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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Proposta visa persuadir indecisos; nova resolução precisa só de mais um voto para ser aprovada, diz CNN

Reino Unido faz novas exigências a Bagdá

Jonathan Buckmaster/France Presse
Fuzileiros navais britânicos se exercitam a bordo do porta-helicópteros HMS Ocean, enquanto a embarcação navega pelo golfo Pérsico


DA REDAÇÃO

O Reino Unido propôs ontem o estabelecimento de novas condições que deveriam ser cumpridas pelo regime do ditador iraquiano, Saddam Hussein, para evitar a guerra, no que parece constituir um último esforço para obter a aprovação da ONU à ação militar. Mas os EUA reiteraram que o tempo das negociações diplomáticas está acabando.
A Casa Branca afirmou que a medida é bem-vinda, mas não endossou a proposta britânica, que, segundo analistas, é a última cartada do campo pró-guerra para tentar resolver a crise diplomática. A resolução (modificada) deverá ser votada hoje ou amanhã.
Anteontem, o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, chegou a dizer que o país poderia ir à guerra sem o Reino Unido. Ele se retratou mais tarde.
A proposta do Reino Unido visa convencer os seis países do Conselho de Segurança da ONU (CS) que ainda estão indecisos. Eles são: o Paquistão, o México, o Chile, a Guiné, Angola e Camarões.
Segundo a rede americana CNN, que ouviu dois funcionários graduados do Departamento de Estado dos EUA, a administração do presidente George W. Bush crê já contar com oito votos favoráveis à nova resolução. Ainda de acordo com a mesma fonte, os três países africanos e o Paquistão já decidiram apoiar o texto.
Anteontem, porém, o governo do Paquistão afirmou que iria abster-se na votação da nova resolução, pois achava "muito difícil" apoiar a guerra. Islamabad, como os outros cinco indecisos, não se pronunciou sobre a informação divulgada pela CNN nem sobre a proposta britânica.
Para obter a aprovação de uma resolução no CS, são necessários 9 dos 15 votos e nenhum veto. O texto que abriria caminho para a guerra contra o regime iraquiano já conta com o apoio de quatro membros do CS: os EUA, o Reino Unido, a Espanha e a Bulgária.
A Rússia e a França já disseram que vetarão qualquer texto que aprove uma ação militar. Os dois países, como boa parte da comunidade internacional, insistem na necessidade de dar mais tempo aos inspetores de armas da ONU que trabalham no Iraque.
A proposta britânica diz que Saddam deverá admitir, na TV iraquiana, que tem armas de destruição em massa e que desarmará totalmente seu país. Segundo especialistas em Iraque, essa exigência já deverá causar problemas, visto que o ditador dificilmente aceitaria acatar ordens ocidentais em rede nacional de TV.
Além disso, os britânicos exigem que o regime iraquiano diga à ONU onde estão seus estoques de antraz e de outras armas químicas, além de comprometer-se a destruí-los. O Iraque deverá ainda permitir que 30 de seus cientistas viajem -acompanhados de suas famílias- para Chipre, onde poderiam ser interrogados com segurança. Saddam também deverá prometer que destruirá seus laboratórios móveis de produção de armas biológicas.
O Reino Unido ainda exige que Saddam admita possuir uma aeronave não tripulada com capacidade para transportar armas de destruição em massa e que o ditador iraquiano se comprometa a destruir todos os seus mísseis com alcance superior ao limite de 150 km estabelecido pela ONU.
Especialistas dizem que, mesmo que a nova proposta sirva para convencer os indecisos, o texto deverá ser vetado por Rússia e França, que arcariam com o peso de vetar uma decisão da maioria.
A ministra das Relações Exteriores da Espanha, Ana Palacio, chegou a dizer ontem que a resolução talvez nem fosse votada, pois seria vetada. Mas Madri rejeitou a afirmação da ministra.
O comissário de Relações Exteriores da União Européia, Chris Patten, disse que o bloco poderá não ajudar a financiar a reconstrução do Iraque após a guerra se a ofensiva militar não tiver a aprovação da ONU.

Rendição
Segundo a CNN, funcionários graduados do governo dos EUA disseram que os americanos já conversaram com alguns militares iraquianos, visando persuadi-los a render-se antes do início do conflito. Com isso, eles poderiam beneficiar-se de uma anistia, de acordo com a mesma fonte.
Segundo especialistas, essa é uma possibilidade que não pode ser descartada porque os líderes militares iraquianos não são todos fiéis a Saddam Hussein.

Com agências internacionais


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