São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2001

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Saiba mais sobre o grupo extremista Taleban

BRUNO PHILIP
DO "LE MONDE"

Mais uma vez o grupo extremista Taleban, que controla mais de 90% do território do Afeganistão, demonstra um extremismo sem equivalência no movimento islâmico mundial.
A questão dos Budas gigantes de Bamiyan e a ordem do líder supremo do grupo, Mohamad Omar, para que os afegãos destruam o patrimônio pré-islâmico do Afeganistão são apenas algumas características do fenômeno Taleban.
O surgimento do Taleban ("estudantes", na língua pashtu) no Afeganistão não é uma aberração da história. Representa a conclusão de um processo que se iniciou em 1978, com o golpe de Estado comunista, continuou no ano seguinte com a invasão dos soviéticos e evoluiu para uma guerra civil entre os afegãos que combateram o Exército da URSS.
Mas o que é o grupo Taleban, que apareceu no cenário afegão em 1994? A princípio, seus líderes saíram de partidos tradicionalistas das regiões de etnia pashtu, no sul do país. O principal deles, Omar, perdeu um olho durante a guerra contra os soviéticos, antes de se autoproclamar "comandante dos crentes" e líder supremo do grupo.
Esses partidos pashtu da resistência se destacam da nebulosa de combatentes da "guerra santa" que lutam por uma revolução islâmica com alguma parcela de modernidade. O Taleban, que recruta exclusivamente religiosos, compõe-se de discípulos de uma escola de pensamento fundada na Índia no final do século 19 e que defende uma leitura estrita, sem alterações motivadas pelo tempo, da mensagem corânica: a escola dos deobanditas.
A maioria dos membros do Taleban veio de escolas corânicas instaladas no Paquistão. Essas escolas proliferaram durante os anos da ocupação soviética (1979-1989). Devido à presença soviética, 5 milhões de afegãos abandonaram o país. Mais de 3 milhões de refugiados afegãos se instalaram em território paquistanês.
Quando deixavam os campos, os jovens afegãos, vindos frequentemente das áreas mais pobres das regiões pashtus, tornavam-se presas fáceis de um discurso muito simples, o dos defensores de uma ortodoxia ilimitada.

Ascensão ao poder
Por que e como chegaram ao poder? A guerra civil havia sido tão ampla que os "estudantes" tiveram apenas de preencher o vácuo político de um país dilacerado. Sua ascensão ao poder foi incrível. Tomaram Cabul (capital afegã) em dois anos e conquistaram quase todo o país dois anos mais tarde, confinando o velho inimigo Massoud no nordeste.
Diferentes grupos os seguiram: ex-combatentes de outros partidos da resistência, antigos membros do Partido Comunista, monarquistas etc.
Em geral, os jovens combatentes eram acolhidos como libertadores pelos afegãos. É verdade que restabeleceram a segurança quando tomaram o poder, mas o regime dos "mujahiddin" (combatentes), desacreditado e corrompido, perdeu o apoio da população.
É preciso lembrar que, em 1996, chancelarias européias e dos EUA comemoraram a vitória do Taleban, que, acreditavam, restabeleceria a ordem no Afeganistão. Não é segredo que Washington deu luz verde ao Paquistão, seu aliado, para ajudar a instalar o Taleban em Cabul.
Outra explicação, determinante, do sucesso do Taleban é o engajamento da Arábia Saudita e do Paquistão, devido à intenção de Riad e de Islamabad de utilizar a causa dos extremistas em seu benefício.
A Arábia Saudita, que se sentiu "traída" quando parte de seus aliados guerrilheiros se opuseram à Guerra do Golfo (1991) e os bombardeios contra o Iraque, vê no Taleban, cuja prática religiosa se assemelha à corrente religiosa saudita (o wahabismo), uma forma de combater o Irã. O Taleban é composto de militantes muçulmanos sunitas, que se opõem aos religiosos muçulmanos xiitas de Teerã.


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