São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Maioria, reféns econômicos ficam fora de acordos

JOHANNA CORTÉS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BOGOTÁ

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Apenas oito dias depois que as Farc anunciaram a libertação unilateral de três seqüestrados políticos, o advogado Gustavo Muñoz, diretor da Fundação Nova Esperança, entrou nas selvas do Estado de Caquetá (sudeste) com um grupo de soldados à procura dos corpos de seis reféns mortos nas mãos da guerrilha. No dia 27 de dezembro, após um ano de busca, os cadáveres foram achados em três fossas comuns com sinais de espancamento.
Esses seqüestros tinham motivação econômica e, portanto, sua liberação não era parte de nenhuma proposta de intercâmbio humanitário. Trata-se, no entanto, de uma ocorrência mais comum do que casos como o da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. Segundo dados oficiais, dos cerca de 750 reféns das Farc, apenas 43 são casos políticos e, portanto, incluídos nas negociações com o governo colombiano em troca de 500 guerrilheiros presos.
"É desumano o que fazem as Farc mas também o que faz o governo. Nossos familiares não estiveram nem estarão nas negociações, como se os seqüestrados tivessem mais valor do que os outros. Na selva, não há diferença, trato nem distinção de nenhum tipo porque é militar, negro ou branco", diz L.G.C., dono de uma fábrica de sapatos em Bucaramanga (430 km a nordeste de Bogotá).
Em 2004, L.G.C. pagou US$ 250 mil pelo resgate do filho, seqüestrado no ano anterior. Recebera sete provas de vida, uma por mês. Com informações de um guerrilheiro desertor, achou a fossa onde estava o corpo do filho, que sobrevivera só a oito dias em cativeiro.
"Neste momento, os seqüestrados econômicos têm uma sentença de morte. O "modus operandi" das Farc é obrigar os seqüestrados a gravar provas de sobrevivência adiantadas para continuar extorquindo depois de matar o cativo. Quando as provas acabam, começam a cobrar até US$ 10 mil para devolver o cadáver", diz Muñoz.
Desde 2000, a Fundação Nova Esperança passou a representar o drama de milhares de famílias vítimas dos seqüestros econômicos. Além dos reféns das Farc, a entidade estima que haja 550 em poder do ELN (Exército de Liberação Nacional), enquanto 400 famílias foram extorquidas durante anos por paramilitares até se descobrir, pela confissão do chefe das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), Salvatore Mancuso, que todos os reféns haviam sido assassinados em cativeiro.
As cifras da Fundação falam de 3.820 cidadãos ainda privados de liberdade, a maioria deles em mãos desconhecidas. Já a agência estatal Fondelibertad afirma que são 3.134 reféns.
"Há mais de três anos, pedimos que esses casos sejam incluídos no acordo humanitário. Em 2005, entregamos junto com o ex-presidente [Julio César Gomez] Turbay uma proposta ao governo Uribe na qual, para cada guerrilheiro que saísse da cadeira, fosse entregue um seqüestrado político e cem econômicos. Nunca tivemos resposta", disse Muñoz, que esteve seis meses seqüestrado pelas Farc entre 2001 e 2002 e foi solto após pagamento de uma "cifra cujos zeros não cabem na calculadora".
Embora fora das negociações, a pressão das famílias dos reféns econômicos conseguiu aprovar uma lei em 2005 dando algumas garantias financeiras às vítimas: as empresas têm de continuar pagando o salário do refém à sua família, e os bancos, dar empréstimos de até US$ 100 mil para financiar projetos na ausência do seqüestrado.
A lei ainda congela o pagamento de serviços públicos, dívidas hipotecárias, impostos e outras obrigações até que o seqüestrado apareça vivo ou morto -neste caso, a dívida é cancelada. A Fundação estima que 4.000 famílias já tenham se beneficiado dessa lei.


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