São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2001

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AFEGANISTÃO

Unesco descreve ação como "crime contra a cultura"; Taleban diz que "não foi tão fácil quanto as pessoas pensam"

ONU confirma destruição de Budas gigantes

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) confirmou ontem a destruição das estátuas gigantes de Buda no centro do Afeganistão, que descreveu como "um crime contra a cultura".
O diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, disse que seu enviado especial, o diplomata francês Pierre Lafrance, informou-lhe que o grupo extremista islâmico Taleban havia destruído as estátuas pré-islâmicas apesar dos apelos internacionais e das ofertas de diversos museus e países para comprar ou guardar as relíquias.
"O Taleban cometeu um crime contra a cultura. É abominável testemunhar a destruição fria e calculada de patrimônios culturais que integram a herança do povo afegão e, de fato, do mundo inteiro", disse Matsuura.
O grupo extremista -que controla 90% do país e é reconhecido como governo apenas por Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos- diz ter se baseado na condenação islâmica à adoração de ídolos, embora o país não tenha população budista, para ordenar a destruição das estátuas.
"O Taleban ignorou a mobilização internacional sem precedentes e a advertência contra a decisão, espontaneamente emitida pelas mais altas autoridades do islamismo", afirmou Matsuura.
Uma delegação da Organização da Conferência Islâmica (OCI) deixou a cidade de Kandahar (sul do país) ontem, depois que negociações de dois dias com o Taleban não obtiveram resultados práticos. A OCI disse que a destruição das estátuas era contrária ao islamismo.
No fim-de-semana, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reuniu-se no Paquistão com Ahmad Muttawakil, ministro das Relações Exteriores do Taleban, para tentar interromper a destruição dos Budas, mas o grupo rejeitou seu pedido.
Segundo a agência oficial afegã "AIP", o Taleban utilizou dinamite para destruir os Budas, esculpidos há mais de 1.500 anos. Um deles, de 53 metros de altura, era o maior Buda em pé do mundo.
Antes da declaração da Unesco, não havia confirmação independente da situação das duas estátuas gigantes de Buda em Bamiyan (centro do Afeganistão), pois o Taleban proibiu o acesso à região. Nos últimos dias, fontes do Taleban deram informações contraditórias sobre os Budas. A TV CNN exibiu uma foto ontem mostrando a destruição.
A ordem para destruir todas as estátuas pré-islâmicas foi dada pelo líder supremo do Taleban, Mohamad Omar, há duas semanas: "Apenas Allah deve ser venerado, e as estátuas devem ser destruídas para que não sejam adoradas nem agora nem no futuro".
O Afeganistão tornou-se majoritariamente muçulmano por volta do século 8º. Mas tem muitas relíquias da era pré-islâmica, quando era passagem de budistas da Índia e da China, que construíram vários locais de peregrinação.
O ministro da Informação e da Cultura do Taleban, Qudratullah Jamal, disse que destruir os Budas "não foi tão fácil".
"O trabalho de destruição não é tão fácil quanto as pessoas pensam. Não se pode derrubar as estátuas com dinamite ou bombardeios, pois elas foram esculpidas em um rochedo, estão firmemente ligadas à montanha", afirmou.
Em Paris, associações de direitos humanos protestaram contra a situação da mulher no Afeganistão, onde não podem trabalhar, estudar, tomar um táxi sozinhas nem ir a hospitais sem médicas.



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