São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2001

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JUSTIÇA

Fujimori pode ser acusado por supostas execuções na ação de 97 em Lima

Peru revê liberação de embaixada

Associated Press
Policial vigia corpo exumado de rebelde do MRTA, em Lima


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Uma promotora peruana liderou ontem a exumação dos cadáveres de quatro rebeldes esquerdistas que participaram da invasão da Embaixada do Japão em Lima, para determinar se alguns deles foram fuzilados logo após se renderem, em operação militar de resgate ocorrida em 1997.
Se isso for comprovado, o ex-presidente Alberto Fujimori poderia ser acusado de delito de homicídio qualificado e de abuso de autoridade junto com seu ex-assessor Vladimiro Montesinos, que está foragido, segundo denúncia feita pelos familiares dos mortos e pela Aprodeh (Associação Pró-Direitos Humanos).
O primeiro corpo exumado num cemitério do bairro de Comas, norte de Lima, foi o de uma pessoa não identificada, que tinha dois buracos de bala na testa e outro na perna esquerda, de acordo com o procurador público Ronald Gamarra.
Familiares dos mortos estiveram presentes à exumação e criticaram a atuação de Fujimori e Montesinos na operação militar. "Fujimori e Montesinos, criminosos e assassinos", gritaram os familiares durante a exumação dos cadáveres.
Em dezembro de 1996, um grupo armado pertencente ao Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) tomou reféns no prédio da Embaixada do Japão em Lima, numa ação que durou 126 dias.
O sequestro terminou em 22 de abril de 1997, quando tropas de elite do Exército peruano libertaram os reféns numa operação em que morreram 1 dos 72 cativos, dois militares e 14 integrantes do grupo rebelde MRTA.
A operação de resgate foi comandada pelo então presidente do Peru, Fujimori, por seu ex-assessor Montesinos, que comandava informalmente os serviços de inteligência do país, e pelo então presidente do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru, o general da reserva Nicolás Hermoza, que também foi mencionado na denúncia feita pelos familiares das vítimas e pela Aprodeh.
A exumação foi feita em dois cemitérios localizados na periferia de Lima, acatando ordem expedida pela promotora Flor de María Alva, que comanda as investigações se baseando nas denúncias feitas pelos familiares das vítimas. Segundo eles, ao menos três pessoas foram executadas extrajudicialmente após a rendição.

Ex-refém japonês
O segundo corpo exumado foi o de Eduardo Cruz Chávez, que era conhecido como "camarada Tito" pelos membros do MRTA. De acordo com um ex-refém, o cidadão japonês Hidetaka Ogura, professor universitário, Tito estava vivo ao entregar-se às forças de elite do Exército peruano.
Na semana passada, Ogura confirmou essa informação em entrevista a uma rádio de Lima e afirmou que, além de Tito, viu uma mulher entregar-se com vida. Ela era chamada de Cíntia por seus companheiros do MRTA.
Ogura disse estar disposto a repetir seu testemunho a algum promotor peruano que se disponha a viajar a Tóquio ou a um funcionário da Embaixada do Peru no Japão.
O ex-refém também declarou que um ex-ministro peruano, que também foi mantido como refém na Embaixada do Japão em Lima e que visitou o Japão mais tarde, confessou a um funcionário do Ministério das Relações Exteriores do Japão que havia visto vários rebeldes vivos.
A declaração de Ogura, além de outros testemunhos, permitiram que a denúncia contra Fujimori, Montesinos e o general Hermoza fosse apresentada.
Glória Cano, advogada dos familiares dos membros do MRTA que morreram na ação militar, afirmou que, se for comprovado que houve execuções extrajudiciais, Fujimori será responsável por crimes contra a humanidade.
Com isso, ele poderá ser julgado em qualquer parte do mundo, incluindo o Japão, onde o ex-presidente está vivendo desde novembro passado.
Susana Villarán, ministra da Mulher e do Desenvolvimento Humano do Peru, disse que, se realmente forem considerados como supostos culpados, Fujimori, Montesinos e o general Hermoza poderão ser julgados por um tribunal internacional.


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