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ENTREVISTA
Líder de extrema direita nega vínculo com nazismo e diz ser temido por romper com establishment europeu
Haider quer imigração zero à Áustria
Associated Press
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O líder do Partido da Liberdade, Joerg Haider, na Província austríaca de Caríntia, que ele governa |
JULIO ALGAÑARAZ
do "Clarín"
"Sou mais popular do que nunca", diz Joerg Haider, dando um
sorriso simpático, como se tudo
não passasse de brincadeira. "Se
houvesse eleições na Áustria amanhã, nosso partido se tornaria o
primeiro do país. Isso não se discute, porque o teatro todo e a atitude lamentável adotada pela Europa só fizeram aumentar minha
popularidade."
São 2h da tarde na sede do governo da Província da Caríntia,
no centro da capital provincial,
Klagenfurt, e o "Clarín" está conversando com o governador caríntio Joerg Haider, líder do Partido da Liberdade, de extrema direita, acusado de neonazismo e
visto como o inimigo público número um da Europa porque os
populistas, que dirige, ocupam
metade dos ministérios do novo
governo austríaco.
Em março do ano passado, Haider foi eleito governador da Caríntia com mais de 40% dos votos.
As sondagens indicam que, se a
eleição fosse hoje, ele a venceria
por maioria absoluta.
No gabinete de Haider, sobre a
grande mesa de trabalho há um
enorme urso marrom claro de pelúcia, ao lado de uma cesta cheia
de garrafas de vinho fino. Leia a
seguir a sua entrevista:
Pergunta - O senhor se tornou
o político mais famoso e comentado da Europa. Isso lhe agrada?
Haider - Divirto-me muito
quando vejo como o presidente
de um partido que tem apenas
27% dos votos de um país pequeno como a Áustria pode meter
tanto medo nos políticos europeus.
Pergunta - E por que o senhor
acha que mete tanto medo e detona tantas polêmicas?
Haider - Não pertenço ao establishment político.
Sou o produto de
uma situação muito específica, como
é a da Áustria. Desde o fim da guerra
os socialistas e
conservadores dividiram o poder
em nosso país.
Criou-se um imobilismo político
praticamente absoluto. Decidiam
nosso destino, o
destino dos cidadãos. Para conseguir emprego, ajuda ou qualquer
coisa é preciso ter a
carteirinha vermelha (social-democrata) ou preta
(dos conservadores cristãos). Essa
vem sendo uma situação muito específica da Áustria. É
isso que viemos
combater.
Pergunta - Mas estamos falando da Europa, onde a reação à
entrada de seu partido no governo tem sido forte.
Haider - Na Europa também
existe um sistema bipartidário
dominante, formado por socialistas e conservadores. Os políticos
europeus temem que a novidade
que representamos provoque a
implosão do establishment e imponha um novo movimento político. Acredito, porém, que as
transformações são inevitáveis e
vão se impor na Europa.
Pergunta - Mas existe um fato
concreto: o medo do senhor. O
medo que as pessoas sentem do
senhor, que a Europa sente.
Haider - Acho que quem tem
medo são os políticos, que estão
fazendo uma Europa sem a participação dos cidadãos. Sou a favor
de uma Europa dos cidadãos; eles
são a favor de uma Europa dos
burocratas. Sou a favor de uma
Europa das pátrias, como queriam Konrad Adenauer e De Gaulle. Não entendo uma Europa em
que as pessoas não tenham como
se expressar e onde não existe
sensibilidade com relação às diferenças de identidade entre os povos que a integram.
Pergunta - O senhor não se
considera um perigo, mas no
passado elogiou a política de
emprego de Hitler e os veteranos das SS (tropas de elite) nazistas.
Haider - Cometi alguns erros no
passado, erros pelos quais já pedi
perdão. Nem eu, nem meu partido temos nada a ver com o nacional-socialismo hitlerista.
Pergunta - O senhor falou a
um jornal israelense que o Holocausto foi o pior crime contra a
humanidade. Apesar disso, os
judeus o temem. O que o senhor
tem a dizer sobre isso?
Haider - Seria preciso perguntar
a eles. Não existe razão nenhuma
para terem medo. Não entendo
isso. Surpreende-me que eles (os
judeus) nunca tenham entrado
em contato comigo. Democracia
significa diálogo, e aquele que teme o diálogo comete erros. Nem o
governo, nem a Embaixada de Israel em Viena tentaram ter uma
conversa comigo. Aquele que é
incapaz de ter um diálogo tampouco é capaz de ser democrata.
Pergunta - Seu partido fez
uma campanha xenófoba. Nas
últimas eleições o líder de seu
partido em Viena usava contra
os imigrantes o termo "infiltração estrangeira", de conotação
nazista. O senhor sabe que agora os estrangeiros que vivem na
Áustria estão com medo do senhor e de seu partido?
Haider - Falamos o que pensávamos sobre o tema da imigração,
enquanto os outros países não
têm coragem de fazê-lo porque
sua política com relação aos estrangeiros é ainda mais dura do
que a nossa. Basta ver as medidas
tomadas pelo ministro socialista
alemão Otto Schily, que quer eliminar os direitos individuais de
asilo. Pode-se imaginar o que
aconteceria na Áustria se Joerg
Haider dissesse algo assim.
