São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


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REDE SOB ATAQUE
Estudioso da ação dos ciberpiratas diz que o objetivo dos ataques é somente conseguir diversão
Hackers navegam entre ética e estética

especial para a Folha, de San Francisco

E se um jovem aluno de universidade confessasse ao professor que é o responsável pelos ataques à Internet? "Acho que teria de chamar a polícia", disse à Folha Brian Harvey, 50, que leciona este semestre implicações sociais dos computadores para estudantes de graduação da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
"Mas, primeiro, eu procuraria entender que motivações psicológicas o levaram a fazer isso. Se, por exemplo, é miseravelmente infeliz, e essa foi a única maneira que encontrou para trazer algum prazer à própria vida, eu não lavaria as mãos, acompanharia o caso, tentando extrair lições e ensinar às pessoas os usos corretos da rede."
Para o pesquisador, é preciso entender o contexto que levou à ação. "Não estou tentando justificar esse ato, só que às vezes a resposta pode ser 20 anos de cadeia, mas também pode ser 20 horas de serviço comunitário."
Harvey, um marxista de rigorosa formação matemática, é autor de um estudo polêmico ("Os Hackers e a Ética"), em que recorria a filósofos como o alemão Immanuel Kant (1724-1804) e o dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) para concluir que os hackers são "estetas, vivendo um conflito entre padrões éticos e impulsos estéticos". Em sua opinião, o hacker de verdade "programa computadores para se divertir, e não por senso de obrigação ou para ganhar dinheiro".
Sobre criar mais mecanismos de segurança na Internet, Harvey encontra um enfoque social. "Quando você põe um cadeado na sua casa, a segurança não está tanto no cadeado, mas numa série de convenções morais e sociais, até porque cadeado nenhum resistiria a um aríete, por exemplo. O ataque da semana passada foi isso, uma espécie de aríete. O que se espera não é aumentar a segurança, mas mostrar às pessoas que está errado arrombar uma casa desse jeito."
E completa: "Claro que se pode melhorar a segurança dos computadores, mas é preciso lembrar que nenhuma solução tecnológica é perfeita".
Fiel à análise marxista, Harvey acha que as principais questões ligadas à rede não são de segurança, mas sim socioeconômicas.
"Nunca houve uma economia assim, erigida com base em absolutamente nada. Na época da Revolução Industrial, por mais terríveis que fossem as condições de trabalho, ao menos havia correspondência entre riqueza monetária e riqueza física. Construíam-se fábricas, criavam-se empregos. Agora, não. As pessoas ficam bilionárias sem gerar renda nem produtos. Quanto tempo isso vai durar? Essa é a verdadeira discussão." (ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR)



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