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Saiba mais sobre o grupo extremista Taleban
BRUNO PHILIP
DO "LE MONDE"
Mais uma vez o grupo extremista Taleban, que controla mais
de 90% do território do Afeganistão, demonstra um extremismo
sem equivalência no movimento
islâmico mundial.
A questão dos Budas gigantes
de Bamiyan e a ordem do líder supremo do grupo, Mohamad
Omar, para que os afegãos destruam o patrimônio pré-islâmico
do Afeganistão são apenas algumas características do fenômeno
Taleban.
O surgimento do Taleban ("estudantes", na língua pashtu) no
Afeganistão não é uma aberração
da história. Representa a conclusão de um processo que se iniciou
em 1978, com o golpe de Estado
comunista, continuou no ano seguinte com a invasão dos soviéticos e evoluiu para uma guerra civil entre os afegãos que combateram o Exército da URSS.
Mas o que é o grupo Taleban,
que apareceu no cenário afegão
em 1994? A princípio, seus líderes
saíram de partidos tradicionalistas das regiões de etnia pashtu, no
sul do país. O principal deles,
Omar, perdeu um olho durante a
guerra contra os soviéticos, antes
de se autoproclamar "comandante dos crentes" e líder supremo do
grupo.
Esses partidos pashtu da resistência se destacam da nebulosa de
combatentes da "guerra santa"
que lutam por uma revolução islâmica com alguma parcela de
modernidade. O Taleban, que recruta exclusivamente religiosos,
compõe-se de discípulos de uma
escola de pensamento fundada na
Índia no final do século 19 e que
defende uma leitura estrita, sem
alterações motivadas pelo tempo,
da mensagem corânica: a escola
dos deobanditas.
A maioria dos membros do Taleban veio de escolas corânicas
instaladas no Paquistão. Essas escolas proliferaram durante os
anos da ocupação soviética (1979-1989). Devido à presença soviética, 5 milhões de afegãos abandonaram o país. Mais de 3 milhões
de refugiados afegãos se instalaram em território paquistanês.
Quando deixavam os campos,
os jovens afegãos, vindos frequentemente das áreas mais pobres das regiões pashtus, tornavam-se presas fáceis de um discurso muito simples, o dos defensores de uma ortodoxia ilimitada.
Ascensão ao poder
Por que e como chegaram ao
poder? A guerra civil havia sido
tão ampla que os "estudantes" tiveram apenas de preencher o vácuo político de um país dilacerado. Sua ascensão ao poder foi incrível. Tomaram Cabul (capital
afegã) em dois anos e conquistaram quase todo o país dois anos
mais tarde, confinando o velho
inimigo Massoud no nordeste.
Diferentes grupos os seguiram:
ex-combatentes de outros partidos da resistência, antigos membros do Partido Comunista, monarquistas etc.
Em geral, os jovens combatentes eram acolhidos como libertadores pelos afegãos. É verdade
que restabeleceram a segurança
quando tomaram o poder, mas o
regime dos "mujahiddin" (combatentes), desacreditado e corrompido, perdeu o apoio da população.
É preciso lembrar que, em 1996,
chancelarias européias e dos EUA
comemoraram a vitória do Taleban, que, acreditavam, restabeleceria a ordem no Afeganistão.
Não é segredo que Washington
deu luz verde ao Paquistão, seu
aliado, para ajudar a instalar o Taleban em Cabul.
Outra explicação, determinante, do sucesso do Taleban é o engajamento da Arábia Saudita e do
Paquistão, devido à intenção de
Riad e de Islamabad de utilizar a
causa dos extremistas em seu benefício.
A Arábia Saudita, que se sentiu
"traída" quando parte de seus
aliados guerrilheiros se opuseram
à Guerra do Golfo (1991) e os
bombardeios contra o Iraque, vê
no Taleban, cuja prática religiosa
se assemelha à corrente religiosa
saudita (o wahabismo), uma forma de combater o Irã. O Taleban é
composto de militantes muçulmanos sunitas, que se opõem aos
religiosos muçulmanos xiitas de
Teerã.
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