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CHILE
Decisão de Juan Guzmán, que há 6 semanas ordenara sua prisão domiciliar, deverá ser ratificada hoje pela Corte de Apelações
Juiz concede liberdade provisória a Pinochet
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O juiz chileno Juan Guzmán Tapia, que há seis semanas havia ordenado a prisão domiciliar do ex-ditador Augusto Pinochet (1973-1990), concedeu ontem a liberdade provisória mediante o pagamento de fiança. A decisão deverá
ser ainda ratificada pela Corte de
Apelações de Santiago.
Guzmán tomou a decisão sem
que houvesse um pedido da defesa de Pinochet, que cumpre prisão domiciliar desde 31 de janeiro
em sua propriedade de veraneio
em Los Boldos de Bucalemu, a 130
km de Santiago.
A ordem foi resultado de uma
decisão da Corte de Apelações,
anunciada na quinta-feira, na
qual as acusações contra Pinochet, 85, foram rebaixadas, de
"autor intelectual" da morte ou
desaparecimento de 75 presos políticos, para "acobertador" dos
crimes.
Pinochet responde ao processo
pelas mortes e desaparecimentos
ocorridos no episódio conhecido
como Caravana da Morte, um
mês após o golpe militar contra o
presidente socialista Salvador
Allende, em 1973.
Uma comitiva militar percorreu
diversas cidades chilenas sequestrando e fuzilando opositores do
novo regime. Esses crimes não estão cobertos pela lei de anistia de
1978, segundo uma decisão da Suprema Corte chilena.
Em sua decisão de ontem, Guzmán estipulou uma fiança de 2
milhões de pesos (R$ 6.460).
A decisão foi comemorada pela
defesa de Pinochet. "Era exatamente a atitude que esperávamos", afirmou o advogado Gustavo Collao, chefe da equipe de defensores do ex-ditador.
"É um ótimo sinal sobre o que
nos espera após a última decisão,
na qual eles analisaram os argumentos da defesa e decidiram, finalmente, reduzir as acusações",
afirmou o general da reserva Guillermo Garín, porta-voz de Pinochet. "Essa decisão nos dá esperança de que esse processo judicial será concluído logo."
Já a acusação protestou contra a
possibilidade de Pinochet receber
a liberdade provisória. "Ela é inoportuna, porque ainda resta uma
série de passos importantes a serem seguidos", afirmou o advogado Hugo Gutiérrez.
Entre as pendências, Gutiérrez
mencionou uma possível acareação entre Pinochet e o general da
reserva Sergio Arellano Stark, que
comandou a Caravana da Morte e
disse que recebia ordens do ex-ditador.
Segundo ele, a acusação apresentará seus argumentos contra a
libertação de Pinochet quando a
Corte de Apelações analisar a decisão de Guzmán.
Razões de saúde
A determinação do juiz deverá
ser analisada ainda hoje pela 5ª
Vara da Corte de Apelações de
Santiago.
Esta é a mesma vara que deverá
analisar, daqui a cerca de um mês,
se o processo deverá ser suspenso
por razões de saúde. Os advogados de Pinochet alegam que o ex-ditador está muito velho e doente
para enfrentar um julgamento.
Em janeiro, Pinochet foi submetido a exames médicos e psiquiátricos que indicaram que ele
sofre de uma "demência vascular
cerebral leve a moderada", em decorrência de pequenos derrames,
mas que não comprometem sua
capacidade de raciocínio e julgamento.
Fontes ligadas à defesa haviam
afirmado que não tinham a intenção de pedir a liberdade provisória do general Pinochet enquanto
não conhecessem o resultado do
recurso baseado em razões de
saúde.
Guzmán justificou sua decisão
de ontem alegando que a liberdade provisória de Pinochet não traz
ameaças à sociedade ou às investigações sobre os supostos crimes
cometidos por ele.
"Por estimar este tribunal que a
liberdade provisória de Augusto
José Ramón Pinochet Ugarte não
constitui perigo para a sociedade
nem para os ofendidos, nem pode
afetar o êxito da investigação, e
em conformidade com o artigo
361 do Código de Processo Penal,
conceda-se o benefício da liberdade provisória ao general Pinochet
Ugarte sob fiança que se regula na
soma de 2 milhões de pesos", diz
o texto da resolução de Guzmán
em seu parágrafo principal.
Juan Guzmán é o responsável
pela investigação de mais de 200
ações contra Pinochet por violações aos direitos humanos durante seu governo.
De acordo com os números oficiais, 3.197 pessoas -incluindo
173 membros das forças de segurança do Estado- foram assassinadas durante a ditadura.
Pinochet já havia cumprido 503
dias de prisão domiciliar em Londres, entre 1998 e 2000, enquanto
aguardava a análise de um pedido
de extradição feito pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, que queria
julgá-lo na Espanha por genocídio. O governo britânico acabou
negando o pedido de extradição e
autorizou a volta de Pinochet ao
Chile em março do ano passado,
alegando razões humanitárias,
por causa do estado de saúde do
ex-ditador.
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