São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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AMEAÇA NUCLEAR

Projetos podem ter relação com bomba e não foram revelados à Agência Internacional de Energia Atômica

ONU encontra desenhos nucleares no Irã

DA REDAÇÃO

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) encontrou no Irã desenhos de máquinas que podem ser utilizadas para a produção de material usado em bombas nucleares, colocando em questão a cooperação do país com o órgão, ligado à ONU, segundo fontes diplomáticas. A AIEA não se pronunciou sobre o assunto.
Em Berlim, John Bolton, subsecretário de Estado dos EUA disse que seu país não tem dúvidas de que o Irã busca desenvolver armas nucleares.
Em Roma, o chanceler iraniano, Kamal Kharrazi, disse que o Irã tem o direito de possuir um programa nuclear com fins pacíficos, embora o país tenha grandes reservas petrolíferas. "Podem existir questões por parte dos inspetores da AIEA, mas nós estamos prontos a verificá-las."
Fontes diplomáticas ocidentais disseram que a AIEA encontrou paralelos entre o confesso programa nuclear para fins militares da Líbia e o programa iraniano, que, segundo Teerã, é pacífico.
"Eles compraram as mesmas coisas das mesmas pessoas", disse um diplomata que acompanha de perto o trabalho da AIEA, cuja missão é verificar a aplicação dos tratados de não-proliferação de armas nucleares.
A AIEA, com sede em Viena (Áustria), investiga a existência de um mercado negro nuclear global, com base no Paquistão, que teria ajudado países como o Irã, a Líbia e a Coréia do Norte a comprar tecnologia e, possivelmente, equipamentos para fazer armas nucleares.
Nas próximas semanas, o egípcio Mohamed El Baradei, diretor da AIEA, deve divulgar dois relatórios sobre recentes inspeções feitas no Irã e na Líbia.
Em dezembro passado, a Líbia, asfixiada por sanções políticas e econômicas, abandonou publicamente seu projeto de desenvolver armas nucleares. O país abriu seu território para inspeções e entregou à AIEA e aos EUA informações sobre o seu programa.
Também no ano passado, a Alemanha, o Reino Unido e a França persuadiram o Irã a suspender o enriquecimento de urânio, realizado de forma secreta no país durante 18 anos, e a aceitar inspeções da AIEA em seu território. Em outubro, o país entregou à AIEA uma declaração supostamente completa sobre o seu programa.
Mas, de acordo com outra fonte diplomática, o relatório iraniano não inclui informações sobre os referidos desenhos, que teriam sido encontrados devido ao "bom trabalho de inspeção realizado pela AIEA".
Gary Samore, chefe do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, respeitado centro de pesquisa sobre questões militares baseado em Londres, disse que a descoberta dos desenhos levanta a questão sobre a existência no Irã de uma instalação de enriquecimento de urânio clandestina.
A descoberta dos desenhos pode dar aos EUA munição para apresentar no Conselho de Segurança (CS) da ONU uma moção contra o Irã, acusando o país de esconder informações sobre o seu programa nuclear.

Possíveis sanções
O Conselho de Segurança, do qual o Brasil faz parte como membro provisório (sem direito a veto), poderia impor sanções econômicas e diplomáticas ao país.
O Irã sustenta que seu programa nuclear tem fins puramente pacíficos, de produção de energia. Mas os EUA acusam o país de desenvolver armas nucleares.
Além do Irã, a Coréia do Norte também possui um programa nuclear em andamento. É provável que o país já possua algumas bombas atômicas. O governo norte-coreano admite abandonar o projeto desde que os EUA assinem um tratado bilateral de não-agressão e se comprometam a ajudar o país economicamente.
Diversos países do mundo, entre eles o Brasil, possuem programas nucleares para fins civis.
Mas só oito possuem arsenal atômico: EUA, Rússia, China, Reino Unido, França, Israel, Índia e Paquistão.
Tratados internacionais negociados no âmbito da ONU proíbem que outros países desenvolvam armas desse tipo.
Os EUA temem que grupos terroristas adquiram armas de destruição em massa e as utilizem em atentados. Anteontem, o presidente George W. Bush pediu que a comunidade internacional adote medidas para impedir a venda ilegal de tecnologia nuclear e a proliferação de armas nucleares.
A Rússia, que ajuda o Irã a construir uma instalação nuclear (Bushehr), está perto de fechar um acordo de venda de combustível nuclear ao país. Os EUA já manifestaram sua oposição, mas as autoridades russas dizem que sua parceria com o Irã na área nuclear tem fins puramente civis.


Com agências internacionais


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