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Maioria, reféns econômicos ficam fora de acordos
JOHANNA CORTÉS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
BOGOTÁ
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
Apenas oito dias depois que
as Farc anunciaram a libertação unilateral de três seqüestrados políticos, o advogado
Gustavo Muñoz, diretor da
Fundação Nova Esperança, entrou nas selvas do Estado de
Caquetá (sudeste) com um grupo de soldados à procura dos
corpos de seis reféns mortos
nas mãos da guerrilha. No dia
27 de dezembro, após um ano
de busca, os cadáveres foram
achados em três fossas comuns
com sinais de espancamento.
Esses seqüestros tinham motivação econômica e, portanto,
sua liberação não era parte de
nenhuma proposta de intercâmbio humanitário. Trata-se,
no entanto, de uma ocorrência
mais comum do que casos como o da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. Segundo dados oficiais, dos cerca de
750 reféns das Farc, apenas 43
são casos políticos e, portanto,
incluídos nas negociações com
o governo colombiano em troca
de 500 guerrilheiros presos.
"É desumano o que fazem as
Farc mas também o que faz o
governo. Nossos familiares não
estiveram nem estarão nas negociações, como se os seqüestrados tivessem mais valor do
que os outros. Na selva, não há
diferença, trato nem distinção
de nenhum tipo porque é militar, negro ou branco", diz
L.G.C., dono de uma fábrica de
sapatos em Bucaramanga (430
km a nordeste de Bogotá).
Em 2004, L.G.C. pagou US$
250 mil pelo resgate do filho,
seqüestrado no ano anterior.
Recebera sete provas de vida,
uma por mês. Com informações de um guerrilheiro desertor, achou a fossa onde estava o
corpo do filho, que sobrevivera
só a oito dias em cativeiro.
"Neste momento, os seqüestrados econômicos têm uma
sentença de morte. O "modus
operandi" das Farc é obrigar os
seqüestrados a gravar provas
de sobrevivência adiantadas
para continuar extorquindo
depois de matar o cativo. Quando as provas acabam, começam
a cobrar até US$ 10 mil para devolver o cadáver", diz Muñoz.
Desde 2000, a Fundação Nova Esperança passou a representar o drama de milhares de
famílias vítimas dos seqüestros
econômicos. Além dos reféns
das Farc, a entidade estima que
haja 550 em poder do ELN
(Exército de Liberação Nacional), enquanto 400 famílias foram extorquidas durante anos
por paramilitares até se descobrir, pela confissão do chefe das
AUC (Autodefesas Unidas da
Colômbia), Salvatore Mancuso,
que todos os reféns haviam sido
assassinados em cativeiro.
As cifras da Fundação falam
de 3.820 cidadãos ainda privados de liberdade, a maioria deles em mãos desconhecidas. Já
a agência estatal Fondelibertad
afirma que são 3.134 reféns.
"Há mais de três anos, pedimos que esses casos sejam incluídos no acordo humanitário.
Em 2005, entregamos junto
com o ex-presidente [Julio César Gomez] Turbay uma proposta ao governo Uribe na qual,
para cada guerrilheiro que saísse da cadeira, fosse entregue
um seqüestrado político e cem
econômicos. Nunca tivemos
resposta", disse Muñoz, que esteve seis meses seqüestrado pelas Farc entre 2001 e 2002 e foi
solto após pagamento de uma
"cifra cujos zeros não cabem na
calculadora".
Embora fora das negociações, a pressão das famílias dos
reféns econômicos conseguiu
aprovar uma lei em 2005 dando
algumas garantias financeiras
às vítimas: as empresas têm de
continuar pagando o salário do
refém à sua família, e os bancos,
dar empréstimos de até US$
100 mil para financiar projetos
na ausência do seqüestrado.
A lei ainda congela o pagamento de serviços públicos, dívidas hipotecárias, impostos e
outras obrigações até que o seqüestrado apareça vivo ou morto -neste caso, a dívida é cancelada. A Fundação estima que 4.000 famílias já tenham se beneficiado dessa lei.
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