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REDE SOB ATAQUE
Estudioso da ação dos ciberpiratas diz que o objetivo dos ataques é somente conseguir diversão
Hackers navegam entre ética e estética
especial para a Folha, de San Francisco
E se um jovem aluno de universidade confessasse ao professor
que é o responsável pelos ataques
à Internet? "Acho que teria de
chamar a polícia", disse à Folha
Brian Harvey, 50, que leciona este
semestre implicações sociais dos
computadores para estudantes
de graduação da Universidade da
Califórnia, em Berkeley.
"Mas, primeiro, eu procuraria
entender que motivações psicológicas o levaram a fazer isso. Se,
por exemplo, é miseravelmente
infeliz, e essa foi a única maneira
que encontrou para trazer algum
prazer à própria vida, eu não lavaria as mãos, acompanharia o
caso, tentando extrair lições e ensinar às pessoas os usos corretos
da rede."
Para o pesquisador, é preciso
entender o contexto que levou à
ação. "Não estou tentando justificar esse ato, só que às vezes a resposta pode ser 20 anos de cadeia,
mas também pode ser 20 horas
de serviço comunitário."
Harvey, um marxista de rigorosa formação matemática, é autor
de um estudo polêmico ("Os
Hackers e a Ética"), em que recorria a filósofos como o alemão
Immanuel Kant (1724-1804) e o
dinamarquês Sören Kierkegaard
(1813-1855) para concluir que os
hackers são "estetas, vivendo um
conflito entre padrões éticos e
impulsos estéticos". Em sua opinião, o hacker de verdade "programa computadores para se divertir, e não por senso de obrigação ou para ganhar dinheiro".
Sobre criar mais mecanismos
de segurança na Internet, Harvey
encontra um enfoque social.
"Quando você põe um cadeado
na sua casa, a segurança não está
tanto no cadeado, mas numa série de convenções morais e sociais, até porque cadeado nenhum resistiria a um aríete, por
exemplo. O ataque da semana
passada foi isso, uma espécie de
aríete. O que se espera não é aumentar a segurança, mas mostrar
às pessoas que está errado arrombar uma casa desse jeito."
E completa: "Claro que se pode
melhorar a segurança dos computadores, mas é preciso lembrar
que nenhuma solução tecnológica é perfeita".
Fiel à análise marxista, Harvey
acha que as principais questões ligadas à rede não são de segurança, mas sim socioeconômicas.
"Nunca houve uma economia
assim, erigida com base em absolutamente nada. Na época da Revolução Industrial, por mais terríveis que fossem as condições de
trabalho, ao menos havia correspondência entre riqueza monetária e riqueza física. Construíam-se fábricas, criavam-se empregos.
Agora, não. As pessoas ficam bilionárias sem gerar renda nem
produtos. Quanto tempo isso vai
durar? Essa é a verdadeira discussão."
(ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR)
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