São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VENEZUELA

Conselho eleitoral alega ter detectado fraude; atraso frustra oposição, que promete realizar manifestação amanhã

CNE adia decisão do referendo anti-Chávez

DA REDAÇÃO

Sob duras críticas da oposição, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) informou que foram detectados sinais de fraude no pedido de um referendo para abreviar o mandato do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Por esse motivo, alega o órgão, a decisão, prevista para hoje, agora pode levar até mais duas semanas.
O conselheiro Jorge Rodríguez disse que foi separado um número não revelado de assinaturas para serem revisadas. Segundo ele, o CNE "está fazendo todo o possível" para anunciar a decisão até o final deste mês.
Rodríguez disse que milhares de planilhas de assinaturas podem ser descartadas porque a informação pessoal básica fora preenchida pelos funcionários da oposição, que, em seguida, pediam aos eleitores que assinassem.
Irritados com a demora, líderes da oposição planejam fazer amanhã uma grande passeata diante da sede do CNE, onde dezenas de chavistas já estão acampados.
Ontem, a oposição realizou protestos pequenos em Caracas e em outras quatro cidades.
O Departamento de Estado dos EUA advertiu seus cidadãos no país de que "manifestações políticas com risco de violência" podem ocorrer a partir de hoje.
Há quase dois meses, os oposicionistas entregaram centenas de caixas ao CNE, que conteriam 3,4 milhões de assinaturas apoiando a realização de um referendo para encurtar o mandato de Chávez, que vai até 2007. O exigido pela Constituição é que ao menos 20% do eleitorado assine a petição (cerca de 2,4 milhões de eleitores).
O trabalho de verificação está sendo acompanhado por observadores da Organização dos Estados Americanos e do Centro Carter, ONG ligada ao ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-81).
Se o CNE aprovar o referendo, terá 97 dias para realizar a consulta. Caso Chávez perca a votação, novas eleições terão de ser convocadas em 30 dias.
Apesar de prometer respeitar a decisão do CNE, a oposição tem acusado o órgão de favorecer Chávez. Os cinco membros do conselho foram indicados pela Suprema Corte após disputas entre governistas e oposicionistas terem inviabilizado a escolha pela Assembléia Nacional. Os membros da corte foram todos indicados pelo governo de Chávez.

"Evento midiático"
O vice-presidente José Vicente Rangel disse ontem que o país está calmo e que o clima de tensão e temores de violência são "midiáticos", em alusão à imprensa do país, com a qual o governo vive uma relação tumultuada.
"Não podemos criar um clima midiático", disse Rangel, que pediu à população que "não se deixe enganar, pois há gente que estimula manifestações para usar as pessoas como bucha de canhão".
Rangel acusou setores da oposição de querer provocar um clima propício a uma "terceira aventura", em alusão ao fracassado golpe contra Chávez, em abril de 2002, e à greve geral de dezembro de 2002 a fevereiro de 2003.
Ontem, chavistas e oposicionistas voltaram a trocar acusações pesadas. Do exílio na Costa Rica, o sindicalista Carlos Ortega acusou Chávez de "ser mandado" pelo ditador cubano, Fidel Castro, e pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Em Caracas, deputados chavistas acusaram um governador oposicionista de contrabandear armas da Áustria "para gerar violência no país". Ele negou.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Mídia: Harvard vai ter revista com alunas sem roupa
Próximo Texto: Terror: British Airways cancela vôo a Washington
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.