Pergunta - O senhor e os ministros de seu partido no novo
governo vão impor uma política
de imigração zero?
Haider - Sim, porque agora a
prioridade é integrar os estrangeiros que já vivem na Áustria. Para
7 milhões de austríacos, há 1 milhão de estrangeiros. Existe uma
histeria total em relação a esse assunto. Não podemos deixar que
uma quantidade descontrolada
de estrangeiros entre neste país
pequeno. Por isso queremos impor uma política de imigração
restritiva.
Pergunta - Mudando de assunto, quais são suas ambições
agora?
Haider - Estou muito satisfeito.
Sempre pensei que minha missão
política era construir um partido
que não pudesse ser ignorado e o
consegui. Queremos reformar o
sistema político, reduzir a concentração de poder e fazer com
que a democracia seja normal na
Áustria. Temos seis ministros no
governo central, a metade do gabinete. Agora meu partido tem
boas chances de fazer um bom
trabalho. Se o conseguirmos, não
me faltará mais nada.
Pergunta - O que o senhor
quer dizer? Está renunciando a
Viena?
Haider - Sim, estou satisfeito em
ser apenas o governador da Caríntia.
Pergunta - E se lhe pedirem
que faça o "sacrifício"?
Haider - Bom, nesse caso serei
chanceler, mas não é esse meu desejo pessoal.
Pergunta - Mas agora o senhor
não está sentindo o peso do
crescente isolamento internacional, sobretudo europeu?
Haider - A Europa cometeu um
grande erro e violou o princípio
da unanimidade das decisões,
com suas sanções contra o novo
governo austríaco. Fomos condenados por algo que não aconteceu, algo que apenas poderia vir a
acontecer no futuro.
Pergunta - O senhor diz que a
Europa vai se envergonhar. Por
que?
Haider - Falei que faremos uma
política que vai envergonhar a todos que condenaram a Áustria de
maneira impensada, usando argumentos que não têm fundamento na realidade. Espero que
todos os políticos que insultaram
a Áustria e meu partido tenham,
no futuro, a coragem de vir nos
pedir desculpas.
Pergunta - Mas a verdade é
que o conflito com os países europeus, mais os EUA, Israel e outros países, tende a se agravar.
A gente se apóia nos amigos.
Quais são seus amigos na Europa? Que partidos apóiam sua
causa?
Haider - Temos cada vez mais
amigos entre os cidadãos europeus. Na Dinamarca cresce um
movimento, inclusive dentro do
governo, porque os dinamarqueses também são um país pequeno
e temem que aconteça com eles o
que está acontecendo com a Áustria.
Pergunta - De que partidos
políticos europeus o senhor se
sente amigo?
Haider - De nenhum. Como eu
já lhe disse, a situação austríaca,
na qual crescemos, é específica.
Pergunta - Mas qual é o exemplo político a seguir?
Haider - Entre os políticos contemporâneos, não tenho nenhum. Se eu tiver que mencionar
alguém, direi que eu gostava da
política e do estilo do primeiro-ministro social-democrata alemão Helmut Schmidt, muito
tempo atrás.
Pergunta - Outro motivo de
discordância entre a maioria
dos países europeus e o novo
governo austríaco é a questão
da ampliação da
União Européia
em direção ao leste. Dos 15 países
atuais, dentro de
alguns anos a UE
passará a ter 20
ou 25. É verdade
que o senhor vê
isso como grave
risco para a Europa?
Haider - A ampliação tem aspectos positivos e negativos. Antes de
levá-la adiante, é
preciso eliminar
os riscos que ela
implica. Um deles
é a abertura do
mercado de trabalho. Se abrirmos
nossas fronteiras
para o leste, nosso
país será invadido
por mão-de-obra
barata e os austríacos perderão seus
empregos.
Pergunta - Que solução o senhor propõe? Eliminar a liberdade de movimento que é a base da União Européia?
Haider - Precisamos conseguir
uma solução no mercado de trabalho antes que a ampliação seja
oficializada. Por exemplo, é preciso nivelar as rendas, e para isso é
preciso um período de transição
longo. Se não o fizermos, haverá
graves conflitos sociais.
Pergunta - Mas isso significa
adiar todo o processo de ampliação, criando grandes problemas políticos. E prejudicaria
a liberdade de movimento das
pessoas, como prevê o Tratado
de Amsterdã. Como o senhor
superaria esse obstáculo?
Haider - A fórmula é que não
haverá um mercado livre de trabalho, mas sim um livre deslocamento de pessoas. Liberdade de
movimento mas não liberdade
para trabalhar, até que se consiga
nivelar as rendas.
Pergunta - E o senhor acha
que os outros 14 países da UE
aceitarão sua idéia?
Haider - Eles estão se dando
conta do problema. Num primeiro momento nos criticaram, mas
agora o Partido Socialista austríaco já pensa como nós. Também o
premiê Wolfang Schuessel (conservador cristão, aliado do partido de Haider) diz que um período
de transição é necessário.
Tradução de Clara Allain
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