
Impasse ameaça a Constituição européia
DA REDAÇÃO
A reunião de cúpula dos países-membros da União Européia
(UE) para aprovar a Constituição
do bloco começa hoje em Bruxelas com perspectivas pequenas de
sucesso. Na véspera do encontro
não faltaram ameaças de veto ao
texto por parte de países temerosos de ter sua soberania enfraquecida com a adoção da Carta.
A obtenção ou não de um consenso na capital belga tem uma
importância que ultrapassa a
aprovação da Constituição: vai indicar se o continente tem condições de construir uma união de
fato ou se está condenado à rotina
de atrasos e meias-voltas a cada
obstáculo do caminho, como vem
acontecendo desde a criação da
União Européia, em 1991.
"Seria quase um milagre", disse
Silvio Berlusconi, premiê da Itália
(país que ocupa a presidência rotativa da UE), sobre a possibilidade de acordo na conferência de
dois dias entre os 15 países-membros e os dez que entrarão para o
bloco em maio de 2004. "Eu não
apostaria nisso [um acordo]. Fizemos progressos, mas ainda há
muita negociação", disse Jack
Straw, chanceler britânico.
A Constituição está sendo adotada com o objetivo de evitar que
sucessivos impasses acabem por
paralisar a União Européia. Pelas
regras atuais, todas as decisões
devem ser aprovadas por unanimidade, o que não é uma tarefa
fácil, considerando-se os diferentes interesses envolvidos.
Com a perspectiva de o quadro
agravar-se ainda mais a partir da
entrada dos dez novos membros,
iniciou-se há quase dois anos a redação de uma Carta que substituísse os tratados que regulam as
relações entre os países europeus
e que criasse mecanismos para facilitar a tomada de decisão.
Polônia e Espanha
A Polônia e a Espanha são os
países que apresentam a maior resistência a um acordo. O texto do
projeto de Constituição, concluído em junho por uma comissão
liderada pelo ex-presidente francês Valery Giscard D'Estaing, reduziu o poder decisório dos dois
países.
Nas áreas em que não estiver
previsto o direito de veto (por
exemplo, educação e política econômica), as propostas vencedoras
serão aquelas que obtiverem o voto da metade dos Estados -desde que, juntos, eles somem mais
de 60% da população da UE.
Pelas regras em vigor hoje, mesmo com populações em torno de
40 milhões, os dois países têm
quase o mesmo número de votos
na UE que a Alemanha, com seus
80 milhões.
"Fomos convidados para uma
partida de futebol. Agora, na hora
de o jogo começar, descobrimos
que querem fazer uma partida de
basquete. Está bastante difícil ver
um acordo", disse o presidente
polonês, Aleksander Kwasniewski, que ameaçou vetar o texto caso
sua posição não prevaleça.
O chanceler (premiê) alemão,
Gerhard Schröder, que se reuniu
ontem com o presidente polonês,
reagiu duramente: "Não se pode
entrar para a União Européia e
iniciar sua participação com um
veto". Kwasniewski devolveu: "Se
a posição alemã é imutável, então
a nossa também é".
Além da questão de como serão
as votações da UE, os países têm
cerca de outras cem disputas em
torno dos 465 artigos da Carta. Há
divergências sérias sobre a amplitude do direito de veto e quanto
ao número de membros votantes
na Comissão Européia.
Países religiosos, como Itália,
Polônia, Espanha e Irlanda, querem incluir no preâmbulo uma
referência a Deus e à tradição cristã européia. "É indispensável que
a Europa de hoje resguarde seu
patrimônio de valores e reconheça que a força capaz de promover
esses valores é o cristianismo",
disse o papa João Paulo 2º.
Com agências internacionais
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