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AFEGANISTÃO
Unesco descreve ação como "crime contra a cultura"; Taleban diz que "não foi tão fácil quanto as pessoas pensam"
ONU confirma destruição de Budas gigantes
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura) confirmou
ontem a destruição das estátuas
gigantes de Buda no centro do
Afeganistão, que descreveu como
"um crime contra a cultura".
O diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, disse que seu enviado especial, o diplomata francês Pierre Lafrance, informou-lhe
que o grupo extremista islâmico
Taleban havia destruído as estátuas pré-islâmicas apesar dos apelos internacionais e das ofertas de
diversos museus e países para
comprar ou guardar as relíquias.
"O Taleban cometeu um crime
contra a cultura. É abominável
testemunhar a destruição fria e
calculada de patrimônios culturais que integram a herança do
povo afegão e, de fato, do mundo
inteiro", disse Matsuura.
O grupo extremista -que controla 90% do país e é reconhecido
como governo apenas por Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos- diz ter se
baseado na condenação islâmica
à adoração de ídolos, embora o
país não tenha população budista,
para ordenar a destruição das estátuas.
"O Taleban ignorou a mobilização internacional sem precedentes e a advertência contra a decisão, espontaneamente emitida
pelas mais altas autoridades do islamismo", afirmou Matsuura.
Uma delegação da Organização
da Conferência Islâmica (OCI)
deixou a cidade de Kandahar (sul
do país) ontem, depois que negociações de dois dias com o Taleban não obtiveram resultados
práticos. A OCI disse que a destruição das estátuas era contrária
ao islamismo.
No fim-de-semana, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan,
reuniu-se no Paquistão com Ahmad Muttawakil, ministro das
Relações Exteriores do Taleban,
para tentar interromper a destruição dos Budas, mas o grupo rejeitou seu pedido.
Segundo a agência oficial afegã
"AIP", o Taleban utilizou dinamite para destruir os Budas, esculpidos há mais de 1.500 anos. Um deles, de 53 metros de altura, era o
maior Buda em pé do mundo.
Antes da declaração da Unesco,
não havia confirmação independente da situação das duas estátuas gigantes de Buda em Bamiyan (centro do Afeganistão), pois
o Taleban proibiu o acesso à região. Nos últimos dias, fontes do
Taleban deram informações contraditórias sobre os Budas. A TV
CNN exibiu uma foto ontem
mostrando a destruição.
A ordem para destruir todas as
estátuas pré-islâmicas foi dada
pelo líder supremo do Taleban,
Mohamad Omar, há duas semanas: "Apenas Allah deve ser venerado, e as estátuas devem ser destruídas para que não sejam adoradas nem agora nem no futuro".
O Afeganistão tornou-se majoritariamente muçulmano por volta do século 8º. Mas tem muitas
relíquias da era pré-islâmica,
quando era passagem de budistas
da Índia e da China, que construíram vários locais de peregrinação.
O ministro da Informação e da
Cultura do Taleban, Qudratullah
Jamal, disse que destruir os Budas
"não foi tão fácil".
"O trabalho de destruição não é
tão fácil quanto as pessoas pensam. Não se pode derrubar as estátuas com dinamite ou bombardeios, pois elas foram esculpidas
em um rochedo, estão firmemente ligadas à montanha", afirmou.
Em Paris, associações de direitos humanos protestaram contra
a situação da mulher no Afeganistão, onde não podem trabalhar,
estudar, tomar um táxi sozinhas
nem ir a hospitais sem médicas.
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